A Fórmula 1 entrou na Era do Gelo. Não, não é nenhuma referência ao longa de animação indicado ao Oscar em 2003. O Grande Prêmio do Brasil, disputado no último domingo, consagrou o finlandês Kimi Räikkönen como o novo campeão da principal categoria do automobilismo mundial. No pódio, após a inesperada vitória, não houve nenhuma comemoração intensa ou demonstração de euforia com título. Conhecido como ?Iceman? (Homem de Gelo), Raikkönen não esbanja sorrisos como os rivais. Tampouco é ?habitué? de campanhas publicitárias como seus concorrentes. O apelido serve tanto para descrever a sua frieza na pista, como também faz referência ao seu temperamento fora dela. O melhor piloto da temporada 2007 rejeita os rótulos impostos pelo ?circo? da F1 e foge dos adjetivos tradicionais que caracterizam os ídolos da categoria. Não tem o apelo latino de Fernando Alonso, a simpatia de Felipe Massa ou o carisma do novato Lewis Hamilton. ?Essa foi a maneira que ele encontrou de se posicionar no esporte. Mas não é o melhor comportamento, é claro. Aquele tipo de vibração dele depois da vitória não vende imagem, nada. Se ele tivesse agido de outra forma os patrocinadores teriam como pegar carona na vitória dele, o que não aconteceu?, afirma Fernando Julianelli, sócio da Reunion Sports & Marketing. No ano passado, Räikkönen não compareceu à homenagem feita antes da corrida brasileira por Pelé a Michael Schumacher, que se aposentaria naquele dia. Ao ser indagado pelo ex-piloto Martin Brundle (atual comentarista de uma rede de TV brit”nica) sobre sua ausência, o campeão disparou que não pôde ir porque estava no banheiro. A cena virou hit no Youtube, rede de compartilhamento virtual de vídeos. No mesmo site, é possível encontrar o campeão da temporada caindo de um iate, supostamente embriagado. Ou ainda dormindo abraçado a um golfinho inflável nas ruas de Cancún. ?As empresas levam muito em conta o comportamento do atleta. É preciso ter carisma, coisa que o Räikkönen não tem. Ele é uma máquina de pilotar, mas não vende. Além disso, ele não tem cuidado com a própria imagem. Não o vejo como um embaixador das marcas que o patrocinam?, completa Julianelli. Com um salário estimado em US$ 42 milhões (aproximadamente R$ 79 milhões) anuais, o piloto de 28 anos é patrocinado por Mubadala, Tag Heurer, AMD, Piaggio Aero, MTV3, Red Bull e Principality Group. O título deve impulsionar sua carreira fora das pistas. Räikkönen, porém, parece seguir alheio às atribuições de campeão da F1. “Eu não me preocupo com as aparências. O título não vai mudar minha vida. O máximo é que vão tentar descobrir mais histórias secretas sobre mim. Mas não vou mudar. Vamos ver o que acontece, não estou preocupado. Vou continuar vivendo minha vida como eu quero?, disse o finlandês após a conquista do primeiro título mundial de sua carreira.