A Wada (Agência Mundial Antidoping) pediu que a Rússia seja suspensa do esporte, o que deixaria o país de fora dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016. Dick Pound, ex-presidente da agência, que dirigiu a comissão independente convocada para investigar uso sistemático de doping no atletismo do país disse que o problema era “pior do que pensávamos”.
Para a comissão, os Jogos Olímpicos de Londres-2012 foram “fraudados” pela “inércia generalizada” da federação russa e da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo). Para a comissão, houve “falhas no sistema” para “impedir ou diminuir a possibilidade de um programa antidoping eficaz”.
Segundo a Wada, a polícia secreta russa intimida diretamente os implicados na luta antidoping. Para a agência, isso constituiria um programa estatal de doping. Segundo o relatório, o Centro Antidoping de Moscou teria destruído, por ordem de seu diretor, 1.417 amostras, provavelmente positivas, três dias antes da chegada do auditor da Wada. A agência não acredita que as instâncias oficiais russas não tivessem conhecimento disso.
Apesar de ainda não terem sido encontradas provas escritas da participação do governo, o relatório aponta que o ministro dos Esportes, Vitaly Mutko, teria sido conivente com a manipulação das amostras. Mutko é membro do Comitê Executivo da Fifa e lidera o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2018. “É impossível [Vitaly] Mutko não estar ciente disso. Se ele sabia, é cúmplice”, afirmou Pound.
Outra revelação do informe é que durante os Jogos de Inverno de Sochi, agentes do FSB (serviço de segurança da Rússia que sucedeu a KGB), infiltraram-se no laboratório antidoping como supostos “engenheiros”. Já a equipe do laboratório acreditava que o FSB estava fazendo uma intervenção no laboratório.
Um agente chamado Eugeni Blokhin respondia diretamente ao diretor do laboratório, Grigori Rodchenkov. O laboratório poderá perder seu credenciamento. Rodchenkov corre o risco de ser cassado.
O relatório também recomenda o banimento de cinco atletas e cinco treinadores. Entre eles estão Maria Savinova e Ekaterina Poistogova, ouro e bronze nos 800 m nos Jogos de Londres-2012. Os demais nomes citados no relatório são Anastasiya Bazdyrevaj (400 m e 800 m), Kristina Ugarova (1.500 m) e Tatjana Myazina (800 m).
A Wada recomenda que o COI (Comitê Olímpico Internacional) suspenda a Rússia de competições até que tudo seja esclarecido. Essa medida poderia tirar o país dos Jogos do Rio.
Dick Pound pediu que sejam criadas vias para que os atletas prejudicados possam fazer denúncias sem medo de represálias. O dirigente comparou o problema às investigações em torno da corrupção na escolha da Rússia para sede da Copa do Mundo de 2018. Neste caso, os dirigentes permitem atletas competirem, mesmo sabendo que se tratam de trapaças.
“Esse relatório é só a ponta do iceberg. É pior do que imaginávamos”, afirmou Pound.