Este fato aconteceu em uma tarde ensolarada no mês de março, na Flórida (EUA), há algumas décadas. A carioca Marcia Casz havia viajado até Key Biscayne para acompanhar as partidas do Miami Open de tênis. A brasileira ficou encantada com a estrutura do evento e disse para si mesma: “Preciso fazer uma coisa como esta algum dia”.
“Sabe aquela frase que diz: ‘Cuidado com o que você deseja, pois você pode conseguir’? Comigo funcionou”, brincou Marcia.
Hoje, ela é diretora geral do Rio Open, principal torneio de tênis da América do Sul. E não só isso: é idealizadora do evento, que é realizado anualmente no mês de fevereiro, no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro (RJ), atraindo a elite mundial da modalidade.
Antes de chegar à fase atual da vida, Marcia trilhou por diferentes caminhos. Mas o acaso (ou seria o destino?) acabou por levá-la para o mundo do esporte, onde ela teve a chance de desbravar terrenos que costumavam ser inacessíveis para as mulheres.
De engenheira a pioneira do marketing esportivo
Marcia sempre foi apaixonada por esportes e chegou a ser atleta federada de vôlei na adolescência. Quando chegou a época de fazer a inscrição para o vestibular, porém, ela não encontrou uma opção que permitisse fazer carreira na área da forma como gostaria.
“Naqueles tempos, não havia nada voltado à gestão ou ao marketing esportivo, pois o esporte não era tratado como negócio”, comentou.
Ela, então, acabou optando pelo curso de engenharia de sistemas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), curso que era predominantemente masculino na época. Depois de formada, passou a trabalhar com tecnologia da informação. Naquele momento, a Globosat havia acabado de surgir no mercado. A empresa do Grupo Globo, fundada em 1991, marcou o início das operações da família Marinho no ramo de TV por assinatura.
Marcia ingressou na Globosat em 1994, como estagiária do departamento de tecnologia.
“Foi quando descobri o Sportv e percebi que tinha de dar um jeito de ir para lá”, contou.
A experiência no canal esportivo do grupo foi decisiva para a carreira da jovem. Depois de permanecer algum tempo indecisa entre seguir para o mercado financeiro ou trabalhar como consultora em sua área de formação, ela resolveu que seu caminho seria mesmo no universo dos esportes.
Em 1999, Marcia fundou sua empresa de marketing esportivo, a Max Sports, que mais tarde seria adquirida pela IMX, depois IMM, onde Marcia atualmente é diretora de esportes.
Esportes radicais
A experiência no Sportv fez Marcia perceber que os esportes radicais e de ação (como surfe, skate e motocross) viviam um boom, mas ainda não recebiam a devida atenção por parte do mercado e da mídia.
“Quando iniciei minha empresa, defini que teria de ser a melhor em algo. E aquele seria o caminho a seguir”, afirmou.
Sua empresa passou a ocupar esse nicho, até então pouco explorado. Não demorou muito, e ela se tornou organizadora dos X Games, da ESPN, nas edições de 2002, 2003 e 2004. Marcia foi também a primeira a convencer a Globo a transmitir ao vivo um Mundial de Skate na TV aberta. Foi em 2002, no Verão Espetacular.
As experiências dela nessa época incluem ainda o Mega Rampa de Skate, no Anhembi, em São Paulo, o Campeonato Brasileiro de Surfe, a Meia-Maratona “Faz Um 21” e o torneio Rei e Rainha da Praia, de vôlei de praia.
Empoderar mulheres
Acostumada, desde muito jovem, a transitar em espaços dominados por homens, Marcia reconhece o machismo existente no universo esportivo, ainda que, ao longo de sua trajetória, afirme não ter deparado com barreiras ou diferenças no tratamento pelo fato de ser mulher.
Ao mesmo tempo, ela diz que faz questão de ter profissionais femininas em suas equipes.
“Minhas líderes sempre foram mulheres, desde os tempos em que fundei minha empresa. Estou falando de mais de 20 anos atrás, quando as pessoas ainda nem falavam em empoderamento. Minhas líderes eram 80% mulheres”, destacou.
A preferência por mulheres nas equipes se deve a habilidades específicas que Marcia diz identificar nas profissionais femininas, especialmente no trato com as pessoas, e também a capacidade de lidar com imprevistos, que são muito comuns em eventos.
“Tem também a questão da intuição e da criatividade, muito fortes nas mulheres”, ponderou.
Além de promover a participação feminina em cargos decisórios, Marcia procura garantir holofotes para pautas relacionadas à inclusão e à diversidade, que são consideradas pilares do Rio Open.
“O mundo está em evolução. Acredito que temos que fazer parte do processo de mudança da sociedade”, afirmou.
Na visão dela, empresas que atuam na área esportiva estão cada vez mais atentas e exigentes em relação a questões de impacto social, como o empoderamento feminino.
“Procuramos justamente trabalhar com marcas que valorizam essas temas”, concluiu Marcia.