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Eliminação do Botafogo na Copa Libertadores põe em xeque método Textor de gestão

Disparada nos gastos com contratações era justificada pelas receitas com premiações, que podem deixar de vir na mesma intensidade

Jefinho disputa bola com jogador da LDU, na partida de volta das oitavas de final da Copa Libertadores - Vítor Silva / Botafogo

A eliminação do Botafogo na Copa Libertadores 2025, diante da LDU (EQU), traz impactos que vão além das questões esportivas ou mesmo financeiras.

Em uma temporada que, por enquanto, é marcada pela seca de títulos, o resultado da equipe em campo coloca em xeque o próprio método adotado pelo empresário John Textor para gerir a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) alvinegra.

A partir de 2024, o clube carioca disparou os gastos em contratações, buscando ampliar a competitividade da equipe.

Em 2023, os investimentos em elenco feitos pelo Botafogo foram de R$ 252 milhões. A equipe foi eliminada na Copa Libertadores e terminou em quinto lugar na Série A do Brasileirão, depois de passar a maior parte do campeonato na liderança da tabela.

Na temporada seguinte, Textor resolveu abrir os cofres da SAF, destinando R$ 691 milhões para trazer nomes de peso, que ajudaram o time ser campeão nacional e continental, com poucos dias de diferença, e ainda garantir presença na Copa do Mundo de Clubes 2025, da Federação Internacional de Futebol (Fifa).

Segundo a gestão da SAF, o alto investimento contribuiu para ampliar as receitas da equipe, graças ao dinheiro proporcionado pelas conquistas em campo.

No ano passado, o Botafogo faturou R$ 258 milhões com premiações, soma que se deve, principalmente, aos títulos da Copa Libertadores e da Série A do Brasileirão.

Copa do Mundo de Clubes

Na atual temporada, o Glorioso tinha a chance de ver sua arrecadação ser turbinada com base nos resultados esportivos.

Isso porque a Copa do Mundo de Clubes garantiu ao clube US$ 26,71 milhões em premiação, que, pela cotação atual, equivalem a quase R$ 145 milhões.

Porém, essa soma estava sujeita a uma tributação diretamente na fonte, feita nos Estados Unidos. Conforme noticiou a Máquina do Esporte, o percentual de taxação poderia ficar entre 30% e 40%.

Considerando-se que a menor alíquota tenha sido aplicada no exterior e que a premiação está sujeita à cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a tendência é de que o Botafogo leve, da Copa do Mundo de Clubes, algo em torno de R$ 100 milhões.

Ainda que a quantia líquida chame a atenção, ela fica R$ 80 milhões abaixo do valor alcançado pelo time carioca com o título da Copa Libertadores no ano passado. O total acumulado pela equipe na competição foi de US$ 33,34 milhões, em torno de R$ 180 milhões pela cotação atual.

A campanha do time no torneio continental de 2025 rendeu US$ 4,2 milhões na fase de grupos (sendo US$ 3 milhões pela participação e US$ 1,2 milhão pelas quatro vitórias obtidas) e outros US$ 1,25 milhão pela presença nas oitavas de final, totalizando US$ 5,45 milhões, cerca de R$ 29 milhões.

Outras derrotas

O Botafogo iniciou a temporada 2025 deixando de ganhar as premiações máximas em duas competições decididas em jogo único.

No começo de fevereiro, a equipe perdeu a Supercopa Rei para o Flamengo, ficando sem receber US$ 1 milhão destinado pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) ao time campeão.

No fim das contas, o Botafogo levou apenas R$ 6,05 milhões pagos pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para os dois times participantes.

No mesmo mês, o Glorioso voltaria a ser derrotado em uma final, desta vez na Recopa Sul-Americana, que reuniu os campeões das Copas Libertadores e Sul-Americana do ano passado.

Ao perder para o Racing (ARG), o Botafogo deixou de garfar a premiação máxima do torneio, de US$ 2 milhões, levando “apenas” US$ 900 mil pela presença na decisão.

Considerando-se que o time não avançou às finais do Campeonato Carioca (que, aliás, não paga premiação em dinheiro), o Botafogo obteve, pelas participações nos quatro torneios, o equivalente a R$ 140 milhões.

Copa do Brasil salva a temporada?

Atualmente, o Botafogo permanece vivo, por assim dizer, em duas competições nacionais que pagam premiação em dinheiro.

Na Copa do Brasil, a equipe já garantiu R$ 10,7 milhões pela classificação às quartas de final, fase que será disputada diante do rival Vasco.

Se avançar à semifinal, o time embolsará outros R$ 9.922.500. Já a simples presença na final pode garantir pelo menos R$ 33.075.000 (premiação paga ao vice). Se for campeão, ganhará ainda R$ 77.175.000 apenas pela vitória na decisão.

Caso o título venha, o Botafogo pode faturar uma premiação acumulada de R$ 97.797.500, que, somada aos valores obtidos em outras competições, garantiria um total próximo a R$ 237 milhões para o clube. Mas, se cair diante do Vasco, o time da Estrela Solitária verá a soma cair para R$ 150,7 milhões.

Campeonato Brasileiro

Na Série A do Brasileirão, o time ocupa atualmente a quinta colocação, com 29 pontos obtidos em 18 jogos, 14 a menos que o líder Flamengo, que jogou 19 partidas.

Ainda que o título hoje aparente ser uma hipótese remota, ser ou não campeão é um fator que terá pouca relevância na soma que o Botafogo faturará nesta temporada.

Isso porque a diferença entre os valores distribuídos pela CBF na competição varia pouco de acordo com a colocação de cada time na classificação final.

Para este ano, a tendência é que a premiação do campeão brasileiro seja por volta de R$ 50 milhões. Já a do quinto colocado deve ficar próxima a R$ 40 milhões.

Se mantiver a atual colocação no Brasileirão (e dependendo da posição alcançada na Copa do Brasil), o Botafogo poderá levar entre R$ 190 milhões e R$ 287 milhões pelos resultados esportivos obtidos em 2025. Caso seja campeão, ganhará de R$ 200 milhões a R$ 297 milhões.

Embora algumas dessas hipóteses ultrapassem em até R$ 40 milhões a quantia conquistada no ano passado, vale lembrar que a atual temporada precisa ser considerada atípica, por conta da Copa do Mundo de Clubes.

No ano que vem (e nas próximas duas temporadas), o Botafogo não contará com as premiações turbinadas oferecidas pela Fifa.

Não está claro se, nesse cenário, o modelo adotado por John Textor, de intensificar os gastos em contratações, poderá ser mantido pela SAF do Botafogo, ainda mais em meio à disputa que o empresário trava com seus sócios na Eagle Football Holdings.

Além disso, não se pode esquecer que, mesmo no ano de premiações recordes, os investimentos elevados no elenco foram decisivos para o prejuízo de R$ 299 milhões obtido pelo Botafogo na temporada de 2024.