“Paris é uma festa” é o título em português de um livro póstumo de Ernest Hemingway. E é também uma frase que descreve bem o espírito que toma conta da capital francesa, faltando exatamente um ano para o início dos Jogos Olímpicos de 2024.
A bordo de um barco no Sena, a tocha olímpica de Paris 2024 foi enfim apresentada ao público. Projetada pelo designer Mathieu Lehanneur, o objeto tem suas curvas inspiradas no icônico rio, que é um dos símbolos da “Cidade Luz”.
Ganhador de oito ouros olímpicos no atletismo, o jamaicano Usain Bolt recebeu a tocha olímpica diretamente das mãos do três vezes campeão olímpico na canoagem Tony Estanguet, presidente do Comitê Organizador de Paris 2024, durante a cerimônia.
Tal como toda festa, a de Paris 2024 teve também seus contratempos, dos quais os mais notórios foram as ondas de protestos que atingem o país europeu nos últimos meses, motivadas principalmente por reformas econômicas propostas pelo governo do presidente Emmanuel Macron, mas que têm outros componentes, incluindo violência policial e aumentos de preços.
E uma festa, para ser digna desse nome, sempre tem contas a serem pagas. O orçamento elaborado pelo Comitê Organizador de Paris 2024 prevê que os Jogos custarão € 4,38 bilhões (mais de R$ 23,5 bilhões, na cotação atual). Por isso mesmo, patrocinadores são essenciais para a concretização do evento.
Ao todo, os Jogos de Paris 2024 já somam parcerias com 62 marcas, sendo 14 na categoria mundial, 6 na premium e 14 na oficial. Além dessas, há 28 apoiadores oficiais, que são, em geral, empresas francesas menos conhecidas, mas algumas com presença global, como a Fnac Darty, a companhia de locação de materiais de construção Loxam, a empresa de serviços de alimentação Sodexo e a subsidiária de distribuição de energia Enedis.
Até a semana passada, Paris 2024 já havia ultrapassado a marca de € 1 bilhão em parcerias, apenas com patrocínios domésticos. Os mais recentes contratos firmados pela organização foram com o Grupo LVMH, holding francesa especializada em artigos de luxo, estimado em cerca de € 150 milhões, e com a companhia aérea Air France, oficializado na semana passada.
Vitrine francesa
Os patrocínios ao Jogos Olímpicos de Paris 2024 têm sido encarados pelas empresas francesas como uma vitrine importante para suas marcas nacionais. Elas são a maioria entre os parceiros premium e oficiais do evento, casos de Carrefour, Sanofi, FDJ, GL Events, Groupe BPCE e Decathlon.
Vale destacar também a presença de companhias que contam com participação estatal em seu quadro acionário, caso da empresa de telecomunicações Orange (minoritária), da produtora e distribuidora de energia EDF e da Île de France Mobilités (nestas duas, o governo é investidor majoritário).
Com relação à Île de France Mobilités, responsável pelos serviços de transportes coletivos da Região Metropolitana de Paris, ela se vê, nos últimos tempos, em meio a uma série de dores de cabeça por conta, justamente, das obras de mobilidade e de modernização para receber os Jogos Olímpicos no ano que vem.
Valérie Pécresse, presidente da empresa, comentou publicamente, na semana passada, sobre a necessidade de investimentos na ordem dos € 500 milhões para que a capital do país fique apta a receber os Jogos. Ela defendeu o aumento das taxas para turistas como modo de custear as obras de mobilidade urbana, sem a necessidade de repassar os custos aos moradores da Île-de-France, região administrativa onde Paris está localizada.
Marcas globais
As empresas francesas só perdem espaço na lista de patrocinadores de Paris 2024 quando se analisa a categoria mundial (Worldwide Partners). Nessa lista, estão presentes as marcas globais Airbnb, Alibaba, Allianz, Atos, Bridgestone, Coca-Cola, Deloitte, Intel, Omega, Panasonic, P&G, Samsung, Toyota e Visa.
Dessa relação, apenas a Atos, que atua na área de tecnologia de informação e conta com mais de 120 mil funcionários, é sediada na França.
Outros desafios
A realização dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 envolve diversos desafios, que vão além da infraestrutura do evento em si, ou mesmo das obras de mobilidade.
Prometida há 33 anos, quando Jacques Chirac ainda era presidente da França, a limpeza completa do Rio Sena vai enfim sair do papel. Dentro de um ano, a previsão é de que atletas olímpicos mergulhem nas águas do rio para a disputa das provas de maratona aquática e triatlo.
A cidade de Paris e as comunidades vizinhas investiram € 1,4 bilhão até o momento para tornar as águas do Sena apropriadas para banhistas.
A segurança é outro ponto que tem merecido atenção redobrada por parte dos organizadores do evento. Em Paris 2024, são aguardados cerca de 10,5 mil atletas, além de 45 mil voluntários. Até o mês passado, quase 7 milhões de ingressos já haviam sido vendidos. A carga total é de 10 milhões de entradas.
As preocupações envolvem não apenas a segurança física, mas também no ambiente virtual, naquela que deverá ser a mais conectada de todas as edições dos Jogos Olímpicos (em que a internet será essencial para o sucesso das transmissões ao vivo, em especial no streaming).
A Agência Nacional Francesa para a Segurança dos Sistemas Informáticos (Anssi) passou seis meses elaborando um mapeamento completo, com o objetivo de coibir ataques cibernéticos.
O orçamento do órgão para garantir a ciberssegurança de Paris 2024 é de pouco mais de € 10 milhões, e um terço dos profissionais da Anssi estarão com suas atenções voltadas aos Jogos Olímpicos no ano que vem.