Fim de sexta-feira agitado em Zurique. Menos de uma hora após Coca-Cola e McDonald’s pedirem a saída imediata de Joseph Blatter da Fifa, o advogado do dirigente, Richard Conway, rechaçou qualquer possibilidade de renúncia antes das eleições marcadas para fevereiro de 2016.
“A Coca é um importante patrocinador para a Fifa, mas o senhor Blatter, respeitavelmente, discorda da posição e acredita firmemente que deixar agora o cargo não seria o melhor para a Fifa e nem avançaria o processo de reforma, portanto ele não renunciará”, diz a nota divulgada via Twitter.
Em ação quase simultânea, as duas empresas se manifestaram nesta tarde. Em comunicados contundentes, as patrocinadoras mais ácidas depois do estouro do escândalo de corrupção na entidade, em maio, afirmaram que a presença de Blatter mancha a história da entidade dia após dia.
Além da Coca-Cola e McDonald’s, Adidas, Gazprom, Hyundai/Kia Motors e Visa patrocinam a entidade. Até o momento, não se sabe se os comunicados foram isolados ou se iniciam um movimento das parceiras oficiais da Fifa em torno da renúncia do suíço, que está no cargo desde 1998.
Na semana passada, a Justiça da Suíça abriu processo contra Blatter por suspeitas de má gestão e apropriação indevida de ativos. As investigações respingaram em Michel Platini, presidente da Uefa e candidato à sucessão na Fifa.
Dias antes, o ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, foi afastado das suas funções após ser revelado seu envolvimento em um esquema de superfaturamento e venda ilegal de ingressos para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
Este é mais um capítulo na crise aberta em 27 de maio na Fifa, com a prisão de sete dirigentes ligados à entidade por corrupção, em ação feita pelo FBI americano antes da reunião do comitê executivo da entidade, em Zurique, na Suíça.
Quatro dias após a reeleição, o presidente Joseph Blatter anunciou sua renúncia ao cargo para o qual havia acabado de ser reeleito, convocando para fevereiro próximo as novas eleições na Fifa. Um comitê de transição foi criado e, desde então, a entidade passou a ser mais severa para tentar conter atos que pudessem colocar em xeque a credibilidade da Fifa.
Até então, porém, a crise envolvia dirigentes de outras entidades filiadas à Fifa, mas que não trabalhavam diretamente na entidade. Com o escândalo tendo Valcke como pivô, a história muda de figura. Em setembro, a Fifa já havia anunciado mudanças na composição do comitê executivo, reduzindo o poder de dirigentes ligados à entidade e colocando mais força nos patrocinadores e em figuras externas.
Em maio, Michel Platini foi um dos principais adversários de Blatter na tentativa de manter seu posto na Fifa, mesmo sem disputar a eleição. O francês chegou a cogitar a hipótese boicotar o pleito caso o dirigente não renunciasse e manifestou publicamente seu apoio ao príncipe jordaniano Ali Bin Al Hussein. Após o anúncio de novas eleições, Platini classificou a atitude de Blatter de “corajosa”.