O Guarani vem passando por um processo de reestruturação econômica, mais do que dobrou o número de sócios-torcedores nesta temporada e, com um pouco mais de fôlego financeiro, mira a conquista de uma vaga na Série A do Brasileirão. O clube atualmente é o quarto colocado na classificação geral, com 54 pontos em 31 jogos.
Segundo o Relatórios Convocados feito a partir dos balanços dos clubes, as dívidas do Guarani atingiram R$ 118,7 milhões no ano passado. O montante atual não foi divulgado pela diretoria do clube campineiro. Porém, houve aprovação do processo de recuperação judicial em março.
“Um dos nossos principais objetivos, desde que assumi a presidência do Guarani, é zelar pela saúde financeira do clube. A diretoria trabalha, diariamente, para reduzir e estabilizar as dívidas. Para aperfeiçoar a maneira que trabalhamos, nós implementamos um novo sistema administrativo, contábil e financeiro”, afirmou André Marconatto, presidente do Guarani, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Com a recuperação judicial, apresentamos um plano de pagamento aos credores para resolver de vez todo o passivo cível e trabalhista. Hoje, nossa prioridade é cumprir com os pagamentos de folha salarial, impostos, entre outras obrigações do dia a dia”, acrescentou o dirigente.
Sócio-torcedor
Outra iniciativa importante foi a reformulação do programa de sócio-torcedor do clube, buscando atrair mais associados para ajudar a trazer mais público ao Estádio Brinco de Ouro da Princesa e impulsionar a equipe, além de garantir mais saúde financeira para o dia a dia do Guarani. O número de torcedores no programa mais do que dobrou, embora ainda seja baixo em relação à capacidade do estádio (29.130 lugares).
“O Guarani tinha 2.300 sócios no antigo plano. Com a transição para o novo Sócio-Campeão, aumentou para, aproximadamente, 5 mil. O nosso objetivo, com o novo programa, é trazer uma versão mais moderna e tecnológica. Queremos impulsionar o Sócio-Campeão e estreitar os laços entre o clube e os nossos apoiadores”, explicou o dirigente.
Com mais sócios-torcedores e um processo de pagamento de dívidas mais equilibrado, o clube pôde montar um time competitivo, capaz de brigar pelo acesso à Série A. O Guarani não joga a primeira divisão desde 2010 e busca retornar à elite depois de 14 anos.
“O nosso orçamento para investir em jogadores não é farto, por isso a importância deste trabalho minucioso de mapeamento de mercado. Acredito que estamos no caminho certo. A nossa equipe está fazendo uma grande campanha na Série B”, celebrou Marconatto.
Caso o time se mantenha no G4 e garanta um lugar na elite em 2024, terá um crescimento de receitas. Mas também enfrentará um enorme desafio para não cair.
“Do ponto de vista financeiro, óbvio que estaríamos em um cenário de mais receita, seja de televisão, bilheteria, ou até mesmo possibilidades mais vantajosas de agregar acordos comerciais. Porém, um acesso à Série A não mudará a nossa maneira de trabalhar”, destacou Marconatto.
“Independentemente dos resultados, estamos comprometidos com a reestruturação financeira do clube, com métricas e estratégias bem definidas. Não podemos contar com um dinheiro que ainda não recebemos”, acrescentou.
O bom desempenho em campo atrai novas parcerias. Nesta segunda-feira (9), o clube anunciou acordos de patrocínio com a rede de lojas Saci Tintas e a marca Glasu!. O logotipo da Glasu! já esteve estampado no uniforme do Bugre, logo abaixo da gola frontal da camisa, na partida contra o Vila Nova, no último sábado (7). O acordo, cujos valores não foram divulgados, será válido até 2025.
SAF e liga
A mudança de gestão de clube associativo para a formação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) é uma das possibilidades estudadas pelo Guarani, embora no momento não seja uma prioridade da diretoria.
“Nosso intuito é deixar o clube organizado, com uma gestão transparente, para não perdemos nenhuma oportunidade que, de repente, possa aparecer. O foco principal segue sendo a estruturação das dívidas para deixarmos a casa em ordem. Este é o nosso maior alicerce para que, com ou sem a SAF, a agremiação volte a crescer”, afirmou o presidente do Guarani.
A equipe campineira foi uma das que aderiu à Liga do Futebol Brasileiro (Libra) durante as tratativas para a formação de uma liga nacional a partir de 2025, quando o atual contrato de direitos de transmissão chegar ao fim.
“Nós participamos de debates constantes, junto dos maiores clubes do país, para a criação de uma liga forte e estruturada, que alavanque as receitas das equipes”, contou Marconatto.
No momento, essas conversas parecem ter dado em nada, já que houve a formação de três blocos comerciais, que estão longe de se unir. Além da Libra, há a Liga Forte Futebol (LFF) e um grupo independente gerido por SAFs, formado por Botafogo, Coritiba, Cruzeiro e Vasco.
Como integrante da Libra, o Guarani negocia a venda de direitos comerciais do Brasileirão com a Mubadala Capital, investidora do bloco de clubes. Por enquanto, o contrato não foi acertado, mas o Guarani já recebeu um adiantamento de R$ 3 milhões da investidora dos Emirados Árabes Unidos.
“O interesse do grupo Mubadala, fundo mundialmente consolidado e com capital próprio para esse investimento, demonstra a seriedade da Libra. As tratativas avançam a cada dia, e acreditamos que em pouco tempo estarão finalizadas as negociações”, informou o dirigente.