Após reunião com Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do comitê organizador local (COL) da Copa do Mundo de 2014, autoridades de São Paulo ratificaram nesta segunda-feira que a cidade usará na competição o estádio que o Corinthians pretende erguer em Itaquera, bairro da zona leste do município. O modelo de negócio e financiamento da obra, contudo, segue sendo um mistério.
O problema é que São Paulo é a cidade escolhida pelo COL para abrir a Copa do Mundo de 2014. Para tanto, precisa ter uma arena com capacidade para 65 mil espectadores e um aparato externo maior do que outras cidades. E o projeto que o Corinthians apresentou não contempla isso.
O Corinthians trabalha com um orçamento de R$ 400 milhões para construir um estádio de 48 mil lugares. O clube terá parceria da empreiteira Odebrecht, que deve tomar empréstimo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – a entidade financeira liberou uma linha de crédito de até R$ 400 milhões para arenas que serão usadas na Copa do Mundo.
A conta que a diretoria do Corinthians faz é que o projeto precisará obter algo entre R$ 120 milhões ou R$ 200 milhões para fazer o excedente da obra e ter um estádio que comporte ao menos 65 mil pessoas. O clube já disse inúmeras vezes que não pretende assumir esse custo. O comitê de São Paulo para a Copa do Mundo e o COL também rechaçaram a hipótese de pagar a diferença.
Outro entrave é a modelagem financeira. No caso dos primeiros R$ 400 milhões, o Corinthians cedeu à Odebrecht o direito de explorar comercialmente o nome do estádio a fim de conseguir recuperar o dinheiro investido na obra. Não existe ideia semelhante para o excedente.
Diante de tudo isso, o principal resultado prático da reunião realizada nesta segunda-feira foi uma mudança de relação das entidades atreladas ao projeto da Copa do Mundo com o governo de São Paulo. Havia um desgaste em função da postura de Alberto Goldman (PSDB), que assumiu o cargo quando José Serra se licenciou para concorrer à presidência da República.
Goldman foi o dirigente que mais trabalhou para evitar que esferas públicas assumissem gastos com o estádio da Copa do Mundo. Também foi um dos principais defensores do Morumbi, arena do São Paulo que originalmente seria a utilizada, mas acabou vetada pelo COL.
Enquanto isso, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), chegou a ter reunião privada com membros do COL para apresentar um projeto de arena em Pirituba, na zona norte. E depois, a despeito de ter feito discurso enfático de defesa ao Morumbi, encampou a ideia de transferir a competição para Itaquera.
Diante da intransigência de Goldman, dirigentes ligados à Copa do Mundo de 2014 chegaram a culpar o período de eleições pela morosidade no início das obras em Itaquera. Na visão deles, a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), vencedor do pleito deste ano, deve acelerar as obras.
“Com o andamento das últimas conversas e boa vontade de todos, acredito que vamos conseguir solucionar os problemas que ainda existem”, disse Goldman nesta segunda-feira, em entrevista coletiva. O governador também dividiu a responsabilidade pela equação financeira do estádio: “Falta um terço dos recursos, mas acredito que vamos conseguir viabilizar isso juntos”.