Wallace Souza, de 36 anos, jogador do time de vôlei do Sada Cruzeiro, postou uma enquete no story de seu Instagram sugerindo um atentado ao presidente Lula. O jogador, que é apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro e defensor do armamentismo, publicou uma foto com uma arma.
Em seguida, postou uma mensagem enviada por um seguidor, que perguntou: “Daria um tiro na cara do Lula com essa 12?” Na postagem, Wallace escreveu: “Alguém faria isso” com um emoji de anjo sorridente. Abaixo, colocou uma enquete com as alternativas “sim” e “não”. A maioria dos seguidores (54%) respondeu que “sim”.
Após péssima repercussão nas redes sociais, o campeão olímpico nos Jogos do Rio 2016 apagou a mensagem. No entanto, houve tempo suficiente para que vários prints do story passassem a circular nas redes sociais e gerassem repercussão.
Em Brasília (DF), Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, informou ter acionado a Advocacia-Geral da União (AGU) para tomar providências sobre o caso.
“Esta postagem foi feita pelo jogador de vôlei do Sada Cruzeiro, e ex-atleta da seleção brasileira, Wallace Leandro em seu Instagram. Já acionei a AGU e vamos tomar todas as providências necessárias. Não vamos tolerar ameaças feitas por extremistas e golpistas!”, tuitou o político.
Repúdio no vôlei
Em seu Twitter, Ana Moser, ministra do Esporte e ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, também criticou a postagem incitando violência.
“Antes de atleta, o jogador Wallace é um cidadão brasileiro e deve responder às nossas leis e instituições”, afirmou.
Outra ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei envolvida na política brasileira, a senadora Leila Barros (PDT-DF), também escreveu mensagem repudiando a enquete.
“Diante de um país conflagrado pela polarização política, é essencial que formadores de opinião preguem a paz, o respeito e a união. Infelizmente, a postagem do Wallace não representa a essência do esporte, que desde o princípio ensina a importância de respeitar nossos adversários”
Leila Barros, ex-jogadora de vôlei e atual senadora
“A repercussão do caso demonstra que a ampla maioria dos brasileiros não tolera mais nenhum tipo de atitude que propaga e estimula o ódio”, acrescentou.
A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), por sua vez, também veio a público para repudiar a manifestação de ódio do atleta.
“A CBV repudia qualquer tipo de violência ou incitação a atos violentos, e entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como o respeito, a tolerância e a igualdade”, destacou a entidade.
O Sada Cruzeiro, clube de Wallace, divulgou mensagem em seu story no Instagram dizendo que não avalizou a mensagem propagada por seu jogador. O clube afirmou que é preciso responsabilidade no uso das contas em mídias sociais.
“As redes sociais podem parecer um espaço em que tudo está liberado, sem muita avaliação das possibilidades de interpretação, e isso é uma armadilha gigantesca”, afirmou o clube, que prometeu realizar um trabalho educativo para seus integrantes sobre como utilizar essas plataformas, que são uma maneira de os ídolos falarem diretamente com seus fãs.
“Reforçaremos com todo o nosso staff, atletas e comissão técnica sobre a importância da responsabilidade no uso das mídias digitais. Ressaltamos, principalmente, que a violência nunca deve ser exaltada ou estimulada, e da parte do Sada Cruzeiro pedimos sinceras desculpas a todos”, disse o clube.
Horas depois, o Sada Cruzeiro divulgou outa nota oficial dizendo que “exigiu do atleta Wallace a plena retratação e um pedido de desculpas a todos que se sentiram ofendidos com as suas postagens”.
O clube também avisou que “conforme previsto em contrato, o Sada Cruzeiro informa que Wallace será punido com afastamento e uma suspensão por tempo indeterminado a partir desta terça-feira [31]”.
Desculpas
Diante da repercussão negativa vinda de Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG), Wallace postou um vídeo em sua conta no Instagram pedindo desculpas pelo ocorrido. Leia abaixo a declaração do jogador:
“Fala, pessoal! Estou aqui para falar sobre os stories de ontem, junto da enquete que acabou gerando uma repercussão social muito ruim. Quem me conhece, sabe muito bem que eu jamais incitaria a violência, em hipótese alguma, contra qualquer pessoa, principalmente o nosso presidente. Então, venho aqui pedir desculpas.
Foi um post infeliz que acabei fazendo. Errei. Estou aqui pedindo desculpas porque, quando você erra, não tem jeito, você tem que assumir o erro e se desculpar. Jamais tive a intenção de incitar violência, ódio. Não é da minha pessoa. Foi isso o que o esporte me ensinou. E não é isso o que quero passar para ninguém. Tá bom? Um abraço.”
Racismo
O jogador que postou mensagem sugerindo um atentado contra o Presidente da República já foi vítima de ódio dentro de quadra. Há 11 anos, em jogo do Sada Cruzeiro contra o Minas Tênis Clube pela Superliga de Vôlei, o oposto foi alvo de racismo de torcedores, em um dos incidentes mais vergonhosos da competição.
Após fazer um ponto para o Sada Cruzeiro, um torcedor do rival o insultou: “Wallace, seu macaco, volta para o zoológico”. O jogador ficou bastante abalado e confessou que isso atrapalhou seu desempenho na partida.
“É muito revoltante escutar uma coisa dessas, não dá para aceitar”, contou Wallace, após a partida.
“Foi até melhor eu não ter conseguido ver a pessoa, pois eu podia ter perdido a cabeça na hora. Isso me tirou um pouco do jogo”, acrescentou.