Quinta-feira, véspera da abertura dos Jogos Olímpicos. O telefone do staff de Vanderlei Cordeiro de Lima toca. Do outro lado da linha, Fernando Meirelles, um dos diretores da cerimônia de abertura.
Meirelles pergunta se poderia fazer uma consulta a Vanderlei Cordeiro. Havia um convidado para participar da cerimônia de abertura que estava com uma limitação por conta de saúde. Sem citar o nome de Pelé, Meirelles questionou se Vanderlei poderia aceitar ser uma espécie de “reserva” no caso de desistência do convidado que acenderia a pira olímpica.
A conversa termina, a pessoa conta a Vanderlei toda a história. A resposta do ex-maratonista é uma só: “isso é uma brincadeira, né?”.
Até então, não passava pela cabeça dele ser o último condutor da chama olímpica e promover o acendimento da pira, símbolo máximo de início dos Jogos.
Aliás, a sua participação já havia sido ensaiada. E teria um grande destaque. Haveria uma espécie de quebra no protocolo do COI para promover uma homenagem especial a Vanderlei. Ele estaria na cerimônia de juramento à bandeira olímpica.
Único brasileiro agraciado com a medalha Pierre de Coubertin, pela histórica conquista da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, após ser atropelado por um espectador quando liderava a maratona, Vanderlei seria anunciado e colocaria a mão na bandeira olímpica. O juramento sempre é feito por um representante dos atletas, um dos árbitros e outro dos treinadores. Ele seria a novidade no protocolo.
Por volta das 14h30 da sexta-feira, Gabriel Bortolini, do Cerimônias Cariocas, empresa responsável pela gestão do evento de abertura, acionou novamente o staff de Vanderlei. Pelé havia oficialmente desistido de acender a pira olímpica por conta de problemas de saúde. A honra caberia ao paranaense.
Apenas a pessoa que recebeu a ligação e Vanderlei sabiam da história. O ex-maratonista, que já estava no Maracanã, dizia ainda não acreditar que aquilo era verdade. Controlou-se e não revelou o segredo a ninguém. Foi tudo tão repentino e fora do roteiro que seu “cúmplice” no segredo da pira não estava com ele no estádio. Assistiu, assim como a maioria das pessoas, a cerimônia pela televisão.
Somente uma ideia original do roteiro permaneceu. Vanderlei, de fato, quebrou o protocolo.
Ele havia sido o décimo condutor da chama olímpica no Brasil, ainda em 3 de maio, quando começou o Revezamento da Tocha. Depois, em Maringá, sua cidade natal, cedeu seu espaço para Ricardo D’Angelo, seu ex-treinador, participar do evento. Como foi chamado para acender a pira, Vanderlei recebeu ao todo três convites para participar da passagem da tocha, algo que nunca havia acontecido.
Passada a emoção da cerimônia de abertura, Vanderlei continuou pelo Maracanã. Por volta da 1h30 deste sábado, ele foi a um posto de gasolina nos arredores do estádio. Tomar uma cerveja e comer alguma coisa. Encontrou com uma equipe de reportagem do “Lance”. Disse que aquele momento havia sido a “medalha de ouro” dele.
Horas depois, logo cedo, Vanderlei gravou um depoimento em vídeo ainda no hotel do Rio de Janeiro e dali foi direto para o aeroporto para um compromisso inadiável.
Ele precisa agora apagar o fogo das velas em comemoração ao aniversário da filha mais nova. Já está em Maringá (PR), celebrando com a família o momento único vivido. Nos próximos dias? Vai acompanhar, no aconchego do lar, os Jogos Olímpicos.
E também aproveitar para sair e pescar…