“Nós não temos nada contra o modelo utilizado pelo Corinthians, que colocou uma série de patrocinadores em seus uniformes, mas temos outra ideia aqui. Temos espaços para apenas duas marcas nas nossas camisas”. A declaração foi dada por Júlio Casares, vice-presidente de comunicações e marketing do São Paulo, em junho de 2009. Menos de dois anos depois, o time do Morumbi apresentou a Ale, sexta empresa que aparecerá até o fim da temporada no fardamento tricolor. Com isso, escancarou um racha em sua diretoria.
A negociação com a Ale, que foi intermediada pela agência de marketing esportivo TWF, foi inteiramente conduzida por Adalberto Dellape Batista, que era diretor de marketing do São Paulo. Na última quinta-feira, o presidente Juvenal Juvêncio oficializou a migração do executivo para a diretoria de futebol.
As conversas entre Ale e São Paulo começaram quando o clube procurava cotistas para o projeto Luis Fabiano. O retorno do camisa 9 ao Morumbi, baseado em um extenso planejamento de marketing, também foi conduzido por Batista.
O que os fatos mostram é uma diferença de visão entre Batista e Casares sobre a política de patrocínios do São Paulo. Enquanto o vice-presidente sempre defendeu o uso de poucas marcas e a valorização de parcerias de longo prazo, o diretor conduziu negócios pontuais e criou novas propriedades comerciais no uniforme.
No entanto, uma frase dita por Batista na última quinta-feira mostrou que a situação é ainda pior. “Isso é uma manifestação de torcedor. Em nenhum momento o São Paulo teve uma posição oficial contrária a ter mais patrocínios”, disse o diretor, em entrevista coletiva, quando foi questionado sobre as declarações de Casares em 2009.
A Ale estampará até dezembro deste ano os calções (perna direita, acima do número) e os ombros (lado esquerdo no uniforme branco, lado direito no uniforme vermelho) do São Paulo. Para isso, a empresa pagou R$ 2 milhões.
O São Paulo ainda tem no uniforme as marcas de BMG (peito e costas), Yázigi (mangas), TIM (interior do número), Copagaz (barra traseira da camisa) e Reebok (fornecedora de material esportivo). Na estreia do atacante Luis Fabiano, a Visa ainda vai aparecer na altura da barriga dos atletas, abaixo das faixas horizontais.
A diluição dos acordos comerciais foi o meio encontrado pela diretoria do São Paulo para se aproximar de uma meta de R$ 40 milhões de arrecadação de patrocínio que o clube havia estabelecido para este ano. Segundo Batista, o time tricolor ficou perto desse valor após ter fechado com a Ale.
O problema é que o diretor de marketing, que conseguiu impor suas opiniões nas últimas decisões da pasta, não responde mais por essa área. O novo ocupante do cargo é Rogê David, que já entra em um cenário conturbado.
No início de sua trajetória no cargo, David tem dois caminhos: pode manter a política implantada por Batista, que mostrou força e que não está mais na pasta, ou pode retomar preceitos defendidos por Casares, que no organograma está acima dele.
A estocada de Batista em Casares só mostrou que essa disputa entre os dois dirigentes é mais do que ideológica. Os dois dirigentes foram procurados pela reportagem da Máquina do Esporte, assim como David, mas nenhum deles atendeu as ligações.