Mulheres ocupando cargos diretivos em confederações olímpicas do Brasil são raras. Por isso, Mariana Miné, CEO da Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu), chama atenção. Mas ela minimiza seu caso dizendo que a modalidade é uma das mais abertas à presença feminina.
“O rúgbi é exceção. A confederação é mais aberta. O Conselho da CBRu tem 38% de mulheres. Acho que isso se torna um pouco mais natural pelo fato de as Yaras [apelido da seleção feminina] terem resultados mais expressivos do que os Tupis [seleção masculina]”, afirmou a CEO, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Mas o esporte em geral é um mundo muito mais masculino. E casos como o meu acabam sendo exceção”, completou.
A executiva foi escolhida para o posto no final de 2020, após um processo seletivo conduzido por uma comissão de seis conselheiros (quatro homens e duas mulheres), com o auxílio de uma empresa de recrutamento e, posteriormente, pelo Conselho de Administração da CBRu.
Currículo de mercado
Credenciais para o novo emprego não faltavam. Formada em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a executiva colecionava passagens por grandes empresas.
“Trabalhei cinco anos como gerente de vendas e marketing na Ambev. Depois, fui para a Unilever mais uns dois anos. Trabalhei na RBS, que é a afiliada da Globo no Sul, tocando novos negócios. E tive uma empresa por cinco anos”, contou.
“Eu não vinha do universo esportivo. O Conselho [da CBRu] estava querendo uma pessoa de fora [do esporte], do mercado, e que tivesse uma característica de histórico, tanto de comercial quanto de marketing, para reforçar o crescimento do esporte, as receitas, os vínculos e as entregas para parceiros e apoiadores”, acrescentou.
Patrocínios
Apesar de ainda ser uma modalidade pequena no Brasil, o rúgbi consegue atrair muita atenção das empresas. Hoje, entre patrocinadores, parceiros oficiais e apoiadores, a CBRu conta com acordos com 34 marcas.
“O rúgbi é, hoje, o quarto orçamento entre as confederações de modalidades olímpicas do Brasil. É um ótimo resultado porque ainda não somos a quarta modalidade do Brasil em tamanho. Estamos caminhando muito bem. Só neste ano fechamos 11 contratos com empresas novas”, contabilizou Mariana.
A quantidade de parceiros comerciais chama atenção. Em um recente treinamento do time comercial da CBRu no Comitê Olímpico do Brasil (COB) junto a outras entidades, os coordenadores passaram um papel para cada confederação escrever quem eram seus patrocinadores. E brincaram que, para a CBRu, teriam que entregar dois papéis para caber todo mundo.
“Lógico que ainda falta recurso. Fazer esporte é muito caro. Temos uma grande demanda para sustentar o crescimento do rúgbi. Mas conseguimos fechar parcerias, algumas maiores e outras menores, para ajudar nesse crescimento da modalidade”
Mariana Miné, CEO da CBRu
Atualmente, os principais patrocinadores da confederação são TIM, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), CVC Capital Partners, a mesma companhia que se tornou investidora da LaLiga (Espanha) e da Ligue 1 (França), e Cultura Inglesa.
Objetivos
Modalidade em que o feminino apresenta melhores resultados internacionais, o rúgbi nacional planeja continuar dominante na América do Sul, competitivo nas Américas e em crescimento no mundo.
“Neste ano, temos Jogos Pan-Americanos [de Santiago, no Chile, em outubro], e a expectativa é ganhar medalha. Disputamos com Estados Unidos e Canadá. No ano que vem, temos os Jogos Olímpicos de Paris, e nossa meta é galgar posições e atingir o Top 8”, analisou Mariana.
O foco dos investimentos da confederação no feminino sempre foi no rúgbi 7, que é disputado na Olimpíada. Já o masculino, as atenções estavam voltadas para o rúgbi 15, mais popular internacionalmente.
“O que está acontecendo agora é que também estamos dando foco ao rúgbi 15 feminino. O rúgbi 7 continua sendo a modalidade principal entre as mulheres. Mas passamos a dar mais relevância ao rúgbi 15”, contou a executiva.
“O rúgbi 15 também é uma prioridade muito grande na World Rugby [entidade que comanda a modalidade no mundo], que está criando uma série de torneios internacionais”, completou.
Mais mulheres
Para a CEO da CBRu, a falta de mulheres em cargos de liderança no esporte passa pelo pouco espaço dado a elas, em geral, pelas entidades esportivas. Ela acredita que isso só será alterado quando houver realmente uma política que promova a diversidade.
Mariana citou o estatuto da confederação de rúgbi, que estabelece uma cota mínima de 30% de mulheres nos órgãos colegiados. Segundo ela, sua equipe é composta por 43% de funcionárias.
“Quando tem um ambiente desses, com certeza tem uma condição maior de desenvolver e atrair meninas para posições de chefia, sejam técnicas, como arbitragem, ou de gestão. Podemos atrair pessoas de mercado nos conselhos das entidades esportivas, com outros históricos profissionais”, propõe a executiva para que haja mais diversidade no esporte.
Para Mariana, atualmente, grandes empresas, ao estudarem um contrato de patrocínio ao esporte, observam se a entidade possui um ambiente diverso, não só em relação às mulheres, mas com outros grupos com pouca representação, como os negros.
“É óbvio que parceiros de grande porte que temos aqui, como Gerdau, Vale, CSN, CVC, TIM e Deloitte, olham com cuidado para a diversidade. Então, se a entidade não entende isso como relevante, que pelo menos olhe que os potenciais patrocinadores acham isso importante”
Mariana Miné, CEO da CBRu