Desde que Pequim foi confirmada como a sede dos Jogos Olímpicos de 2008, há sete anos, os ativistas de direitos humanos voltaram suas atenções para a China, país dominado pelo regime comunista e com histórico de repressões, torturas e censura. O evento esportivo serviu de pano de fundo para uma série de disputas políticas e protestos. Na noite da última quarta-feira, a organização Human Rights Watch (HRW, na sigla em inglês), com sede em Nova York, nos Estados Unidos, advertiu em comunicado que as autoridades chinesas têm utilizado com freqüência nos últimos meses acusações pouco precisas de subversão contra dissidentes e ativistas, reduzindo consideravelmente o respeito aos direitos humanos. “Pequim não deu nenhum sinal de que cumprirá a promessa formulada à comunidade internacional em troca da oportunidade de organizar os Jogos Olímpicos”, disse a vice-diretora da HRW para a Ásia, Sophie Richardson. “Eles puseram em prática um empenho sistemático para silenciar e reprimir os cidadãos chineses que pressionam seu Governo a aumentar o respeito aos direitos humanos”, completou. O “desabafo” da entidade foi motivado pela condenação do escritor Lu Gengsong, no último dia 4 de fevereiro, que se transformou no sexto dissidente processado por “incitar a subversão do poder do Estado” em menos de um ano. Pelo delito, Gengsong passará quatro anos na cadeia. Segundo a entidade, o governo local também intensificou o acompanhamento e a intimidação de familiares dos dissidentes. A HRW assinalou ainda que as autoridades têm cometido outros abusos de poder relacionados aos Jogos, como como despejos de inquilinos, expropriações, fechamentos de escolas para imigrantes e campanhas de intimidação contra imigrantes rurais, mendigos e prostitutas. “A repressão vai crescer até a abertura dos Jogos caso os Governos estrangeiros, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e os comitês olímpicos nacionais não advirtam a China de que estas violações põem em perigo o sucesso do evento em agosto”, finalizou Richardson. No centro das acusações, o Bocog (comitê organizador dos Jogos) pediu no início da semana a “despolitização” do evento, em resposta a uma ameaça de boicote às Olimpíadas. “Como com tudo na vida, haverá gente que está de acordo, e gente que não está. Temos o direito de não apoiar algo, mas não teremos o direito de impedir que outras pessoas apóiem”, disse Zhao Huimin, diretor do Departamento de Relações Internacionais da entidade. Zhao Huimin, diretor do Departamento de Relações Internacionais do Bocog (Comitê Organizador de Pequim 2008), afirmou nesta terça-feira que “o esporte deveria estar separado da política”, em resposta a uma ameaça de boicote dos Jogos Olímpicos. “Politizar os Jogos seria esquecer o espírito olímpico”.