Nesta semana, a Máquina do Esporte divulgou duas notícias que talvez ilustrem o momento que o mercado do running vive no Brasil após a pandemia de Covid-19 ter perdido força. A Vivo passou a ter modelos de relógios da Polar à venda nas lojas físicas e on-line, enquanto a Netshoes criou um tênis exclusivo em parceria com a Adidas.
É a aproximação de uma das maiores operadoras de telefonia do país com a corrida e a iniciativa de uma varejista esportiva de ter um tênis para chamar de seu. Com as duas se unindo a marcas esportivas consagradas para alcançar seus objetivos.
A lista de marcas interessadas no running tem ganhado peso. É cada vez mais comum ver a cerveja sem álcool da Heineken, a Heineken 0.0, nas arenas de provas. Entre tantas outras, a Granado tem prova proprietária. A Sephora também. A Live!, em parceria com a XP, criou logo um circuito inteiro que passa por diversas cidades do país. Há prova que homenageia o café, com diversas marcas do produto como patrocinadoras, outra que homenageia o trigo, também com empresas especializadas fazendo aporte.
Com relação às provas, aliás, há ainda as beneficentes, as vinculadas a clubes de futebol, a personagens famosos (como Marvel, DC Comics e Disney, entre outros) e as tradicionais (como Circuito das Estações, Circuito Athenas e Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, entre outras), sem contar as diversas etapas espalhadas pelo interior de São Paulo e de outros estados, as que alcançam alguns milhares de corredores, como as Maratonas e Meias-Maratonas Internacionais nas principais capitais e, por último, a icônica São Silvestre (que não, não é uma maratona).
O assunto aqui não era para ser as provas em si. Mas também vale citá-las para comprovar como o interesse das marcas esportivas vem crescendo desde que elas perceberam o aumento de praticantes da modalidade decorrente da pandemia. Esporte democrático e que permite ser praticado sozinho e ao ar livre, a corrida serviu como válvula de escape para muita gente em meio à Covid-19.
No ano passado, a Nike criou o Troféu Nike. A Fila iniciou uma Maratona de Revezamento que já está com inscrições abertas para este ano. A Puma patrocinou corridas femininas. A Olympikus retomou o circuito proprietário Bota Pra Correr e já está com inscrições abertas para as etapas de 2023. A Asics investiu no circuito proprietário Golden Run. A Adidas abraçou a criação do circuito de provas de revezamento Centauro Reveza. A Brooks foi, pela primeira vez, marca oficial de algumas provas selecionadas. A Track&Field, em parceria com o Santander, retomou a enorme lista de provas do circuito Run Series pelo país.
Já este ano, a Hoka estreará como marca esportiva da Speed Run. A Olympikus fechou patrocínio à Maratona de Porto Alegre. A On Running é a marca esportiva oficial do Circuito das Estações 2023, além de outras provas, e terá corridas proprietárias pela primeira vez no país neste ano. A Mizuno já anunciou patrocínio ao circuito Indomit Ultratrail, de trail running. E por aí vai.
Para esse tanto de prova, é preciso muito equipamento. E as marcas não param de lançar novidades. Só para citar algumas delas, há a Asics com o Nimbus 25, a Adidas com o Ultraboost Light, a Fila com o Float Elite, a Olympikus com as atualizações da Família Corre, incluindo um tênis para trilha, a Mizuno com o Wave Rebellion Pro e quatro lançamentos para trilha, a Nike com o Vaporfly 3.
Ah, e sem contar as incontáveis novidades em relação a outras peças necessárias para os corredores, como camisetas, regatas, bermudas, shorts, meias, bonés, viseiras, relógios. A lista de produtos parece infindável.
Só que o mercado também tem os seus pontos negativos para o corredor. É claro que não é nada fácil, nem barato, organizar uma prova, mas, em geral, elas estão com kits cada vez mais enxutos, só que com valores cada vez mais exageradamente salgados. Os tênis, então, meios de transporte dos corredores, parecem ter seus preços vivendo em uma realidade paralela.
É preciso que as marcas encontrem um equilíbrio. O que não deveria ser difícil se levarmos em conta que, com valores um pouco mais acessíveis, seja nos equipamentos, seja nas provas, a tendência é que o mercado aqueça ainda mais, atraindo mais brasileiros e empolgando cada vez mais aqueles que já estão inseridos nesse universo.
Se o mercado de running parece não ter limite no lado positivo (e é bom que não tenha), é necessário que ao menos uma espécie de limite financeiro, um freio, seja colocado o mais rápido possível. Ou o corredor não vai aguentar.
Wagner Giannella é praticante de corrida de rua desde 2007 e editor-chefe da Máquina do Esporte