A palavra da moda é “experiência”. Tudo é experiência: uma visita a um museu é uma experiência imersiva, o cinema vira uma experiência além da tela, ir ao restaurante tal para jantar é uma experiência gastronômica, uma viagem virou turismo de experiência…
Tudo é experiência, tudo é experimentável, um rótulo adotado para criar a impressão de algo especial ou exclusivo. Marcas e empresas pagam caro por projetos e serviços em busca da oferta de experiências para fidelizar e conquistar fãs e clientes, investimento que, muitas vezes, abusa da pirotecnia, mas não entrega resultados.
Sabe aquela história do simples e eficiente? Do feijão com arroz bem temperado?
Nas últimas semanas, vivi duas experiências diferentes, que fazem uma conexão muito simples: a do fã com o ídolo. Nos meus 25 anos trabalhando com atletas, sempre me obriguei a ter um olhar atento a isso, a enxergar oportunidades e maneiras de manter os ídolos próximos de seus fãs. Os ídolos de hoje estão cada vez mais distantes, mas o esporte é feito de paixão, e essa paixão precisa ser alimentada.
Por isso, decidi falar sobre o “Café com Zico” e o “Gigantes do Museu”.
Esse tipo de encontro, por si só, traz encantamento e é carregado de sentimentos que não precisam de um embrulho caro. São os detalhes que fazem com que sejam especiais. O objetivo é muito simples: ser marcante, inesquecível. Isso não tem preço. O Café foi emocionante, impactante e, principalmente, hoje é recorrente (já foram mais de dez edições), um sucesso de “público e crítica”. E o Gigantes vai pela mesma linha.
Não sou torcedor do Flamengo, não tenho Zico como ídolo da infância. Mas isso não quer dizer que não tenha enorme respeito por sua história e admiração por quem ele é. Zico é, atualmente, um parceiro de negócios, alguém que não chegou onde chegou só pelos gols e títulos, mas, sim, por seus princípios, valores, carisma e humildade.
Zico é um dos maiores nomes do futebol mundial, mas não se comporta como tal. E, se isso é claro para quem o conhece de perto, para quem não convive com o Galinho, fica muito claro no Café com Zico, um evento intimista, bem organizado pelo meu amigo Bruno Neves e que oferece a tal experiência no formato que agrada ao fã. No fim, é isso que importa.
Por mais de três horas, o maior camisa 10 da história da Gávea conta histórias, responde perguntas, bate caneca, tira fotos, dá autógrafos, recebendo os fãs e torcedores em seu clube (o CFZ, no Rio de Janeiro) para um café da manhã que mais parece uma resenha entre amigos.
Sentados ao lado de Zico, os mais velhos viajam no tempo, se emocionam, perdem a fala, se conectam com uma memória afetiva que torna o encontro com o ídolo ainda mais emocionante. E enquanto os marmanjos viram criança e vão às lágrimas, os mais novos entendem um pouco da razão para tamanha idolatria.
Dias depois, fui ao Gigantes do Museu, projeto do amigo Sérgio Pugliese que reúne, duas vezes por mês, ídolos das antigas dos grandes clubes do Rio de Janeiro para uma rodada de pizza e uma jornada de boas histórias. Fui ao evento em que estavam Zé Mário, Wilsinho “Xodó da Vovó” e Acácio, nomes importantes da história do Vasco. E olha que também não sou vascaíno.
Casa cheia e um ar de nostalgia que proporcionou aos ex-jogadores uma recepção que os emocionou. Sem “dress code”, sem regras, um encontro pensado para lembrar e contar histórias. Ali estavam torcedores de várias épocas, crianças e jovens que não os viram em campo, mas que aprenderam o quão importante foram em campo com a camisa cruz-maltina.
Assim como no evento de Zico, o Gigantes tem uma execução cuidadosa e simples, com um objetivo muito claro: render homenagem àqueles nomes que acabam sendo esquecidos com o passar dos anos.
Ver o sorriso no rosto dos três vascaínos, vê-los passando de mesa em mesa, tirando fotos, assinando camisas. A felicidade do reconhecimento estava no rosto. Ali, estavam sentindo algo que faz falta aos craques do futebol que saem dos holofotes: o carinho dos torcedores.
Essa é a essência do Gigantes, que nasceu do Museu da Pelada, projeto de conteúdo sensacional capitaneado e produzido com capricho por Pugliese. E não há quem não curta o Museu. Se você ainda não conhece, vale buscar o canal no YouTube.
Café e Gigantes possuem pontos em comum que explicam o sucesso: a paixão de Bruno e Sérgio pelo que fazem, o respeito que nutrem por esses craques, o carinho com que organizam os eventos e a emoção (difícil de descrever) dos fãs e torcedores que vivem esse momento único de estarem ao lado de seus ídolos.
Experiências, enfim, que ficam na memória.
Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte