O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, contribuiu para tornar ainda mais conturbado um dos momentos mais tensos da história da entidade. Em meio a uma série de insinuações e acusações sobre o comportamento de dirigentes da instituição, Jack Warner, membro do conselho executivo, divulgou um e-mail em que o francês admite que o Qatar comprou o direito de receber a Copa do Mundo de 2022. A série de esc”ndalos em torno do órgão que gerencia o futebol global já despertou preocupação em alguns dos principais patrocinadores.
Na semana passada, o programa Panorama, da rede inglesa “BBC”, fez acusações diretas a João Havelange, ex-presidente da Fifa, e Ricardo Teixeira, mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os dois teriam recebido pagamentos regulares da gigante de marketing ISL, e o jornalístico acusou o dirigente da entidade brasileira de ter devolvido dinheiro à empresa como parte de um acordo para encerrar ações em torno do caso.
Teixeira também se envolveu em outro esc”ndalo recentemente. O inglês David Triesman, ex-presidente da associação inglesa de futebol (FA) e líder da candidatura brit”nica para receber a Copa do Mundo de 2018, incluiu o brasileiro em uma lista de dirigentes que teriam recebido suborno para definir os países que organizariam o torneio.
O comitê de ética da Fifa, contudo, inocentou Teixeira. Da mesma forma, determinou que Joseph Blatter, presidente da entidade, não deve ser investigado em função das acusações.
Em compensação, a mesma sessão do comitê de ética suspendeu Jack Warner e o qatariano Mohamed bin Hammam, presidente da Confederação Asiática de Futebol (AFC). Os dois foram punidos por conta de acusações sobre venda de votos na eleição dos países que receberiam a Copa do Mundo em 2018 e 2022.
O problema é que Bin Hammam é adversário político de Blatter, e já havia anunciado que enfrentaria o suíço na eleição presidencial que a Fifa promoverá nesta semana. Sem ele, o atual mandatário deve ser mantido no cargo até 2015.
Warner, que também é rival político de Blatter, divulgou nesta segunda-feira o teor de um e-mail que ele teria recebido de Valcke. No comunicado, o francês questiona a candidatura de Bin Hammam e os métodos dos qatarianos.
“Em relação a Mohamed bin Hammam, nunca entendi por que ele estava concorrendo. Não sei se ele realmente pensava que tinha chances ou se ele estava só demonstrando o quanto não gosta de Blatter. Ou talvez ele ache que pode comprar a Fifa como comprou a Copa”, declarou Valcke.
Valcke tentou se justificar posteriormente, e disse que sua intenção no e-mail era apenas lembrar que o Qatar ficou com o Mundial de 2022 por ter muito poder financeiro. Blatter também concedeu entrevista coletiva para tentar amenizar o incêndio.
No entanto, todas essas notícias negativas já começam a respingar em patrocinadores. Adidas e Coca-Cola, dois dos maiores parceiros da Fifa, emitiram notas oficiais para falar sobre o tema.
“A Adidas será um patrocinador da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Dito isso, a tendência negativa do debate público sobre a Fifa neste momento não é boa nem para o futebol nem para a Fifa e seus parceiros”, disse a empresa de material esportivo em comunicado oficial. “As acusações são preocupantes e ruins para o esporte”, completou um porta-voz da fabricante de bebidas.