A punição de dois anos de suspensão de Gabriel Barbosa, o Gabigol, por tentativa de fraude em um exame antidoping pode não manchar a imagem do atacante do Flamengo junto aos torcedores. Porém, terá reflexo na atratividade do jogador para as marcas.
“A punição é por uma questão comportamental, e não por utilização de doping. Mas é claro que, para um atleta do gabarito dele, se confirmada a pena, não é sadio sair dos holofotes por dois anos”, analisou Bernardo Pontes, sócio da agência Alob Sports e colunista da Máquina do Esporte.
“Haverá um impacto. Marcas buscam quem está em destaque. Haverá um distanciamento do Gabigol com algumas marcas que teriam potencial de patrociná-lo”, acrescentou Pontes, que é especialista em gestão de imagem.
Do lado do Flamengo, por sua vez, ficar sem um de seus principais ativos em campo por mais um ano pode gerar prejuízo financeiro, mas também de imagem.
“Se o clube não fizer nada diante dessa situação, haverá mais prejuízo de imagem do que financeiro”, disse Ary Rocco Júnior, professor de gestão esportiva na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP).
“O Flamengo terá que buscar diminuir o prejuízo financeiro, mas pode aproveitar a situação para rescindir o contrato e ficar sem um atleta que causa danos à imagem do clube”, completou.
Entenda o caso
A punição a Gabigol começou a ser contada a partir da data da coleta da amostra, em abril de 2023, quando o jogador teria desrespeitado a equipe de antidoping, em um exame fora de competição realizado no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo.
Como houve atraso no julgamento do caso sem ter sido por culpa do jogador ou da defesa, o período de suspensão é contado a partir da data do incidente, e não da punição. Gabigol estava sujeito a uma pena de até quatro anos de suspensão.
À ocasião, o atacante flamenguista foi o único jogador do time que se recusou a fazer o teste antes do treino. Após a atividade, teria ido almoçar, tratado a equipe antidoping com desrespeito e pegado o vaso coletor sem avisar os responsáveis.
Depois, irritou-se com o oficial do antidoping que o acompanhou ao banheiro para a coleta da amostra. Ao final do teste, devolveu o frasco aberto, ao contrário da orientação que havia recebido.
“Quem está julgando o caso pode entender essas atitudes como interferência no exame. E o artigo 122 do Código Brasileiro Antidopagem [CBA] fala especificamente em fraude ou tentativa de fraude do controle”, explicou o advogado Thomaz Mattos de Paiva, especialista em antidoping.
A defesa de Gabigol, conduzida pelo advogado Bichara Neto, contratado pelo Flamengo, argumentou que o exame do jogador não acusou doping, o que o livraria da punição. No entanto, o atleta foi considerado culpado por suas atitudes.
“Gabigol é considerado um atleta de nível internacional. Por isso, é julgado pelo pleno do TJD da ABCD [Tribunal de Justiça Desportiva da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem]. O recurso é remetido à CAS [Corte Arbitral do Esporte, na sigla em inglês]”, contou Paiva.
Segundo a Máquina do Esporte apurou, a defesa tentará conseguir um efeito suspensivo da pena na CAS. Assim, o atleta estaria apto a voltar a campo.
Crise e oportunidade
Para Pontes, o comportamento de Gabigol no incidente com o controle antidoping não ajuda a trabalhar sua imagem para o mercado e o público em geral.
“O Gabriel tem esse estigma de atleta marrento e intocável. E uma situação comportamental dessas atrapalha ainda mais. Não só pela punição, mas também pela mensagem que está deixando para o mercado de que pode ter outros momentos em que tenha comportamentos semelhantes”, afirmou o executivo de marketing.
“Há um outro lado. É a oportunidade de criar uma estratégia de humanização desse ídolo que é o Gabigol. De toda dificuldade se cria uma oportunidade”
Bernardo Pontes, especialista em gestão de imagem
Para Rocco Júnior, a suspensão não prejudica a imagem consolidada de Gabigol como ídolo do Flamengo, construída por ter feito os gols decisivos nas finais da Libertadores em 2019 e 2022, contra River Plate e Athletico-PR, respectivamente.
“A imagem do Gabigol é de um cara folgado, marrento, arrogante. Esse episódio do antidoping prejudica ainda mais a imagem dele entre o público que não é torcedor do Flamengo. O comportamento extracampo é bastante negativo”, ponderou.
“Lógico que, para os flamenguistas, a performance acaba anulando qualquer outra coisa. Mas ele terá que reconstruir sua imagem, caso deixe o Flamengo”, finalizou.