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Por € 40 milhões, Barcelona engrossa lista de patrocinados pela República Democrática do Congo

Seguindo exemplo de Ruanda, órgão de turismo do país africano tem firmado parceria com grandes clubes europeus como Milan e Monaco

Jogadores do Barcelona celebram conquista da LaLiga 2024/2025 - Reprodução / Instagram (@fcbarcelona)

A República Democrática do Congo parece estar disposta a reforçar a estratégia de usar a visibilidade proporcionada por grandes clubes europeus para impulsionar o turismo e a economia do país.

Seguindo o modelo já adotado pela vizinha Ruanda, que estampa a marca Visit Rwanda nos uniformes de times como Arsenal, Bayern de Munique e Atlético de Madrid, a República Democrática do Congo já fechou parceria com o Milan, da Seria A italiana, e o Monaco, que disputa a Ligue 1, da França.

Nesta semana, o país, que foi denominado Zaire entre 1971 e 1997 (durante a ditadura de Mobutu Sese Seko), firmou mais uma acordo com um gigante europeu.

Segundo informações da agência Reuters, o mais novo patrocinado da marca RDC Hearth of Africa (República Democrática do Congo Coração da África, na tradução livre) é o Barcelona, atual campeão da LaLiga.

O clube e o governo do país ainda não fizeram o anúncio oficial do acordo. De acordo com a Reuters, o contrato terá quatro anos de duração e deverá render o valor global de € 40 milhões ao Barcelona.

A marca RDC Hearth of Africa deverá ser exibida nas costas dos uniformes de treino das equipes masculina e feminina do clube, além dos canais oficiais de comunicação do time.

Objetivos das parcerias

À primeira vista, os patrocínios milionários da República Democrática do Congo a clubes que figuram entre os mais ricos do planeta (o Barcelona faturou € 760,3 milhões em 2024, segundo o relatório Deloitte Football Money League 2025) talvez possam parecer um disparate.

Afinal, o país ocupa apenas a 138ª posição no ranking de Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Fundo Monetário Internacional (FMI), com US$ 2.457 por habitante. A projeção é relativa a 2024.

A renda per capita do país africano equivale a 7,22% da que vigora na Espanha, país onde o Barcelona está sediado.

Para agravar ainda mais a situação, a República Democrática do Congo tem sido assolada nos últimos anos pela atuação do grupo armado Movimento 23 de Março, em um conflito que lançou 28 milhões de congoleses à condição de fome aguda e que só teve uma trégua após o recente acordo de paz firmado com o governo de Ruanda, acusado de apoiar a milícia (fato que motivou campanhas de torcedores pelo fim do patrocínio de Visit Rwanda a seus clubes).

Apesar de todos os dramas que enfrenta e do custo elevado dos patrocínios, expor sua marca nas camisas dos times europeus é parte de uma estratégia do governo da República Democrática do Congo para fomentar o turismo no país, ajudando a diversificar sua economia, que hoje é dependente da exportação de produtos primários.

Para os clubes europeus, em contrapartida, além dos ganhos financeiros imediatos, os acordos também contemplam parcerias na formação de atletas.

Ao longo das décadas, o continente africano tem fornecido grandes jogadores para o futebol europeu. Ao anunciarem o acordo com RDC Hearth of Africa, Monaco e Milan deixaram claro que pretendem garimpar novos craques no país.

O clube italiano contará com uma Academia do Milan instalada na cidade de Boma, para formar novos talentos.

Outro ganho proporcionado por esse tipo de patrocínio é fortalecer a presença dos clubes na região sub-saariana, a mais populosa do continente.

O Milan, por exemplo, estima contar com 17 milhões de fãs nessa parte da África. O Barcelona, por sua vez, não está alheio a esse nicho e tem aproveitado oportunidades para reforçar sua atuação no local.

No mês passado, por exemplo, o clube catalão publicou vídeo sobre a parceria feita com o patrocinador máster Spotify, a Agência da Organização das Nações Unidas para Refugiados (ACNHUR) e a banda Coldplay.

Os recursos obtidos com a venda da coleção especial que traz a logomarca do grupo britânico foram destinados ao campo de Nakivale, em Uganda, um dos maiores da África e que recebe refugiados de diversas nações do continente, entre elas a República Democrática do Congo, onde o conflito do M23 ocasionou o deslocamento forçado de 7 milhões de pessoas.