Com a necessidade de dinheiro no curto prazo e vendo na disputa entre Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e Liga Forte União (LFU) a possibilidade de aumentar seu faturamento com direitos de mídia, o Corinthians tentou promover um leilão para vender os direitos de transmissão de seus 19 jogos como mandante no próximo ciclo do Brasileirão (2025 a 2029).
E, após flertar com uma saída da Libra e migração para a LFU, o clube deve terminar, de uma forma ou de outra, acertando com a Globo a venda de seus direitos de mídia.
Depois de recusar a oferta da emissora para a Libra, o Corinthians chegou a receber uma sondagem da LFU para ceder seus direitos ao grupo. Essa proposta expirou nesta quarta-feira (13) e não foi para frente porque, no meio do caminho, surgiu uma oferta da Brax para a venda dos direitos. Agora, há apenas a agência e a Globo nessa disputa. Sendo que a tendência é de que, de uma forma ou de outra, o clube assine um contrato de mídia com a emissora.
A Globo já anunciou, na semana passada, um contrato de aquisição dos direitos de transmissão com nove times da Libra para 2025 a 2029, envolvendo todas as plataformas (TV aberta, TV fechada e streaming/PPV). Fazem parte desse grupo Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Santos, Atlético-MG, Grêmio, Vitória, Bahia e Red Bull Bragantino, além de outros clubes que possam integrar o grupo da Libra no futuro.
A oferta da Globo é de R$ 1,3 bilhão por temporada para TV aberta e TV fechada, com adicional pelo que for arrecadado com pay-per-view. Sem o Corinthians, essa oferta caiu 10%. O time do Parque São Jorge, por sua vez, dono da maior torcida em São Paulo e da segunda maior do Brasil, queria ganhar algo equiparado ao Flamengo, o que a oferta da Globo não abarcava.
A proposta da Globo segue a divisão de receita no modelo 40% igualitário entre os clubes, 30% pela performance esportiva e outros 30% de acordo com a exibição de jogos nas duas plataformas. É um formato que é aceito pelo Corinthians, mas envolve risco de perda de arrecadação por conta disso.
Com o impasse, a LFU decidiu assediar o Corinthians. Para isso, ofereceu um mínimo de ganho garantido, algo que ia contra os próprios preceitos do grupo, que era radicalmente contra a existência desse tipo de privilégio no contrato de TV anterior dos clubes com a Globo.
Brax chega… e dá força à Globo
A proposta da LFU vinha ganhando corpo no Corinthians, ainda mais por envolver o empréstimo de R$ 100 milhões ao clube pela assinatura. O dinheiro viria do fundo de investimentos XP que, ao lado da agência LiveMode, lidera a área comercial do bloco de clubes.
Até que a agência de marketing esportivo Brax, que já fechou contrato com o clube paulista para comercializar as placas da Neo Química Arena nesse período de 2025 a 2029, ofereceu o valor de R$ 240 milhões anuais pelos direitos de mídia do Corinthians no Campeonato Brasileiro.
A oferta balançou a diretoria do clube, e deu forças para a Brax conseguir a assinatura do contrato. Segundo apurou a Máquina do Esporte, a agência envolveu outras propriedades além dos direitos de transmissão do Brasileirão para justificar o investimento.
A expectativa de ganho dela com o negócio é clara. Mesmo se tiver prejuízo na revenda dos direitos de mídia para as emissoras, ela recupera o investimento com a comercialização das placas de publicidade estática na Neo Química Arena.
Basicamente, a Brax tenta evitar que o Brasileirão para o Corinthians tenha o mesmo problema que o Campeonato Paulista vem enfrentando desde que aderiu ao projeto multiplataforma da LiveMode em parceria com a Federação Paulista de Futebol (FPF). O torneio trocou a exclusividade da Globo por parcerias com Record, TNT/Max e YouTube, e tem tido queda brusca de audiência e dificuldade em arrecadar com publicidade estática, já que o torneio perdeu alcance de mídia.
A agência de marketing, de olho em uma valorização e maior visibilidade das placas do gramado, tende a repassar os direitos de transmissão do Corinthians para a Globo, seguindo o modelo adotado pela emissora com a Libra. Isso garantiria por volta de R$ 200 milhões para a agência, que teria de tentar retirar o prejuízo de R$ 40 milhões em outras frentes.
Para piorar, no cenário atual, Record, SBT e Band dificilmente fariam uma oferta mais vantajosa para o Corinthians, já que teriam direito a apenas um clube para comercializar mídia. Na TV fechada, não há movimentação de outros players pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, o que deixa o mercado muito concentrado nas mãos do Grupo Globo.
LFU vê força da Libra aumentar
A LFU não se manifesta desde que a Libra anunciou um acordo com a Globo no valor de R$ 1,3 bilhão e afirmou que aceitaria a entrada de outros clubes individualmente. O bloco, apesar de contar com 11 times no Brasileirão deste ano, sabe que a maior parte das equipes com maior audiência, como Flamengo, Palmeiras e São Paulo, estão no grupo rival. E isso lhes assegura maior arrecadação com a venda de direitos.
A LiveMode, agência que tem assessorado os clubes na questão relativa aos direitos de mídia, havia dito que conseguiria arrecadar R$ 3 bilhões pelo Brasileirão. Essa previsão, porém, está cada vez mais sendo colocada em xeque pelos dirigentes dos clubes da LFU.
A Globo, pela proposta feita à Libra, “balizou” o mercado estabelecendo o valor de mídia do Brasileirão. É muito pouco provável que os times da LFU, tendo o Corinthians como trunfo ou não, conseguirão uma oferta melhor do que a Libra para negociar seus direitos.
A liga unificada, por sua vez, não deve ser formada, ao menos para o próximo ciclo. Segundo dirigentes ouvidos pela Máquina do Esporte, os grupos distanciaram-se quando a LFU vendeu parte de seus direitos comerciais a investidores. E ficaram num abismo ainda maior desde que a Libra fechou acordo com a Globo.
Clube, agência e ligas não se pronunciam
Desde a última sexta-feira (8), a reportagem da Máquina do Esporte tem tentado contato com Corinthians, Brax, LiveMode e LFU para que comentem as movimentações dos bastidores. Todos os envolvidos se recusaram a falar com a reportagem, afirmando que não poderiam se pronunciar.
O espaço segue aberto para que os executivos se manifestem.