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Como ilustrações feitas por torcedores viraram ferramenta de cocriação para clubes?

Valorização das produções de fãs vem se tornando uma ferramenta estratégica para humanizar a comunicação e estreitar vínculos com a torcida

Perfil "Vascomics" passou a ter criações integradas à comunicação oficial do Vasco em 2025 - Reprodução / X (@vascomics)

Nos últimos meses, um tipo de colaboração vem ganhando espaço nas redes sociais do futebol brasileiro: clubes incorporando produções artísticas feitas por seus próprios torcedores. Um dos exemplos mais emblemáticos é o do perfil “Vascomics”, que desde 2024 publica ilustrações inspiradas no Vasco e que, em 2025, passou a ter suas criações integradas à comunicação oficial do clube: a cada vitória vascaína, uma ilustração exclusiva é feita pela página.

O ponto alto da parceria veio no final de semana passado, antes da partida contra o Vitória, válida pelo Brasileirão. O Vasco utilizou uma série de ilustrações do artista em praticamente todos os seus canais: nas redes sociais, as artes foram transformadas em “motions” para anunciar a escalação; nos vestiários, serviram como identificação visual das “baias” dos jogadores; no telão de São Januário, deram vida à formação do time; e até na revista impressa do dia do jogo, distribuída aos torcedores, que ganhou uma edição especial com temática infantil em homenagem ao Mês das Crianças.

Em um dos vídeos publicados, os próprios atletas reagiram às caricaturas, reforçando o caráter afetivo e comunitário da ação.

O movimento não é isolado. O Vitória, adversário do Vasco dentro de campo, já havia usado ilustrações de uma página dedicada ao clube em seu perfil oficial no X no começo do ano, além de outras páginas de torcedores de FlamengoPalmeirasSanta Cruz e Cruzeiro, que seguem na mesma linha, mostrando que a valorização das produções de fãs vem se tornando uma ferramenta estratégica para humanizar a comunicação e estreitar vínculos com a torcida.

Essas iniciativas ganharam força em um contexto em que a estética das ilustrações e dos quadrinhos se consolidou como linguagem dominante na cultura digital. O mercado global de “webcomics” foi avaliado em US$ 7,63 bilhões em 2024, com expectativa de crescimento anual de 6,89% até 2032. Veja aqui os dados.

Com ferramentas de criação mais acessíveis e o uso crescente da inteligência artificial (IA), o número de criadores cresce rapidamente, e os clubes encontraram, nesse universo “pop”, uma nova forma, emocional e autêntica, de se conectar com o público, muitas vezes a custo mínimo.

Mais do que a estética, vale destacar o processo de cocriação, em que os torcedores deixam de ser meros espectadores e passam a contribuir ativamente para a construção da marca. A partir do momento em que uma arte criada em casa passa a estampar o vestiário de um time ou uma revista oficial, o clube mostra que sua identidade é viva e colaborativa, apagando as linhas de quem é “de fora” e quem é “de dentro”.

Fora do esporte, há outros exemplos de cocriação, como a Natura, com o projeto Cocriando, que convida consumidores a participarem do desenvolvimento de novos produtos, e a Coca-Cola, que em uma campanha vencedora em Cannes, transformou versões não oficiais de seu logotipo (criadas por pequenos comerciantes ao redor do mundo) em peças oficiais da marca.

Ao reconhecer e amplificar o trabalho de criadores independentes, os clubes e as marcas abrem caminho para estratégias integradas de comunicação que redefinem o papel do torcedor/consumidor, tudo de forma natural e autêntica, com o intuito de aumentar a conexão entre o clube ou a marca e a comunidade.

O conteúdo desta publicação foi retirado da newsletter semanal Engrenagem da Máquina, da Máquina do Esporte, feita para profissionais do mercado, marcas e agências. Para receber mais análises deste tipo, além de casos do mercado, indicações de eventos, empregos e mais, inscreva-se gratuitamente por meio deste link. A Engrenagem conta com uma nova edição todas as quintas-feiras, às 9h09.