Um dos painéis mais interessantes do “Major Events International Summit”, no Museu Olímpico de Lausanne, na Suíça, na última semana, foi, na minha opinião, justamente o com título mais polêmico: “Risky Business: Why is running sport getting more difficult” (“Negócio Arriscado: Por que lidar com esporte está ficando cada vez mais difícil”, em tradução livre). Nada animador para um encontro que se propunha a movimentar o mercado de organização de eventos esportivos. Mas muito real.
Foi quase uma terapia de grupo. Diferentes visões convergindo para um mesmo desafio de prever o imprevisível. Afinal, depois que os Jogos Olímpicos de Tóquio foram adiados pela pandemia de Covid-19, ficou a lição de que nada é impossível. “O Comitê de Coordenação dos Jogos Olímpicos virou um grande gabinete de crise”, resumiu uma das palestrantes do painel 100% composto por mulheres, diga-se de passagem, todas lideranças e referências internacionais da indústria esportiva.
Hoje, já há diversas empresas que levantam a bandeira da prevenção e da gestão de risco em eventos esportivos, sejam eles ocasionados por vírus, mudanças climáticas, corrupção, questões financeiras ou bate-bocas em redes sociais. Evitar que o circo pegue fogo (ou apagar o incêndio no picadeiro) virou, mais do que nunca, um grande negócio.
“Atualmente, a mídia e o ambiente digital escrutinam cada milímetro dos eventos. Estamos muito mais expostos e, por isso, o pré-evento deve ser muito mais minucioso”, declarou Sarah Lewis OBE OLY, diretora executiva da Global Sports Leaders.
Shelby Mull, diretora de comunicação e marketing da Federação Internacional de Hóquei, lembrou do tempo em que planejar a comunicação era simplesmente um exercício de botar na agenda o dia e os temas dos press releases (comunicados de imprensa). O controle do conteúdo tinha dono e era linear, diferentemente dos dias de hoje, em que a estratégia deve contemplar todos os “se” e todos os desdobramentos possíveis das diversas interpretações que uma vírgula fora do lugar ou uma imagem feita para chocar podem acarretar.
Atualmente, organizadores de eventos não podem prescindir de um programa de sustentabilidade, de políticas de igualdade de gênero, de proteção contra abuso e assédio, de treinamento de porta-vozes. Trata-se de prevenir antes de precisar remediar.
Mas, ainda assim, todos temem aquele momento imponderável quando “não se tem mais volta” e é justo quando o comitê organizador local alega estar sofrendo com inflação e cortes de orçamento, como destacou Karena Vleck, da Federação Internacional de Atletismo.
Nesse caso, a reflexão vai além: o gigantismo e a complexidade dos eventos combinam com os dias de hoje?
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte