O Comitê Olímpico do Brasil (COB) conseguiu uma solução jurídica para cumprir a decisão do Conselho de Ética do COB (Cecob) de punir a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), sem inviabilizar as atividades da modalidade no país.
O COB, assim como já faz com a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), fará a gestão da verba destinada à CBV via Lei Piva, que destina parte da arrecadação das loterias da Caixa Econômica Federal para o esporte. A informação de que o COB gerirá a verba do vôlei foi primeiro publicada pelo UOL e confirmada pela Máquina do Esporte.
A verba da Lei Piva será usada para pagamento das atividades das seleções brasileiras, seja de base ou adultas, de quadra ou de praia, masculina e feminina. Assim, estará viabilizada a participação do Brasil nos torneios pré-olímpicos para Paris 2024 e nas etapas do Circuito Mundial de vôlei de praia, entre outros torneios. Para os Jogos Pan-Americanos de Santiago, em outubro deste ano, a punição à CBV já estará encerrada.
Sem notificação
Curiosamente, a decisão do Cecob de punir a CBV, o oposto Wallace, do Sada Cruzeiro, e Radamés Lattari, presidente interino da confederação, até hoje não foi comunicada ao Banco do Brasil (BB) nem ao Ministério do Esporte (Mesp).
A Máquina do Esporte apurou que houve um entendimento entre diretoria do COB e membros do Cecob para que o documento não fosse enviado antes que o comitê brasileiro costurasse uma solução jurídica para cumprir a decisão.
Assim, a CBV não correria o risco de ter o patrocínio do BB suspenso ou deixasse de receber repasses do Mesp antes que uma solução fosse negociada. Na decisão do Cecob, há um aconselhamento para que essas verbas parem de ser enviadas à confederação.
Entenda o caso
O Cecob puniu Wallace com cinco anos de suspensão por jogar a final da Superliga Masculina, vencida pelo Sada Cruzeiro sobre o Itambé Minas por 3 sets a 0. Já a CBV, que permitiu a escalação do oposto na partida, terá o vínculo com o COB suspenso por seis meses. Radamés Lattari levou um gancho de um ano.
O jogador postou em fevereiro, em sua conta no Instagram, uma enquete sugerindo um atentado a bala contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na pesquisa, 54% de seus seguidores aprovaram a iniciativa. Diante da péssima repercussão do caso, o oposto retirou o story do ar e gravou um vídeo pedindo desculpas.
A Advocacia-Geral da União (AGU), porém, pediu punição ao atleta, enviando ofícios ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) do vôlei e ao Cecob. À ocasião, o STJD afirmou que não tinha como deliberar sobre o tema, já que o incidente havia acontecido fora das quadras. O Cecob, porém, suspendeu Wallace por 90 dias.
O jogador acabou sendo liberado para atuar pelo STJD e teve a decisão confirmada pelo Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA). De posse desses documentos, Wallace foi liberado para jogar, o que fez com que o Cecob agisse com rigor.
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Solução negociada
Durante a semana, o COB negociou com o Cecob uma solução menos dolorosa ao vôlei. Houve a proposta para que a CBV admitisse que errou ao liberar a escalação de Wallace. Com isso, o oposto teria a pena reduzida de cinco para um ano. O período de punição contaria a partir da primeira pena, estabelecida em fevereiro. Ou seja, na prática, o jogador ficaria fora das quadras por nove meses.
A CBV não seria suspensa do guarda-chuva do COB. E Radamés Lattari também seria liberado da punição de seis meses. A CBV, porém, recusou a oferta. Há expectativa de que a confederação recorra ao CBMA ou à Justiça comum contra a punição.
O COB, no entanto, espera que a CBV aceite a punição. Segundo um dirigente consultado pela Máquina do Esporte, a esperança no comitê é que a confederação acate a decisão do Cecob e que Banco do Brasil e Ministério do Esporte não deixem de aportar recursos ao vôlei.
“Esperamos que a temperatura não suba mais”, afirmou esse dirigente.
Procurada para comentar o caso, a CBV não se pronunciou. Esse texto será atualizado caso a entidade se manifeste.