A Copa América Feminina 2025, realizada de 12 de julho a 2 de agosto, no Equador, alcançou grande repercussão no Brasil.
A final do torneio, vencido pela seleção brasileira, mobilizou uma audiência de 33 milhões de pessoas apenas na TV aberta, com a transmissão da Globo.
O público que acompanhou e comentou sobre a Copa América, em diferentes plataformas, era formado por homens e mulheres. Porém, a forma como cada gênero interagiu com a competição foi distinta.
É o que mostra a mais recente pesquisa divulgada nesta semana pela UnaSports Lab, empresa que é resultado da parceria entre a Vert.se, consultoria de inteligência de consumo e opinião pública, e Dibradoras, veículo de mídia dedicado aos esportes femininos.
O estudo analisou o comportamento das torcedoras brasileiras durante a Copa América Feminina, a partir de conteúdos publicados na plataforma X (antigo Twitter).
Diferenças quantitativas
O estudo foi realizado mediante uma parceria com a Polis Consulting, com base em dados coletados pela plataforma Brandwatch.
A pesquisa detectou 13 mil menções à Copa América Feminina feitas por mulheres, durante o torneio. Essa quantidade equivale a 1.775% a mais em comparação ao mês que antecedeu a competição.
Entre os homens, as publicações relativas à Copa América Feminina 2025 foram 10,1 mil, no período em que o campeonato ocorreu, número 903% superior ao registrado nos dias anteriores ao início do torneio.
O estudo identificou 6.784 autoras únicas mulheres e 5 mil entre os homens. O maior engajamento feminino em relação à competição não se refletiu, porém, no repercussão dos conteúdos publicados.
O alcance total dos posts feitos por mulheres foi de 9,18 milhões, enquanto o dos homens atingiu 12,04 milhões. Já em termos de impressões obtidas, as publicações femininas obtiveram juntas 450,96 mil, enquanto as masculinas chegaram a 777,46 mil.
“Esse cenário pode estar relacionado à diferença no tamanho das redes pessoais, ao engajamento médio das audiências masculinas dentro do universo do futebol ou à forma como o algoritmo distribui os conteúdos, revelando um desafio adicional para a amplificação das vozes femininas no esporte”, afirma o estudo.
Análise qualitativa
As diferenças nas formas de torcer, entre homens e mulheres, ficam evidentes na análise qualitativa dos dados da pesquisa.
Das 13 mil publicações femininas feitas durante o torneio, 73,01% foram positivas, enquanto 23,53% tinham tom negativo e 3,46% eram neutras.
Entre os conteúdos feitos por homens, as menções positivas ficaram em 66,1%, contra 29,02% negativas e 4,7% neutras.
Os sentimentos que motivam os comentários, porém, são muito distintos, de acordo com cada gênero.
“O discurso feminino opera em duas dimensões: celebração simbólica (representatividade, orgulho, legado) e crítica estrutural (igualdade de gênero, organização). Há equilíbrio entre emoção e análise sistêmica”, observa o estudo.
Dessa forma, os comentários positivos das mulheres abordam temas como a maior visibilidade para o futebol feminino, o protagonismo de Marta e a possibilidade de mais investimentos na modalidade, ao passo que os conteúdos com tom negativo trazem questões como desigualdade de gênero e a falta de visibilidade midiática.
Já a abordagem masculina foca sobretudo no desempenho esportivo. “O discurso masculino é mais orientado ao desempenho e às soluções práticas. Reconhece desigualdades, mas as trata como barreiras técnicas a serem resolvidas, não como questões culturais profundas”, diz o estudo.
Oportunidades
Para as autoras da pesquisa, o discurso feminino no esporte vai além do resultado em campo, conectando cada vitória a questões como representatividade, orgulho coletivo e igualdade de gênero.
“Para as marcas, isso significa que as campanhas precisam ir além de celebrar o placar, incorporando mensagens de impacto social e valorização da trajetória das atletas. Ao mostrar que compartilham da luta por mais visibilidade e respeito, as marcas fortalecem sua conexão com o público e reforçam seu compromisso com transformações reais”, afirma o relatório.
De acordo com a análise, as mulheres celebram com intensidade, mas também aproveitam esses momentos em espaço para exigir melhorias estruturais, desde a cobertura midiática até a igualdade de condições.
“Ativar a marca em causas ligadas à profissionalização do futebol feminino, por exemplo, pode gerar maior credibilidade e construir uma conexão mais autêntica e respeitosa”, diz a pesquisa.
Para que a conexão com as torcedoras seja efetiva, é necessário que as marcas mostrem que estão comprometidas com a promoção da igualdade e em ampliar a visibilidade das mulheres no esporte.
Além disso, as autoras sugerem que as marcas procurem personalizar as mensagens distribuídas a cada gênero, levando em conta os sentimentos que movem homens e mulheres.
“Ao dialogar com mulheres, incluir temas de representatividade e valorização; ao falar com homens, destacar performance, investimento e evolução técnica. Essa adaptação torna a mensagem mais relevante e aumenta o potencial de conexão com cada público”, ponderam.