Desde a popularização da inteligência artificial (IA), em 2024, as ferramentas baseadas nessa tecnologia têm sido usadas para as mais diferentes funções: algoritmos em redes sociais e buscadores de internet, fornecimento de experiências personalizadas, marketing direto, educação a distância, big data ou mesmo para o puro entretenimento de usuários. Agora, aplicativos prometem também descobrir talentos para o futebol.
É o caso do Footbao, empresa fundada em setembro de 2023, que tem como sócios Boris Collardi, ex-CEO do banco suíço Julius Baer, e Francesco Ciringione, da butique de investimentos First Consulenza AG.
O aplicativo utiliza ferramentas de IA para analisar vídeos postados pelos usuários para identificar craques de futebol e encaminhá-lo a clubes parceiros que sejam capazes de desenvolver esses talentos.
Segundo os desenvolvedores da plataforma, o Footbao é capaz de identificar o jogador que enviou o vídeo e estabelecer parâmetros comparativos, destacando qualidades de jogo, como rapidez de raciocínio, precisão de passe, habilidade com a bola e velocidade.
O vídeo adicionado pelo usuário no Footbao é analisado pela ferramenta, que quebra as imagens em grupos de 100 frames, transformando o filme em um bloco de dados depois enviado ao ChatGPT-4. A IA será capaz de dizer se o jogador está atuando em gramado, quadra de futsal ou de society.
“Outra parte que estamos desenvolvendo é o rastreamento do jogador em campo. A mesma tecnologia que faz rastreamento de carros nas estradas usamos para identificar os jogadores”, conta Nick Rappolt, CEO da Footbao, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Com o tempo, conforme mais dados tivermos, ficará mais fácil para nossa plataforma aprender o que torna um jogador talentoso. Será que é o seu movimento, velocidade, a forma como passam, chutam? Essa é parte da nossa missão, através da tecnologia”, acrescenta o executivo britânico.
Expansão
Os criadores, que têm o Lecce como parceiro na Itália, estão focados em estabelecer expansão no Brasil. No ano passado, a empresa recebeu um investimento de € 5 milhões para isso.
Desde então, firmaram acordos com times como Avaí e Goiás. Os executivos informam que estão em negociação com outras equipes nacionais, incluindo da Série A do Campeonato Brasileiro.
Maior ganhador de Copas do Mundo e berço de grandes craques, o país há tempos se consolidou como um grande fornecedor de atletas para o futebol mundial. Essa fama tem atraído a atenção de outras empresas que utilizam a IA para prospectar novos talentos.
Cuju
O Cuju é outra plataforma que utiliza IA para selecionar jogadores de futebol. Ela foi desenvolvida pela empresa alemã Rogon Technologies, que tem como principal acionista o agente de atletas Roger Wittmann.
A companhia conta com uma série de investidores, incluindo o volante Luiz Gustavo. “Creio que o Cuju é uma plataforma transformadora para os jovens que almejam chamar a atenção de novos clubes e construir uma trajetória vitoriosa no esporte, pois o aplicativo proporciona oportunidades únicas para os jovens atletas”, diz o jogador.
Atualmente contratado pelo São Paulo, ele já atuou por equipes alemãs como Bayern de Munique e Wolfsburg, o que explica sua proximidade com os investidores do país europeu.
“Luiz Gustavo vem com esse olhar para o social, de criar oportunidades para quem mais precisa. O sistema de peneiras que hoje existe no futebol pode parecer democrático, mas está longe disso. Existem vários ‘portões’ barrando o acesso de jovens talentosos”, afirma Thaiany Klarmann, que lidera a área de marketing da empresa.

Na visão dela, a plataforma (que é gratuita para os usuários) pode ajudar a democratizar a seleção dos novos atletas, na medida em que permite a qualquer criança ou adolescente, mesmo distante dos locais onde ocorrem as peneiras, ter seu talento avaliado.
No aplicativo, os candidatos a jogadores gravam vídeos executando tarefas previamente determinadas. “São oito exercícios que seguem o padrão da Fifa e foram pensados por cientistas do esporte e especialistas”, explica Thaiany.
A IA atribui uma pontuação ao usuário e elabora um gráfico que mostra sua habilidade. Os participantes são ranqueados de acordo com idade, região e categoria. De acordo com a executiva, a ideia dos desenvolvedores é incluir, em breve, testes cognitivos e de personalidade no Cuju.
Trabalho humano caminha lado a lado
Apesar de possuir um papel fundamental na identificação dos novos talentos, a IA não dá a palavra final na seleção dos atletas.
“A atuação humana do observador técnico continuará sendo fundamental e vai caminhar lado a lado do trabalho que desenvolvemos. A IA não faz a análise toda do processo de seleção. Mas posso garantir que ela vai trazer pessoas de qualidade para serem avaliadas presencialmente”, diz Thaiany.
No primeiro semestre deste ano, a plataforma realizou o evento ‘’A Jornada’’, que contou com a participação de mais de 80 mil jovens em Santa Catarina.
Além da premiação financeira, os vencedores das categorias feminina e masculina participarão de um período de treinos no Hertha Berlim, da Alemanha. “Vejo que diversos princípios do Cuju são semelhantes aos valores que tive em minha carreira, como resiliência e competitividade. Além disso, tem a importância social, em que ajuda a transformar a vida de jovens de todo o Brasil”, conclui Luiz Gustavo.