Beach tennis atrai elite ao país e vê aumento de 175% no número de praticantes em um ano

Michelle Cappelletti, número 1 do mundo, e o técnico Alessandro Bucelli, que se mudaram para São Paulo - Divulgação

Moda em condomínios, academias e clubes, o beach tennis vive um boom inédito no país. Modalidade surgida nos anos 1980 em Ravena, na Itália, é o Brasil que hoje domina economicamente o esporte.

Em um ano, o beach tennis, que alguns preferem chamar de tênis de praia, viu um aumento de 175% no número de praticantes, atraiu os principais atletas do circuito mundial a virem treinar e morar no Brasil e já está movimentando uma quantia significativa no país.

“Nós estamos falando em um mercado no Brasil hoje de US$ 140 milhões [equivalente a R$ 738,2 milhões, na cotação atual]. O mundo inteiro [do beach tennis] quer estar no Brasil”, afirmou Alexandre Solera, CEO da Heroe’s, uma das principais fabricantes de material esportivo da modalidade, no Brasil.

“Tem liga sendo criada em São Paulo e no Sul. Fora a CBT [Confederação Brasileira de Tênis], que promove eventos, tem outras ligas. Isso tem atraído a atenção de grandes patrocinadores”, acrescentou o executivo.

Crescimento exponencial

Segundo dados da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), que gerencia o beach tennis no país, havia 400 mil praticantes da modalidade em 2021. No ano passado, esse número chegou a 1,1 milhão (crescimento de 175%).  

“O beach tennis cresceu principalmente na pandemia. À época, você só podia jogar tênis e beach tennis porque são esportes sem contato. Não podia jogar futebol. As pessoas chegavam aqui querendo fazer esporte e iam jogar beach tennis. Os jogadores se cumprimentam com a raquete. Não tem contato”, contou Jorge Bauab, sócio-proprietário do Centro de Treinamento (CT) Arena Nacional, na zona oeste de São Paulo, que possui 11 quadras de beach tennis.

O empresário investiu cerca de R$ 3 milhões para montar o CT, cujos campos também podem ser adaptados, em poucos minutos, para vôlei de praia e futevôlei.

“Costumo dizer que qualquer outro esporte cresce aritmeticamente. O beach tennis cresce geometricamente. Porque o cara que joga sempre traz três ou quatro amigos para jogar. O crescimento é muito maior”, destacou Bauab.

Família

Além da pandemia, outros fatores contribuíram para o boom recente da modalidade no país. O Brasil, ao contrário da Itália e outros países europeus, possui clima mais ameno, dando oportunidade para que os atletas possam praticar a modalidade o ano inteiro.

Além disso, o Brasil possui larga tradição em outras modalidades disputadas na areia, como osjá citados vôlei de praia e futevôlei, além de beach soccer e frescobol.

“É um esporte que teve uma aceitação muito rápida, caiu no gosto do brasileiro e que consegue reunir a família inteira em competições. Você joga com seu filho, com seu neto, com sua esposa, no mesmo nível”

Jeferson Pinto, coordenador nacional de beach tennis da CBT

“Hoje, a maioria dos condomínios, clubes e academias tem uma quadra de beach tennis, a maioria das famílias joga beach tennis”, acrescentou o dirigente, que também coloca a crise sanitária de Covid-19 como um dos fatores que favoreceram o crescimento da modalidade.

“Com o afastamento social, o beach tennis tornou-se uma opção de esporte e lazer, triplicando o número de praticantes durante esse período”, apontou.

Líderes do ranking mundial feminino, italianas Giulia Gasparri e Ninny Valentini treinam em Itu (SP) desde o início de 2023 – Divulgação

Torneios oficiais

Com a popularização, as marcas passaram a se interessar pelo segmento, e o número de torneios teve crescimento acelerado. No ano passado, 65% da premiação do circuito internacional de beach tennis foi paga em torneios no Brasil.

Em 2019, ainda antes da pandemia, o país abrigou 40 torneios oficiais. No ano seguinte, com a Covid-19 já espalhada pelo mundo, o Brasil sediou apenas dez competições. No ano seguinte, com a desaceleração do número de infectados, o patamar voltou ao normal, com 40 eventos novamente.

“Em 2022, chegamos ao incrível número de 60 eventos, 92 torneios [contando as diversas categorias], com uma premiação próxima a R$ 2,9 milhões. Para 2023, os números de eventos se manterão nessa média, mas com uma previsão de R$ 3,6 milhões em premiação” comentou Jeferson Pinto.

Alguns fatores ajudam a explicar o crescimento do número de eventos. Em primeiro lugar, o fato do esporte ser bastante democrático, já que dá para crianças, jovens, adultos e idosos jogarem. Além disso, as competições oficiais também contam com categorias para amadores. Então, o atleta pode ter a chance de jogar ao lado do seu próprio ídolo no esporte.

“Cada torneio nosso tem 850 pessoas inscritas. Lancei, semana passada, o Open Arena Nacional by Michelle Cappelletti, que será de 23 a 26 de fevereiro. Já estou com 400 inscritos. Começa na quinta para acabar domingo”, revelou Bauab, que garantiu o direito de usar o nome do beach tenista italiano, número um do ranking mundial para dar nome à competição.

O empresário, além de ser dono do Centro de Treinamento Arena Nacional, também promove torneios em seu espaço. A competição tem diversas categorias para abarcar todo tipo de participante.

“É um mix de profissional com amador. Tem masculino, feminino e misto [em duplas]. Tem torneio por idade. Tem a brincadeira de jogar dupla o pai com a filha, a mãe com o filho. Tem também individual, mas a maioria, 95%, joga duplas”, afirmou o empresário.

As italianas Sofia Cimatti e Nicole Nobile: nova dupla de elite treinando em São Paulo – Reprodução / Instagram (@nicolenobile.bt)

Elite no país

Garantir o nome do principal jogador do mundo para seu torneio não é uma coincidência ou mera forma de atrair o público. Michelle Cappelletti, que também é heptacampeão mundial, mudou-se para o Brasil. Com patrocínio brasileiro, o italiano agora reside em São Paulo, próximo ao CT Arena Nacional, seu novo local de preparação.

A mudança para São Paulo foi boa. O projeto está dando certo. Estamos morando bem perto, na frente do clube. Fica muito confortável pra nós”, destacou Cappelletti, que nasceu em Cesena, na região da Emília-Romagna.

“O CT está bombando, muita gente treinando, jogando, quadras sempre cheias, dia de semana, final de semana. A Arena é uma verdadeira família. São muito carinhosos conosco. Acho que só vai crescer”

Michelle Cappelletti, número 1 do ranking mundial de beach tennis

Junto do beach tenista chegou seu treinador, Alessandro Bucelli, um dos maiores vencedores do circuito internacional, com dois títulos mundiais e vários da Sand Series, equivalente do beach tennis aos Grand Slams do tênis. Bucelli também virou um professor de luxo no CT.

Nosso trabalho está indo bem. Depois de uma ou duas semanas, meus horários de aulas foram esgotados. Estou fazendo um trabalho muito técnico e acho que as pessoas têm gostado”, comentou o técnico.

“Sou um cara muito ambicioso. Em breve, estaremos fazendo capacitação de professores para ter uma qualidade muito grande por aqui, buscando nos tornarmos a melhor academia do mundo”, acrescentou.

A dupla italiana Giulia Gasparri/Ninny Valentini, primeira colocada do ranking feminino, também treina no Brasil. Giulia e Ninny, que são agenciadas pela Solera Sport, de Alexandre Solera, e patrocinadas pela Heroe’s, fazem preparação no Zuma Beach Tennis e moram em Itu, no interior paulista.

Logo atrás de Gasparri e Valentini no ranking mundial, as italianas Nicole Nobile (3ª) e Sofia Cimatti (4ª) também se mudaram para o novo centro mundial da modalidade. Desde o início de fevereiro, a dupla italiana passou a treinar no CT Arena Nacional, em São Paulo.

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