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Sobram clubes, faltam jogos: O Brasil precisa de uma Série E?

Ao ampliar o calendário e integrar mais clubes à pirâmide nacional, o futebol brasileiro não só criaria previsibilidade financeira, mas também fortaleceria sua rede de formação, promoveria inclusão regional e ativaria economicamente regiões hoje pouco presentes no mapa das grandes competições

Retrô-PE foi campeão da Série D do Brasileirão em 2024 - Rafael Ribeiro / CBF

Você sabia que mais de 80% dos clubes de futebol profissionais brasileiros não têm calendário nacional? Isso significa que centenas de instituições disputam apenas Campeonatos Estaduais ou Regionais, normalmente em parte do primeiro semestre de cada ano, e nada mais.

Isso deixa dinheiro na mesa (de todo mundo): menos jogos, menos empregos (para atletas, funcionários e empresas que dialogam com o esporte, desde bares até agências). Nos últimos dias, porém, a criação de uma Série E pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), prevista para até 2027, quer mudar essa realidade, e pode ser a chave para transformar o edifício (ou até sobrado) do futebol brasileiro em algo mais parecido com uma pirâmide de fato.

Hoje, o Brasil tem 690 clubes profissionais (Relatório Convocados de 2025), mas só 124 disputam competições nacionais. Para ampliar esse acesso, o Conselho Nacional de Clubes apresentou duas propostas à CBF: a primeira com a criação de uma Série E com 64 clubes, mas redução da atual Série D para 20 equipes; e outra apenas ampliando a Série D, de 64 para 96 times. Em ambos os cenários, as fases iniciais seguiriam com formato regionalizado, ponto bem importante para reduzir drasticamente os custos de logística.

Como funciona em outros países?

Na Inglaterra, a pirâmide começa na Premier League (20 clubes) e vai da segunda à quinta divisão com o mesmo número de clubes: 24. Daí para baixo, são cada vez mais clubes incluídos até a 10ª divisão, contabilizando mais de mil clubes ativos filiados à Football Association (FA), incluindo clubes semiprofissionais e amadores.

Já na Alemanha, abaixo das três primeiras ligas, temos a Regionalliga, que conta com 90 clubes, divididos em cinco grupos regionais. E, na Itália, a própria Série C já conta com 60 clubes, também divididos regionalmente. Com esta grande quantidade de clubes, em muitos casos, nestes países, as primeiras divisões são geridas pelas ligas, e as divisões inferiores são de responsabilidade das federações locais.

Estaduais menores, nacionais maiores

Por aqui, essa reestruturação também dialoga com a promessa da atual presidência da CBF, eleita com apoio das federações estaduais, de reduzir os Estaduais a no máximo 11 datas. Como a principal porta de entrada para a Série D são os próprios Campeonatos Estaduais, esse encurtamento impacta diretamente os clubes que dependem dessas competições para alcançar o calendário nacional. Ao reduzi-las, a confederação precisaria oferecer alternativas para manter esses times em atividade.

“O que a gente tem certeza é de que precisamos de uma sustentabilidade para os clubes tradicionais da Série D. Hoje, nessa formatação, todos já entram rebaixados”, disse Rogério Siqueira, presidente do ASA (AL).

LEIA MAIS: Clubes da Série D querem propor à CBF a criação de Série E a partir de 2027

Ao ampliar o calendário e integrar mais clubes à pirâmide nacional, o futebol brasileiro não só criaria previsibilidade financeira, mas também fortaleceria sua rede de formação, promoveria inclusão regional e ativaria economicamente regiões hoje pouco presentes no mapa das grandes competições.

Em resumo:

  • 690 clubes profissionais no Brasil;
  • Propostas: Série D com 96 clubes, ou criação de Série E com 64 clubes e Série D com 20;
  • Na Itália, a Série C conta com 60 clubes;
  • Na Alemanha, a 4ª Divisão tem 90 clubes.

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