Especial para a Máquina do Esporte, em Paris A abertura da Copa do Mundo de Rugby, realizada este ano na França, foi especialmente mais tensa para seus organizadores e patrocinadores. Um impasse entre o International Rugby Board (IRB), organismo que regulamenta o esporte, e um grupo de 40 órgãos de imprensa ? entre eles as principais agências de notícia e imagens ?, sobre limitações nos direitos de cobertura, culminou num boicote jornalístico ao torneio, que só foi resolvido no último momento antes do início do Mundial, na última sexta-feira, 7 de setembro. A suspensão completa da cobertura do evento foi iniciada na véspera, pelas três maiores agências de notícias do mundo, Reuters, Agência France Presse (AFP) e Associated Press, além da agência de imagens Getty, e seguida pelos principais órgãos de imprensa, como o grupo L?Equipe, principal jornal esportivo francês, e o inglês The Guardian. O pomo da discórdia foi a restrição imposta pelo IRB em relação ao limite do número de fotos publicadas na internet durante os jogos. Acreditando que a publicação online de cenas dos jogos desvaloriza os direitos de exclusividade vendidos aos canais de televisão, o IRB limitou em 50 o número máximo, por jogo, de fotografias colocadas nos sites. O problema, dizem os órgãos de imprensa que realizaram o boicote, é que em agosto, após um ano de negociações, o IRB havia concordado em liberar a publicação de uma foto por segundo de jogo (o que pode resultar em até 6 mil por partida, contando prorrogações). Mas, segundo normas divulgadas no momento do credenciamento da imprensa para o evento, esse número foi drasticamente reduzido para 50 cenas por jogo. Não adiantaram nem as intervenções do governo francês, da Comissão Européia e do ministério francês dos Esportes, que tentaram, durante toda a quinta-feira, fazer o IRB voltar atrás ? a ministra dos Esportes, Roselyne Bachelot, declarou ao jornal Le Monde ter ligado pessoalmente para o diretor executivo do IRB, Mike Miller, ?para sensibilizá-lo sobre a necessidade de retomar rapidamente o diálogo a fim de que essa grande festa do esporte que é a Copa do Mundo de Rugby não fosse estragada?. Na quinta-feira à noite, 24 horas antes do primeiro jogo, o IRB ainda se mostrava irredutível, e publicou um comunicado no qual afirmava que a ?RWCL [braço comercial do IRB] não se deixaria influenciar nem por exigências absurdas nem pela ameaça ao boiocote?. Para o IRB, eles já tinham feito muitas concessões, aumentando em 400% o número de fotos publicáveis ao vivo durante os jogos em sites na internet. Para os órgãos de imprensa, a liberdade comercial e de informar estava em jogo. ?Isso não tem nada a ver com a liberdade de imprensa?, escreveu o IRB. ?Todas as mídias têm acesso ao torneio (…) Mas aparentemente essas organizações não se dão conta de que um evento esportivo desse tamanho obriga a condições de trabalho particulares e querem nos fazer abandonar todos os nossos direitos, mesmo se eles representam a essência do rugby internacional.? Apenas momentos antes da primeira partida, às 20h da sexta-feira, o IRB cedeu à pressão e autorizou a utilização, na internet, de 200 fotos por jogo (incluindo prorrogação), e assim a cobertura do evento foi retomada. As duas partes concordaram em se encontrar, nesta segunda-feira em Paris para iniciar negociações sobre as possíveis melhoras que podem ser feitas em relação à cobertura, em vídeo, por parte de agências de imagens não-detentoras dos direitos de transmissão. O acordo foi bem recebido pela imprensa. ?Fiquei satisfeito com os avanços obtidos pela coalizão [os órgãos de imprensa que participaram do movimento]. Esse acordo preserva o essencial, depois de difíceis negociações. É evidente que devemos continuar, no futuro, a trabalhar em busca de um equilíbrio entre a missão dos jornalistas, os interesses dos clientes, dos organizadores e patrocinadores?, declarou Pierre Louette, CEO da AFP. Na França, os direitos de transmissão foram vendidos para a TF1, principal canal privado do país, que detém os maiores índices de audiência. Ela vai transmitir parte dos jogos (22), e colocará outros 48 em seu canal Eurosport. No total, a TF1 pagou 80 milhões de euros (R$ 216 milhões) pelos direitos. E sabe que não vai reavê-los com verba de publicidade, já que a previsão dos mais otimistas é a de que a Copa do Mundo de Rugby renda 60 milhões de euros em investimento em todos os tipos de mídia. Os valores de publicidade cobrados pela TF1 são os seguintes: 65 mil euros (cerca de R$ 175,5 mil) por trinta segundos de comercial nas quartas-de-final e 115 mil euros (R$ 310 mil) caso a França se classifique. Se os ?Bleus? estiverem na final, o valor sobe para 175 mil euros (R$ 472 mil). No ano passado, a TF1, que também detinha os direitos de transmissão da Copa do Mundo de futebol (pelos quais pagou mais que o dobro, 168 milhões de euros), e conquistou o pico de audiência com 22,2 milhões de telespectadores na semfinal entre França e Portugal. O IRB recebe a totalidade dos direitos de marketing e de trasmissão de televisão do Mundial, o terceiro evento esportivo mais visto do planeta, atrás apenas da Copa do Mundo de futebol e dos Jogos Olímpicos. Nesta edição, o evento tem como parceiros a empresa de telefonia celular Orange, que faz parte da France Telecom, o banco Société Générale, Toshiba, Heineken, Capgemini, Emirates Airlines, Visa e Peugeot.