A crise financeira global começa a ganhar eco no mundo esportivo e faz sua primeira ?vítima?: os Jogos Olímpicos de Londres. Os organizadores do evento anunciaram um déficit de US$ 439,2 milhões devido ao financiamento da Vila Olímpica e informaram que enfrentam dificuldades para obter crédito privado para desenvolver os projetos de infra-estrutura. Até o momento, o caos econômico era tratado apenas como um ?fantasma? que rondava o esporte sem, no entanto, causar danos efetivos a nenhuma competição ou categoria. O anúncio do comitê organizador de Londres 2012 deve mudar esse cenário. ?A crise está golpeando os Jogos, mas nós estamos tentando protegê-lo. No entanto, existem fatores que nós não podemos controlar. A Vila e o centro de transmissões estavam planejados em um contexto econômico determinado e tiveram de se adaptar a outro?, disse John Armitt, presidente da entidade inglesa. Sem saída, o comitê deve recorrer ao fundo de emergência do governo para pagar a construção dos alojamentos dos atletas e do centro de imprensa. As obras, orçadas em 1 bilhão de libras, estão sendo conduzidas pela Land Lease, que tem enfrentado problemas para conseguir empréstimos bancários. No futebol, a Uefa afirmou que os clubes fortemente endividados podem ser excluídos das próximas copas européias. O cerco foi apertado após a Federação Inglesa (FA) ter divulgado que suas equipes devem, no total, 3,8 bilhões de euros, incluindo os poderosos Chelsea (792 mi de euros), Manchester United (772 mi de euros) e Arsenal (343 mi de euros). ?A medida é absolutamente possível, mas adotaríamos todos os modos de comunicação e advertências antes de chegar a esse extremo?, destacou David Taylor, secretário geral da Uefa. A crise, porém, só respingou em Liverpool e Manchester United até agora. O primeiro teve de adiar a construção do novo estádio, enquanto que o time de Cristiano Ronaldo viveu o temor de perder seu principal patrocinador, a American Insurance Group (AIG), que esteve à beira do colapso, mas foi salva por um investimento de US$ 85 bilhões do banco central dos Estados Unidos. Na Espanha, os especialistas apontam para as camisetas ?brancas? de Racing Santander, Almeria, Betis, Deportivo La Coruña, Málaga e Mallorca para explicar os efeitos da crise na Liga. Já os italianos temem a venda da Roma caso a UniCredit, afetada pelas turbulências, exija da família Sensi, proprietária do clube, o pagamento de uma cota de 176 milhões de euros até dezembro. A dívida total é de 362 milhões de euros. Nesse panorama, até a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), tem tomado suas precauções. O presidente da entidade, Max Mosley, se reuniu na última quarta-feira com Luca di Montezemolo, dono da Ferrari e dirigente da Associação de Equipes da Fórmula 1 (Fota), para analisar os próximos passos da categoria. ?Desde antes da atual crise, está claro que a F-1 é insustentável. É uma situação muito séria. Acabaram os dias em que se podiam gastar 100, 200 ou 300 milhões de euros por ano?, avaliou Mosley, sinalizando para uma redução significativa e urgente dos gastos para a próxima temporada. Segundo a revista ?Formula Money?, as escuderias gastaram US$ 1,6 bi em 2008, US$ 130 mi a mais do que em 2007. Neste ano, a Super Aguri teve de se retirar da categoria após não conseguir patrocínio para disputar o Mundial. ?A gente acredita que o esporte seguirá independentemente do que aconteça no mundo econômico. Nunca aprendemos com os nossos erros e gastamos mais e mais?, disse Flavio Briatore, diretor da Renault. Na última segunda-feira, considerada por especialistas como uma reedição da ?segunda-feira negra? da crise de 1987, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York teve queda de 504 pontos. Em meio ao caos, jogadores e ex-jogadores da NBA, de acordo com estimativa do investidor William Diamond, perderam, no mínimo, US$ 100 mi em ações. Entenda a crise: A derrocada financeira global teve início nos EUA em março de 2007, com a crise do “subprime”, como é chamada a modalidade de empréstimos de segunda linha no país. Com o aquecimento do mercado imobiliário, as financeiras americanas passaram a confiar de modo excessivo em pessoas que não tinham bom histórico de pagamento de dívidas. O bom momento econômico de então, com taxas de juros baixas no país e boas condições de financiamento, fez os americanos se endividarem para comprar imóveis. Os bancos decidiram transformar os empréstimos hipotecários em papéis e venderam a outras instituições financeiras, culminando em uma perda generalizada. Alguns dos maiores bancos do país anunciaram prejuízos bilionários e tiveram de ser socorridos. As conseqüências da crise do “subprime” têm se propagado nos mercados financeiros americanos e mundiais. Nos nove primeiros meses do ano, os principais índices perderam mais de 25%. A crise se agravou no início de outubro com quedas diárias de quase 10% em vários mercados mundiais.