A Copa do Mundo Feminina é um dos grandes eventos esportivos (quiçá o maior) de 2023. Em uma época em que o governo da Arábia Saudita resolveu abrir os cofres, visando atrair grandes estrelas de diferentes modalidades (Cristiano Ronaldo no Al-Nassr está aí para comprovar) e também se tornar sede de competições de peso, chama a atenção o fato de a nação do Oriente Médio estar de fora da lista dos principais patrocinadores do torneio. Mas ela bem que tentou.
Os patrocínios e apoios à Copa do Mundo Feminina 2023 são dominados por marcas globais como Coca-Cola, Adidas, Visa e Hyundai. Há também diversas empresas chinesas, das quais o Grupo Wanda talvez seja a mais conhecida. Isso sem contar companhias de Austrália e Nova Zelândia, países que sediam a competição. No início do ano, porém, quando a lista dos parceiros do Mundial ainda não estava definida, o governo saudita iniciou um movimento para se tornar apoiador do evento.
Uma investida iniciada em abril utilizou a Autoridade Nacional de Turismo do país, conhecida internacionalmente como Visit Saudi. Além de toda a mídia proporcionada pela Copa Feminina em si, o eventual patrocínio abriria portas para que a marca associada ao país árabe estivesse presente ao redor do mundo nos eventos oficiais promovidos pela Federação Internacional de Futebol (Fifa).
Porém, ao contrário do que se tem observado nos últimos tempos, especialmente nas modalidades masculinas, a tentativa saudita de garantir seu quinhão na Copa Feminina acabou encontrando uma forte reação, a começar por parte das próprias atletas.
Alex Morgan e demais atletas criticaram
Diversas vozes de peso no futebol feminino resolveram se manifestar contra essa investida saudita. Alex Morgan, uma das principais estrelas dos Estados Unidos, país que venceu as duas últimas edições do torneio, foi uma das que engrossaram o coro contra esse possível patrocínio.
Foi uma saraivada de críticas tão sonora e incômoda que a própria organização do evento decidiu vir a público em março e dar fim às conversas. James Johnson, CEO da Federação Australiana de Futebol (FA), declarou, à época, que havia um “um esmagador consenso de que essa parceria não se alinha com as nossas visões coletivas para o torneio e está muito abaixo das expectativas”.
Diferentemente do que se observou no Catar na Copa do Mundo 2022, desta vez os organizadores e as marcas envolvidas no evento estiveram mais sensíveis a questões relacionadas aos direitos humanos. Contribuiu para isso o fato de a Fifa e as empresas apostarem no discurso de empoderamento feminino, diversidade, igualdade e inclusão. Valores e práticas que colidem com a realidade de países como a Arábia Saudita, onde, além de serem privadas de direitos básicos, mulheres e pessoas LGBTQIA+ são perseguidas quando tentam reivindicar seu espaço. O país só passou a contar com uma seleção feminina de futebol no ano passado, tamanhas são as barreiras para a participação das mulheres na sociedade.
Uma fala de Alex Morgan deixou evidente o desconforto ocasionado pela tentativa de patrocínio, que acabou enfim sendo recusada.
“Moralmente, é algo que não faz sentido. É bizarro que a Fifa aceite um patrocínio da Visit Saudi, quando eu, Alex Morgan, não seria apoiada ou aceita naquele país. Não compreendo. O que a Arábia Saudita deve fazer é apoiar a sua seleção feminina, criada recentemente, mas que nem sequer aparece no ranking da Fifa de tão poucos são os jogos em que participa. Quanto à Fifa, espero que tome a decisão certa”, afirmou a atleta.
Vale lembrar que, na época em que a parceria era cogitada, a entidade alegava que usaria o dinheiro da Visit Saudi para impulsionar o futebol feminino ao redor do mundo.