O Fundo de Investimento Público (PIF), do governo da Arábia Saudita, fez uma oferta de US$ 2 bilhões, válida por 90 dias, para fundir os circuitos masculino e feminino de tênis. Segundo o jornal britânico The Telegraph, os quatro torneios de Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open) não fariam parte do circuito.
A temporada seria aberta com um torneio Masters 1000, algo que vai contra o que é defendido por Craig Tiley, CEO da Tennis Australia e diretor do Australian Open, que criou a United Cup, competição realizada no início do ano em Brisbane, Perth e Sydney, com a participação de 18 países e que serve de torneio de abertura do calendário.
As desavenças em torno desse torneio são o principal motivo do distanciamento entre Tiley e o italiano Andrea Gaudenzi, presidente da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP), que gere o circuito masculino.
No último sábado (9), uma reunião realizada em Indian Wells propôs a unificação dos circuitos masculino e feminino de tênis, com premiação igualitária e a criação de um Premium Tour, do qual fariam parte os quatro Grand Slams e dez competições: Doha, Monte Carlo, Roma, Madri, Toronto/Montreal, Cincinnati, Indian Wells, Miami e Pequim. Há ainda uma outra cidade, com piso de grama, cuja escolha ainda não foi feita.
Desse circuito, participariam os 96 principais tenistas do ranking mundial. Haveria outro circuito, para atletas com ranqueamento inferior e premiação menor.
Gaudenzi se mostrava contrário a essa proposta, pois rejeita dar ainda mais status aos quatro Grand Slams. Agora, sabe-se que o dirigente tinha uma carta na manga. O italiano ambiciona ser o diretor-geral do novo circuito unificado.
Decisão
A ATP já havia adiado sua reunião anual, que seria realizada durante o Miami Open, na semana que vem, para acontecer em Madri, na Espanha, em maio. À ocasião, provavelmente será tomada a decisão a respeito da oferta do PIF.
Caso seja aceito, o novo modelo seria implantado no início de 2025. A WTA, que gere o circuito feminino, já havia programado o WTA Finals, torneio que encerra a temporada, para o início de novembro, em Riad, na Arábia Saudita. O novo calendário do tênis, que seria rebatizado como PIF Tour, representaria também uma oferta unificada pelos direitos de transmissão.
A dificuldade para a fusão dos circuitos masculino e feminino de tênis é o fato de que a ATP arrecada consideravelmente mais do que sua versão feminina. Enquanto o circuito masculino possui faturamento de £ 238 milhões, a WTA arrecada £ 90 milhões.
Um entrave adicional para a unificação é o afastamento de Gaudenzi dos organizadores dos principais torneios do circuito internacional. Ele propôs que a ATP retirasse pontos de Wimbledon em 2022 por causa da exclusão de jogadores russos e bielorrusos da competição, em retaliação à Guerra da Ucrânia.
Outro ponto de discórdia é com o organizador do Australian Open, Tiley, por conta da criação da United Cup, em 2023.
Divisão
O PIF, por sua vez, já mexeu com as estruturas do golfe, com a criação do LIV Tour. O país também tem promovido algumas das principais lutas de boxe em Riad. Já no Reino Unido, o fundo saudita comprou o Newcastle, clube que disputa a Premier League.
Por outro lado, a proposta de criação do Premium Tour não tem envolvimento do PIF. Entre as competições previstas nesse novo calendário, nenhuma será na Arábia Saudita. Recentemente, o All England Lawn Tennis & Croquet Club (AELTC), onde é disputado o Torneio de Wimbledon, rejeitou uma oferta de patrocínio do PIF.
Com isso, também é possível que o tênis abandone suas associações tradicionais que gerem os circuitos masculino e feminino (ATP e WTA) e venha a ter dois modelos de calendário de competições, um financiado pelo PIF e outro gerido pelo novo Premium Tour. O entendimento entre os dirigentes, no momento, parece estar longe de acontecer.