A Nike e o Corinthians oficializaram nesta sexta-feira (15) a renovação da parceria por mais dez anos, estendendo o vínculo até 2035. Com isso, a colaboração entre marca e clube completará 32 anos de história, uma das mais duradouras do futebol brasileiro.
Segundo a Máquina do Esporte apurou, o novo contrato prevê luvas de R$ 100 milhões pagas em três parcelas ao longo deste ano. A primeira, de R$ 50 milhões, já entra no caixa do clube em agosto. Outra, de R$ 25 milhões, será quitada até o final do ano, e a última em 2026.
Haverá também pagamento anual fixo partindo de R$ 59 milhões, com reajuste pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA). O IPCA acumula alta de 5,23% nos últimos 12 meses, segundo a última tabela, divulgada em julho.
O Timão também terá bônus por desempenho esportivo, seja para títulos ou vice-campeonatos em competições relevantes. Outra forma de ganho será o direito de receber R$ 25 para cada peça vendida, quando o Timão ultrapassar a marca de 750 mil unidades comercializadas em uma temporada.
“A Nike vai muito além de ser nossa fornecedora. É uma parceira de muitos anos que faz parte da nossa história”, afirmou Osmar Stabile, presidente interino do Corinthians.
A renovação ocorre em um momento de reestruturação da estratégia da Nike no Brasil, com a marca voltando a ampliar sua presença no futebol nacional.
Para o Corinthians, o acordo representa um bom reajuste do contrato atual em um momento de fragilidade econômica e institucional no clube. O time do Parque São Jorge levou um transfer ban da Fifa devido ao não pagamento de parcelas pela contratação do zagueiro Félix Torres, do Santos Laguna. A dívida é de US$ 6,145 milhões e está sendo renegociada pelo clube com o time mexicano.
Adidas
Nos bastidores, a renovação com a Nike foi antecedida por uma intensa negociação com a Adidas. A marca alemã chegou a apresentar uma proposta considerada agressiva, com valores totais próximos a R$ 1,2 bilhão por dez anos de acordo.
O então presidente do Corinthians, Augusto Melo, chegou a anunciar publicamente a mudança de parceiro de material esportivo, que incluía metas de vendas mais altas, bônus por desempenho e royalties escalonados.
A proposta da Adidas previa um modelo de remuneração variável, com royalties a partir de 1 milhão de peças vendidas por temporada. Além disso, havia previsão de participação em ações de marketing e maior autonomia na criação de uniformes.
O Corinthians, porém, não avançou na negociação por temer que a Nike acionasse uma cláusula de renovação automática do contrato atual e o caso fosse parar na Justiça, implicando em multas severas às finanças já desgastadas da equipe e desgaste institucional.
A Nike também garantiu ao Corinthians condições mais vantajosas em relação à proposta da concorrente. Além das luvas, valores fixos e royalties, foram mantidas cláusulas de bonificação por conquistas de títulos nacionais e internacionais.
Estratégia
A renovação com o Corinthians faz parte de uma estratégia mais ampla da Nike no Brasil, operada pela Fisia, empresa do Grupo SBF. Após anos com presença restrita ao clube paulista e à seleção brasileira, a marca voltou a investir em múltiplos contratos no futebol nacional.
“Caminhar com o Corinthians por mais de duas décadas é uma honra imensa para a marca. Cada camisa, ativação e momento compartilhado reforçam nosso compromisso de seguir inovando e fortalecendo essa história juntos”, afirmou Gustavo Furtado, CEO do Grupo SBF.
A Nike, porém, não ficará restrita ao Corinthians no futebol brasileiro na próxima temporada. Em 2025, a empresa de material esportivo já fechou com o Vasco por sete anos, e anunciou acordo com o Atlético-MG a partir de 2026.
A empresa chegou a apresentar proposta ao Grêmio, cujo vínculo com a Umbro se encerra no final do ano, o que ampliaria sua exposição na região sul do país. Mas o Tricolor Gaúcho deve assinar com a New Balance.
A movimentação marca o retorno da Nike à disputa por espaço entre os grandes clubes da Série A. A marca busca ampliar sua visibilidade em campo e fortalecer sua divisão de futebol, que havia perdido protagonismo nos últimos anos.
A estratégia inclui ações de ativação com torcidas, lançamentos de uniformes temáticos e maior presença em competições nacionais e internacionais.
Fisia
A Fisia, distribuidora oficial da Nike no Brasil, registrou receita líquida de R$ 1,046 bilhão no segundo trimestre de 2025, em balanço divulgado nesta semana.
Houve crescimento de 5,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar do avanço na receita, o lucro bruto caiu 2,8%, impactado pela valorização do dólar frente ao real durante o trimestre. Isso elevou o custo das mercadorias importadas. A margem bruta recuou de 44% para 40,5%.
Considerando todo o Grupo SBF, o lucro líquido ajustado foi de R$ 87,2 milhões, com margem de 4,8%. A empresa também reduziu sua dívida líquida em 33,1%, encerrando o trimestre com R$ 506,1 milhões.
A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ficou em 0,68 vez, um patamar mais saudável.