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Renato Gaúcho e os “gênios da internet”

Ex-técnico do Fluminense não erra quando aponta que a internet tem sido um espaço de críticas exageradas ou até mesmo orquestradas, mas o que ele não pode é querer não ser questionado ou confrontado

Renato Gaúcho em sua última coletiva como técnico do Fluminense, após a eliminação na Copa Sul-Americana - Reprodução / YouTube (@fluminensefc)

Renato Gaúcho, agora não mais treinador do Fluminense, pediu demissão após ter seu time eliminado da Copa Sul-Americana, nas quartas de final, pelo Lanús (ARG). A coletiva do então técnico do time carioca teve várias respostas em tons que, embora até naturais para alguém que acabara de ser eliminado, foram desnecessários pela carreira do próprio Renato.

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Em uma das respostas, ele apontou que “o futebol acabou por causa das redes sociais. Tanto para o jogador quanto para o treinador. Hoje em dia, é uma guerra de críticas”. E, na seguinte, arrematou com “essas perguntas todas, de alguns gênios da internet, que muita gente vai atrás desses gênios…”.

Renato não disse claramente – embora devesse – quem são os gênios. São torcedores, jornalistas, produtores de conteúdo? Por óbvio, ainda que tenha muita gente produzindo conteúdo de qualidade, também tem muita gente produzindo conteúdos estritamente pelo engajamento e, portanto, dispensáveis. Para piorar, que movimentam o ódio, característica que funciona bem nas redes sociais, e que não têm compromisso com nada além do engajamento.

Então, Renato não erra quando aponta que a internet, de fato, tem sido um espaço de críticas exageradas ou até mesmo orquestradas, que prejudicam profissionais e esperam que sejam demitidos do clube.

Mas figuras públicas, que trabalham no futebol e que são remuneradas muito acima de outros segmentos, precisam saber lidar com isso. Não pela remuneração, mas porque também são beneficiadas por essas mesmas circunstâncias que eventualmente os incomodam. Quando tudo está funcionando, essa euforia, aliada à falta de compreensão natural das mesmas redes sociais, ajuda na pressão aos diretores despreparados para que contratos sejam renovados, inclusive com aumento para pessoas que já ganham muito bem na elite do futebol brasileiro.

O que Renato não pode é querer não ser questionado ou confrontado. O confronto, a vaia e a insatisfação fazem parte. Sempre foi assim. Renato tem demonstrado pouco apreço aos questionamentos nos últimos tempos, seja nos estádios com vaias, nas redes sociais com críticas ou até mesmo nas coletivas de imprensa com meras perguntas, quando demonstra se sentir ofendido e dá uma resposta ainda pior. E nem estamos aqui entrando no mérito de simplesmente deixar o time, que ainda segue vivo em outras duas competições.

Que Renato Gaúcho é muito bom técnico não há dúvida. Tem feito trabalhos consistentes e é respeitado por isso. Mas não pode imaginar que esteja acima de quaisquer críticas, sejam elas pertinentes ou não. Ou mesmo se perder em um personagem, criado ou real, que destila suas técnicas profissionais com pitadas de prepotência.

É preciso que saiba ser um ótimo treinador, como já me parece ser, mas que também saiba lidar com todas as dificuldades que são inerentes ao futebol, inclusive as indigestas redes sociais e os tais “gênios da internet”.

Vinicius Lordello é diretor de comunicação e relações públicas da N Sports e professor de Comunicação (Gestão de Reputação e Crises no Esporte) na CBF Academy. Foi executivo de comunicação e conteúdo do Santos (2018), do Cruzeiro (2021/2022, na primeira transição para SAF do Brasil) e do Coritiba SAF (2024/2025). Tem dupla graduação (Ciências Sociais e Direito); pós-graduações em Jornalismo Esportivo, Gestão Financeira Estratégica e ESG; MBA em Gestão e Marketing Esportivo; e Mestrado em Gestão de Reputação no Esporte

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