Nos últimos anos, as plataformas de mídia têm sofrido grandes mudanças, principalmente no que se refere ao consumo de conteúdo em vídeo. No Brasil, a TV por assinatura surgiu na década de 1990. Em 2014, tivemos o pico no número de domicílios atendidos, com cerca de 21 milhões de assinantes. E, de lá para cá, os números de conexões legais diminuem a cada mês, chegando a menos de 50% deste número atualmente.
Ainda em 2014, as negociações de conteúdo incluíam o que chamávamos à época de “TV Everywhere”, o que nada mais era do que a possibilidade de assistir aos canais que você assina via provedor de TV paga por meio de aplicativos no celular ou tablet em qualquer lugar.
Mais recentemente, os aplicativos se desenvolveram e criaram vida própria, com conteúdo exclusivo além do que já é entregue via canal linear na TV paga. É assim que conseguimos assistir a todos os jogos simultâneos da Champions League na Max ou a todas as quadras de um Grand Slam dentro do Disney+, sim, Disney+, pois, a partir da última quarta-feira (26), todo o conteúdo do Star+ passou para lá, e o Star+ foi descontinuado.
O número de assinantes nos aplicativos de streaming vem crescendo consideravelmente, mas ainda não compensam as perdas dos assinantes da TV paga, o que acaba reduzindo o orçamento das plataformas para aquisição de conteúdo.
Todo este preâmbulo foi apenas para exemplificar um movimento que está acontecendo mundialmente, afinal, o impacto pode ser maior ou menor em um mercado ou outro, mas ninguém questiona que há impacto.
Alguns casos recentes que podemos citar são justamente a Ligue 1, que está com dificuldades de chegar aos valores pretendidos no seu mercado doméstico. A Premier League, por sua vez, celebrou recentemente uma extensão do seu acordo, comemorando o fato de ter conseguido manter o mesmo valor do contrato anterior. Mas, neste caso, tem um truquezinho que mostra que até por lá a conta está difícil de fechar. Para que a principal liga do mundo conseguisse manter a mesma receita do contrato anterior, ela teve que aumentar em 35% a entrega de conteúdo. No contrato atual, apenas 200 dos 380 jogos da Premier League são exibidos no Reino Unido. A partir da temporada 2025/2026, este número salta para 270 jogos. Ou seja, apesar do valor total ter se mantido o mesmo, o valor por jogo foi consideravelmente reduzido.
Mas, como o título desta coluna deixa claro, o mercado americano é um caso à parte. Enquanto as principais ligas de futebol do mundo estão sofrendo para manter suas receitas, os números nos Estados Unidos continuam crescendo a todo vapor.
A NFL, depois de conseguir aumentar em mais de 75% o valor dos direitos nos Estados Unidos, ainda conseguiu trazer a Amazon para os direitos do “Thursday Night Football” (os jogos de quinta-feira à noite), o que aumentou em mais US$ 1 bilhão a receita anual. Como os contratos são de 11 anos, estamos falando de acordos que garantem mais de US$ 110 bilhões de receita para a NFL. E, quando achávamos que estes números já eram absurdos, a liga de futebol americano ainda conseguiu aumentar a sua receita ao fechar um acordo de três anos com a Netflix, para a exibição de pelo menos um jogo no dia de Natal. Um acordo que deve gerar cerca de US$ 150 milhões adicionais por ano para a NFL.
Neste momento, a NBA está negociando os seus direitos também. A expectativa da liga de basquete era de que os valores pelo menos dobrassem em relação ao ciclo atual. No entanto, de acordo com a imprensa americana, o aumento pode ser maior, chegando a incríveis US$ 7 bilhões por temporada.
Enquanto o esporte ao redor do mundo está buscando formas alternativas para manter ou aumentar um pouco suas receitas, as ligas americanas continuam dando show e nadando de braçada, utilizando-se da concorrência acirrada do mercado e do valor que o esporte tem para as grandes plataformas de mídia, afinal, o esporte é o único conteúdo que consegue fazer com que o espectador sente-se para assistir na hora em que ele está acontecendo. Filmes, séries, documentários e todo o resto podem ser vistos a qualquer momento.
Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte