A CazéTV tem adotado uma estratégia voltada à formação de comunidades de torcedores como forma de gerar audiência e engajamento nos esportes olímpicos.
A proposta é semelhante ao propósito do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que busca transformar o país em uma nação esportiva, com mais praticantes e consumidores de esporte.
“Acreditamos muito que o brasileiro gosta de torcer para o brasileiro. Então, muito do que temos feito foi tentar trazer esse espírito de, cara, vamos empurrar nossos atletas, estamos juntos, vamos construir essa comunidade por trás de todos os esportes olímpicos brasileiros”, afirmou Gabriela Nicolino, head de esportes olímpicos da CazéTV, em entrevista à Máquina do Esporte.
Conexão
Para cativar o público, a CazéTV tem apostado em transmissões com linguagem informal, foco em contar as histórias dos atletas e presença de criadores de conteúdo em suas plataformas.
A ideia é gerar identificação e engajamento emocional, especialmente em um ambiente digital onde a troca de plataforma é rápida.
“Se você não entregar e não for verdadeiro naquilo que está comunicando, não tem a menor chance de cativar o público para seguir assistindo aquela transmissão”, acredita Gabriela, que participou de mesa de debate sobre streaming esportivo durante a COB Expo, em São Paulo, na última semana.
“Esse comprometimento individual das pessoas envolvidas transparece totalmente na transmissão”, ressalta.
Desafios
Transmitir modalidades pouco populares ou com uma lógica de disputa de difícil entendimento é um dos principais desafios para essas transmissões.
Para superar essas barreiras, a CazéTV tem feito diversas estratégias, como buscar soluções em formatos alternativos, como compactos e cortes curtos para redes sociais, em vez da transmissão integral da competição.
“Eu, particularmente, venho do pior esporte do mundo para se transmitir que é a vela. São sete dias de competição no alto mar. Ninguém consegue assistir ao vivo num campo de 6 milhas náuticas. Nem eu gosto de assistir vela”, comentou.
A ex-velejadora disputou a classe Nacra 17em parceria com Samuel Albrecht nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, quando terminou em 10º lugar. Um ano antes, no Pan-Americano de Lima 2019, a dupla havia conquistado o bronze. No Mundial de Aarhus, na Dinamarca, ficou na quinta posição.
“Não necessariamente todos os produtos precisam ter uma transmissão ao vivo da competição inteira de todas as fases. E a a gama de formatos que o digital hoje nos permite pode gerar uma solução melhor para isso”, define.
“Uma transmissão de 2 horas pode virar um compacto de 20 minutos. Aquilo pode ser instant highlight. No YouTube ou no Instagram a sua audiência é corte”, comenta.

Multiview
Durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024, a CazéTV ofereceu o recurso multiview, que permitiu ao público acompanhar simultaneamente a transmissão de diferentes competições. A funcionalidade esteve disponível para desktop e TVs conectadas, ampliando a autonomia do espectador.
“Conseguimos hoje construir um espaço novo para esportes olímpicos, comparado ao futebol. Esportes, que não conseguiriam brigar com a grade linear do modelo antigo de televisão, mas que o digital permite diferentes formatos e estruturas para transmitir isso”, destaca Gabriela.
Ciclo olímpico
Após o sucesso das transmissões das Olimpíadas de Paris 2024, a CazéTV viu a necessidade de construir um projeto para manter o esporte olímpico em evidência por mais quatro anos, até Los Angeles 2028, evento que, aliás, ainda não assegurou os direitos de transmissão.
“A CazéTV se confrontou pela primeira vez com o ano do novo ciclo. O que a gente faz agora? Como é que damos continuidade a esse momento que criamos, a essa comunidade que abraçamos?”, conta Gabriela.
Nesse contexto, houve inclusive o investimento na transmissão de esportes de base, o que representou desafio adicional, por conta de haver ainda menos visibilidade e estrutura para essas modalidades.
“Acabamos de transmitir o Pan-Americano Junior e o Brasil teve resultados primorosos. Então, é complexo dizer que não investimos no esporte de base”, lembra a executiva, referindo-se à competição disputada em Assunção, no Paraguai, de 9 a 23 de agosto.
Na ocasião, o Brasil liderou o quadro geral de medalhas, com 70 ouros, à frente dos EUA, que ficaram em segundo lugar, com 54 comendas douradas.
“A nossa maior contribuição é conseguir encontrar essas janelas de oportunidade de visibilidade para incentivar cada vez mais [a construção de] uma nação esportiva”, afirma Gabriela.
“Isso não só vai aumentar o número de praticantes, mas vai criar mais consumidores de esportes. Porque, quem pratica esporte desde a infância, 1% vai chegar ao profissional. Mas todos vão seguir apaixonados por esportes a vida inteira”, acrescenta.