A vela brasileira não conquistou nenhuma medalha nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. A edição, encerrada no último domingo (11), foi a primeira em 32 anos que a Confederação Brasileira de Vela (CBVela) ficou fora do pódio olímpico e marcou o início de uma nova geração.
Pela primeira vez desde 1996, a vela brasileira, não contou com a participação de Robert Scheidt, aposentado dos Jogos em Tóquio 2020. Sua saída se somou à aposentadoria de Torben Grael, decretada após o ouro olímpico na classe star nos Jogos de Atenas 2004.
A saída de Scheidt e Torben das regatas marca o fim da geração mais vencedora da história da modalidade no Brasil. Mesmo passando em branco, a vela ainda é o esporte mais vencedor do Brasil em Olimpíada, com 8 ouros, 3 pratas e 8 bronzes (19 medalhas no total).
Em Paris 2024, a melhor colocação do Brasil foi obtida por Bruno Lobo, que terminou em sétimo lugar na fórmula kite, na estreia de uma classe de kitesurf em Jogos Olímpicos. A dupla formada por Martine Grael e Kahena Kunze, maior esperança de medalha, não correspondeu às expectativas e ficou em oitavo lugar na 49er FX. As brasileiras eram bicampeãs olímpicas (Rio 2016 e Tóquio 2020).
João Bulhões e Marina Arndt conquistaram a nona colocação na macra 17 misto, classe de catamarã multicasco. Já Isabel Swan e Henrique Haddad terminaram em décimo na 470 misto. Isabel havia se tornado, junto com Fernanda Oliveira, as primeiras velajdoras brasileiras medalhistas olímpicas com o bronze na 470 em Pequim 2008.
Os demais brasileiros cumpriram campanha bem abaixo. Mateus Isaac foi 16º na IQFoil, Marco Grael e Gabriel Simões ficaram em 19º na 49er, Bruno Fontes terminou em 28º na ILCA 7 e Gabriella Kidd encerrou participação com o 33º lugar da ILCA 6.
“A equipe brasileira de vela alcançou quatro finais e lutou até o último dia por medalhas. Mas o esporte é imprevisível. Enviamos uma equipe que combinava juventude e experiência, apoiando nossos atletas em competições internacionais com investimentos em treinamento, equipamentos, viagens e técnicos”, afirma Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da CBVela, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Estamos satisfeitos com a renovação que está em andamento. A vela jovem teve bons resultados neste ciclo, e seguiremos fortes rumo a Los Angeles 2028”, completou.
Investimentos
A CBVela contou com o apoio de oito empresas para o ciclo até as Olimpíadas de Paris 2024. “Atualmente contamos com patrocínios diretos e incentivados. Considerando ambos, temos como parceiros a Shell Brasil, Avène, OceanPact, New Expo Logística, QS Tributos, DPL, Aegea e Energisa, esta mais voltada para a vela jovem”, contou Ribeiro.
“A questão dos patrocínios é que cada vez mais eles estão ligados a eventos e projetos sociais, o que é fundamental. Então, na vela, cada vez mais a gente investe em projetos sociais via patrocínio, que são facilitados pela lei de incentivo ao esporte”, explica o dirigente.
Além dos recursos obrtidos com esses acordos comerciais, a CBVela também conta com repasses do Comitê Olímpico do Brasil (COB) possibilitados pela Lei Piva, que destina 2% da arrecadação bruta das loterias federais para o COB e o Comitê Paralímpico Brasileiro.
“A Lei Agnelo Piva é fundamental para a preparação dos atletas. Ela permite o financiamento de campeonatos, materiais, recursos humanos e técnicos para a preparação da equipe. Sem a Lei Agnelo Piva e o COB, que é o repassador da lei, o esporte olímpico brasileiro no geral e a vela em especial não funcionariam”, reconhece o presidente da entidade.
No último ciclo olímpico, que foi um ano mais curto por conta do adiamento de Tóquio 2020 em razão da pandemia, a vela recebeu R$ 20,6 milhões, que representa 3,5% do total repassado pelo COB para todas as confederações esportivas brasileiras através da Lei Piva (o total foi de quase R$ 600 milhões). Foram R$ 6 milhões em 2022, R$ 7,1 milhões 2023 e R$ 7,4 milhões em 2024.
“Lembrando que esses recursos são passados em cima de critérios transparentes, democráticos e meritocráticos, através do COB. Então é um sistema que tem funcionado bem e o resultado é que o Brasil na vela alcançou numerosas finais e também medalhas no passado, como também títulos em Mundiais Juniors, que também sinalizam uma renovação”, ponderou Ribeiro.
“A Olimpíada é um projeto de quatro anos. A medalha nunca é garantida. Então, para as empresas privadas não há muito o que investir num projeto que só vai ser exposto de quatro e quatro anos e cujo resultado ninguém pode garantir”, lamenta.
Bolsa Atleta
Além da Lei Piva, o governo federal também possui outras ferramentas de incentivo ao esporte, como o Bolsa Atleta. O programa paga um valor mensal para os atletas inscritos, em quantias que variam de acordo com critérios como desempenho.
Dos 12 atletas que representaram o Brasil na vela em Paris 2024, 11 são beneficiados pelo programa. A exceção é Marina Mariutti Arndt, da classe nacra17, que não esteve inscrita no programa para 2024.
Los Angeles 2028
Com o fim dos Jogos de Paris 2024, tem início o ciclo para Los Angeles 2028. Para a próxima edição das Olimpíadas, a vela brasileira deposita esperança nos novos talentos, que já têm se destacado nas categorias de base.
“Um dos nossos pilares é o incentivo à vela jovem. Tivemos em menos de seis meses dois campeões mundiais de 420 e fórmula kite, que certamente estarão nos representando em 2028 ou 2032”, acredita Ribeiro.
“É um trabalho muito forte capacitando treinadores, dando oportunidades aos velejadores de competir lá fora e respeitando todo o processo de transição para a vela sênior. O trabalho feito no optimist [classe de formação] é um dos melhores, tendo apoio de clubes, pais dos atletas e de toda a comunidade náutica”, concluiu o dirigente.