Se no “mbito esportivo a próxima edição dos Jogos Olímpicos deve ser consagrada como a maior da história, na esfera política o evento enfrenta uma série de percalços a pouco menos de um ano do seu início. O principal ponto de discórdia é a situação dos Direitos Humanos na China, dominada pelo regime comunista. Alvos de acusações e protestos, as autoridades chinesas transformaram o período que antecede a competição em palanque para divulgar uma nova realidade entre a população e tentar ?maquiar? o nebuloso contexto político e social do país para agradar ativistas, entidades e líderes internacionais. Com cartazes persuasivos espalhados por Pequim, sede do evento, e uma cartilha de boas maneiras distribuída entre os cidadãos, o governo quer fazer da atenção súbita gerada pelos Jogos um ?catalisador? de mudanças positivas no país. Até o momento, porém, a ofensiva não surtiu efeito. Na última segunda-feira, o grupo Repórteres Sem Fronteiras fez uma manifestação nos arredores do museu Olímpico de Lausanne, na Suíça, a favor da liberdade de imprensa na China. ?Hoje na China não há liberdade política, religiosa, sindical e de imprensa. Há milhares de prisioneiros políticos e milhares de execuções a cada ano. Tudo isso é uma oposição completa ao espírito olímpico”, disse o fundador e secretário-geral do grupo, Robert Menard, a jornalistas. Na Europa, há uma corrente que defende um boicote aos Jogos de Pequim. A iniciativa conta com o apoio do vice-presidente do Parlamento europeu, Edward McMillan-Scott. “A Olimpíada é alavanca para que a China faça algo. O mundo civilizado deve utilizar a competição [com um boicote por parte dos atletas] para punir a China e passar uma mensagem de que os abusos contra os direitos humanos não são aceitáveis”, afirmou o representante do órgão legislativo da União Européia. Em Hollywood, artistas como Steven Spielberg, George Clooney e Mia Farrow também apóiam o boicote ao evento. A principal queixa, no caso, é a ligação dos políticos chineses com o governo do Sudão. Desde o final da Guerra Fria, em 1991, que não havia tantos conflitos ideológicos envolvendo a maior competição esportiva do mundo. Durante o processo de candidatura, a tortura, a exploração do trabalho infantil e a pena de morte, práticas comuns no local, eram os principais argumentos contra a candidatura de Pequim. Mesmo sob protestos, o Comitê Olímpico Internacional (COI) optou pelo projeto chinês em detrimento das propostas apresentadas por Paris (França), Istambul (Turquia), Toronto (Canadá) e Osaka (Japão). “Estou convencido de que, assim como os Jogos possibilitarão ao povo da China adquirir uma nova visão a respeito da sua sociedade, eles também ajudarão atletas e visitantes a apreciar a China segundo uma perspectiva mais justa”, afirmou Jacques Rogge, presidente do COI, durante a festa que marcou o início da contagem regressiva de um ano para a competição, realizada no dia 8 de agosto.