Se representa o sucesso de um projeto importante para o clube, a lotação do Beira-Rio com sócios na final da Copa Sul-Americana também serve de alerta. A pequena movimentação de público que o estádio deve gerar, no futuro, pode reduzir as possibilidades do Internacional, que terá trabalho para impedir uma torcida ?viciada? daqui a alguns anos. O maior exemplo está na Inglaterra. Benchmark de utilização do estádio como fonte de renda, o Manchester United teve de se adaptar a uma nova realidade há dois anos. Com ocupação máxima de um Old Trafford que comportava 68 mil pessoas, o clube viu sua receita em dias de jogos cair, já que o mesmo público não tem interesse em renovar seu leque de produtos oficiais com tanta freqüência. A solução encontrada foi a ampliação do estádio, que passou a ter 76 mil lugares depois das obras. Com isso, o clube pulou do quarto (242,6 milhões de euros em 2006) para o segundo lugar (315,2 mi de euros) na Football Money League, estudo da empresa de consultoria brit”nica Delloitte. Se no Brasil a import”ncia do ?matchday? ainda não é tão grande, a ocupação máxima pode limitar, por exemplo, a ampliação do número de torcedores. Com sua principal propriedade, a experiência de um jogo de futebol in loco, comprometida, a gestão do clube terá dificuldades de convencer a nova geração de que é interessante ser fã do Internacional. A limitação também compromete, por exemplo, ações com visitantes estrangeiros. Possíveis pacotes combinados de turismo têm de ser descartados porque as instalações do clube não comportam um número maior de pessoas. ?Não adianta simplesmente você ter todo o estádio cheio. É interessante você criar novas possibilidades. Na Europa, por exemplo, tem clubes que estão indo no caminho contrário, deixando sempre uma parte das arquibancadas vazias porque sabem que atraem um público que gasta mais?, disse Amir Somoggi, sócio da Casual Auditores Independentes. O Inter, ao que tudo indica, está atento a esse processo. O primeiro passo é o fim da gratuidade a uma parte dos sócios (40 mil em um total de 78 mil), que limita a venda de ingressos a apenas 15 mil. A modalidade de título, que não é mais vendida pelo clube, deve passar por alterações estatutárias em breve, para que seu impacto nas receitas seja reduzido. A projeção de um cenário mais distante, no entanto, não assombra tanto os gaúchos. ?Te diria que hoje não nos preocupa porque não chegamos nesse ponto. A Europa está dez anos à nossa frente, e à medida em que formos evoluindo vamos nos adequando?, disse Jorge Avancini, vice-presidente de marketing do Inter.