Agência oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI), a Getty Images realizou uma operação de guerra para registrar em tempo real todas as competições dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, desde eliminatórias às finais e distribuir essas imagens em escala global.
Segundo a empresa, com sede em Seattle (Estados Unidos), foram escalados mais de uma centena de profissionais, que se espalharam pelas sedes em Paris e sua região metropolitana (Saint-Denis, Le Bourget, Nanterre , Versalhes e Vaires-sur-Marne); além de subsedes em Lille, Marselha, Bordeaux, Lyon, Nantes, Nice, Saint-Étienne e até Taiti, na Polinésia Francesa, a 15.716 km da cidade-sede dos Jogos, que abrigou as competições de surfe.
“A operação da Getty Images para eventos como Paris 2024 é meticulosamente planejada, começando com até sete anos de antecedência para garantir uma cobertura mundial, isso para os Jogos Olímpicos de Paris 2024”, contou Michael Heiman, vice-presidente global de esportes da Getty Images, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Para as nossas operações, destacamos uma equipe de 140 fotógrafos e editores, todos especialistas neste tipo de cobertura, que criaram as imagens icônicas que iremos lembrar nos próximos anos”
Michael Heiman, vice-presidente global de esportes da Getty Images
Momentos memoráveis como a cerimônia do pódio de Rebeca Andrade sendo reverenciada por Simone Biles e Jordan Chiles, um pôr do sol na arena de vôlei de praia, com a Torre Eiffel ao fundo, a manobra de Rayssa Leal, que parece voar no skate street ou o flagrante instantâneo do esforço do ginasta grego Eleftherios Petrounias, medalha de bronze nas argolas (imagem abaixo).
“Nossos fotógrafos captaram cerca de 5 milhões de imagens durante os Jogos Olímpicos – carregando mais de 10.000 imagens por dia para gettyimages.com. Um aumento significativo quando comparamos com as Olimpíadas anteriores”, destaca Heiman.
Logística
Com a constante necessidade de agilizar as operações para centenas de clientes espalhados pelo planeta, entre grupos de mídia, entidades esportivas e empresas, a operação olímpica utilizou tecnologia para implantar novidades na divulgação das imagens.
“Paris foi a primeira vez que a Getty Images fez a edição 100% remota dos Jogos Olímpicos a partir do nosso escritório em Londres. Esta configuração robusta foi criada para enfrentar os desafios de captar e fornecer as melhores imagens”, afirmou o executivo.
Para agilizar as operações, a agência testou várias opções que disponibilizassem as fotos das disputas olímpicas praticamente em tempo real.
“Para garantir que as imagens cheguem aos clientes o mais rápido possível, a Getty Images implementou um processo simplificado com os nossos editores remotos. Assim, é possível carregar imagens quase em tempo real”, relata o norte-americano.
“Para momentos de destaque, como a fotografia icônica tirada por Elsa Garrison, em que Rebeca [Andrade] é reconhecida por [Simone] Biles e [Jordan] Chiles, as imagens podem estar disponíveis para os clientes em apenas 30 segundos após serem tiradas”
Michael Heiman, vice-presidente global de esportes da Getty Images
“Essa rapidez é possível graças à transferência de dados por fibra óptica de alta velocidade e aos ajustes de parâmetros em tempo real”, complementa.
Onipresente
Ao contrário de empresas de mídia que direcionam seu trabalho para atletas e competições que contam com mais audiência em seu país-sede, a Getty Images necessita estar em todos os locais ao mesmo tempo. Como agência oficial do COI, a empresa, de certa forma, trabalha para todos os comitês olímpicos filiados à entidade.
“Os principais desafios logísticos da cobertura de um evento tão grande como os Jogos Olímpicos incluem a coordenação da cobertura em vários locais, a garantia de que os fotógrafos estão no lugar certo e na hora certa, além da gestão do imenso volume de imagens produzidas”, relata o executivo da Getty Images.
“Estar na linha da frente de cada evento também significa dias longos, que começam cedo e acabam tarde, exigindo comunicação contínua e apoio da equipe para manter a energia e o entusiasmo elevados”, completa.
Assim, há a necessidade de fotografar desde Sifan Hassan, a holandesa de origem etíope, vencedora da maratona em 2h22min55s, novo recorde olímpico, até Kinzang Lhamo, do Butão, última colocada da prova, que completou o percurso em 3h52min59s e gerou comoção entre os torcedores pelo espírito olímpico, sendo bastante aplaudida.
“Apesar desses desafios, a Getty Images tem a capacidade de colocar fotógrafos em todas as competições, incluindo as eliminatórias, em todas as 38 instalações olímpicas, garantindo uma cobertura abrangente e consistente de todos os eventos”
Michael Heiman, vice-presidente global de esportes da Getty Images
Robôs
Parceira do COI desde as Olimpíadas de Atenas 2004, a Getty Images completou, em Paris, a 11ª edição de sua parceria com o comitê somando Jogos de Verão e Inverno. E, a cada edição do evento, novidades são implementadas para melhorar a qualidade do trabalho e a rapidez de divulgação dos resultados.
“A novidade deste ano é a utilização de 15 câmeras robóticas e duas câmeras robóticas subaquáticas”, declara Heiman.
O novo equipamento, operado pelos fotógrafos de forma remota, possibilita ângulos inusitados, como na disputa entre Ariarne Titmus e Katie Ledecky pela liderança dos 400 m livre (foto acima). No final, a australiana superou a norte-americana, em uma das rivalidades mais empolgantes da natação em Paris.
“Essas câmeras avançadas, que incorporam mais de 25 anos de experiência, possuem um atraso quase nulo, uma transferência de dados de alta velocidade e um movimento contínuo de 360 graus”
Michael Heiman, vice-presidente global de esportes da Getty Images
“Isto permite captar ângulos e perspectivas sem precedentes, especialmente debaixo d’água, fornecendo imagens de alta qualidade quase instantaneamente aos nossos clientes”, descreve o executivo da Getty Images.
As experiências da agência fotográfica com uso de câmeras remotas começaram nos Jogos de Londres 2012.
“Quanto ao equipamento, a Getty Images foi pioneira no uso de câmeras robóticas avançadas capturando imagens aéreas e subaquáticas sem precedentes de momentos importantes”, conta Heiman.
No início, esses robôs possuíam uma flexibilidade limitada depois de instalados nos locais de competição. Os repórteres-fotográficos não tinham a capacidade de fazer ajustes nas imagens para além do foco e da exposição.
“Atualmente, a Getty Images utiliza tecnologia de câmera remota de ponta, permitindo que os nossos fotógrafos especializados captem ângulos únicos de locais onde seria impossível colocar um fotógrafo, como a infraestrutura e os telhados de vários locais olímpicos”, descreve.
Pedidos especiais
Numa cobertura tão complexa como as Olimpíadas, a Getty Images também está preparada para atender a pedidos específicos de clientes espalhados por todo o planeta.
Se há a necessidade de fotografar todos os competidores da prova, desde o líder ao último colocado, também é possível que os profisisonais da empresa registrem detalhes como a sapatilha de um atleta, uma tatuagem ou acessório diferente usado por um competidor e até um torcedor que se destaque nas arquibancadas.
“Esse serviço personalizado garante que os clientes recebam o conteúdo específico de que necessitam para os Jogos Olímpicos”, declara Heiman.
A qualidade do trabalho da agência, fundada em Londres há 29 anos, que conta com um acervo de mais de 477 milhões de imagens, fez com que a empresa atraísse para sua lista de clientes uma grande lista de clientes no universo dos esportes.
“A Getty Images trabalha com muitas das mais importantes ligas esportivas e organizações governamentais do mundo”, destaca o executivo.
“Para além do nosso trabalho com o COI, a agência é o fotógrafo oficial ou parceiro fotográfico de mais de 120 das principais organizações esportivas, ligas e clubes do mundo, incluindo o PGA, Fifa, NBA, MLB, NHL, Uefa, FA [federação inglesa de futebol], UFC, Nascar, PGA of America e Manchester United”, lista Heiman.
Inteligência artificial
Qual será a próxima novidade na captação de imagens, que poderá estrear nas Olimpíadas de Los Angeles, daqui a quatro anos? O próximo passo é o uso da inteligência artificial com o objetivo de que o trabalho da empresa seja ainda mais ágil na distribuição de imagens.
“Uma área promissora para a integração da IA é o reconhecimento facial, que poderia simplificar o processo de identificação de atletas em fotografias – uma tarefa que atualmente exige que os fotógrafos indiquem verbalmente a posição de partida ou o número de um atleta, que é depois comparado com os registos oficiais”, explica o executivo.
Heiman, porém, reconhece que ainda não é possível aplicar plenamente esse equipamento devido as dimensóes estratosféricas de uma cobertura olímpica e da necessidade da precisão de informações.
“Embora esta tecnologia mostre potencial, ainda não está avançada o bastante para lidar com a identificação de milhares de atletas menos conhecidos num evento tão grande como os Jogos Olímpicos”, observa.