Estudar na mais famosa escola de negócios do mundo sobre os assuntos de que mais gosto é, sem dúvida, um privilégio. Como professor e entusiasta do “lifelong learning” (“formação contínua”, em tradução livre), já imaginava que seria uma experiência daquelas, mas nada deve ser mais gostoso do que ter as nossas expectativas superadas, concorda?
Há algum tempo, tinha o desejo de me inscrever no curso “Os negócios de entretenimento, mídia e esportes”, de Harvard, conduzido pela espetacular Profª Anita Elberse. Nesse ano, finalmente deu certo! Conheci seu trabalho por meio do livro “Blockbusters” e, desde então, venho acompanhando a sua jornada.
O Campus da Harvard Business School já impressiona na chegada. Além de toda história e simbolismo do lugar, as lindas construções, a mistura de modernidade com tradição, a zeladoria dos amplos gramados e o solícito atendimento de todos os membros do staff são elementos que fazem cada participante se sentir em um hotel cinco estrelas.
O programa prevê hospedagem no próprio Campus da universidade, favorecendo assim dias intensos e de muito contato entre os participantes, não somente durante as aulas, mas também nas refeições, nos happy hours e nos momentos de grupos de estudo.
Um dos destaques do curso é a presença de atletas, ex-atletas, atores e atrizes. Afinal, toda edição conta com nomes de relevância. Dessa vez, alguns dos nossos colegas de classe foram Francis Ngannou e Kamaru Usman (do UFC), Andre Holland (ganhador do Oscar com “Moonlight”), Cézar Azpilicueta (do Chelsea), Jameis Winston (quarterback do New Orleans Saints, da NFL), Sol Campbell (ex-zagueiro da seleção inglesa de futebol) e Eniola Aluko (ex-jogadora do Chelsea e da Juventus), além de profissionais experientes da indústria do esporte e entretenimento provenientes do mundo todo, entre eles quatro do Brasil.
O método Harvard de ensinar é bastante conhecido e reconhecido. Ele se fundamenta em metodologias ativas, principalmente na fusão do storytelling com o Problem Based Learning (PBL), seguindo um estudo de caso, modelo que exige a preparação aprofundada do aluno com a leitura cuidadosa do material, respostas antecipadas às questões colocadas no caso e participação em aula. Tudo isso é primordial para que o conteúdo seja bem absorvido.
Diferentemente do modelo tradicional de ensino, a didática se baseia no que chamamos de aprendizagem ativa. Dessa forma, a dinâmica em aula faz com que a professora exponha o conteúdo aproximadamente por 30% do tempo no total. Os outros 70% do tempo são destinados às discussões em sala de aula. Logo depois de uma rápida abertura, já se propõe uma das questões contidas no material, abrindo para que os alunos comecem a compartilhar suas percepções.
É muito curioso notar que os alunos americanos, aparentemente “mais treinados” na metodologia, são os primeiros a levantarem a mão e colocarem suas opiniões. Entretanto, aos poucos, todos os demais se habituam e passam a socializar seus diferentes pontos de vista, os quais vão construindo uma experiência rica e diversa. Anita, como uma maestra, consegue identificar impressões divergentes, vai anotando na lousa e então convida a todos para um debate, fazendo com que os 78 participantes não desgrudem os olhos da conversa. Para os apaixonados pelo tema como eu, observo que a mestra é capaz de trazer a emoção de um jogo ou de um show para dentro da sala de aula.
As temáticas passam por casos reais e diversos, de Jay-Z a Beyoncé, de PSG a NFL, de Disney+ a Mr. Beast (o maior youtuber do mundo), com direito à presença do CEO da empresa em sala, sempre com dilemas reais vividos pelos protagonistas. Ao final de cada sessão, conhecemos o que aconteceu depois de cada uma dessas histórias. Anita oferece aprendizados muito bem estruturados e discussões que invadem o intervalo.
A indústria de esporte e entretenimento muda a cada ano no mundo todo. É por isso que fórmulas clássicas (e antigas) de sucesso já não resolvem mais os novos problemas, fazendo com que a necessidade de atualização seja constante.
Volto para casa, então, com a sensação da emoção de testemunhar uma nota 10 em Saquarema ou daquela expectativa de ouvir o primeiro riff do show do Foo Fighters.
Quem sabe algum professor de marketing esportivo por aí não se anima em fazer algo similar para estudar cases da indústria brasileira?
Ivan Martinho é presidente da World Surf League (WSL) na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte