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Treinadores, saiam com o sofá da sala!

Comédia dos erros protagonizada por Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira ajuda a entender a transformação pela qual o mercado brasileiro passa

Oswaldo de Oliveira no 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, com Carlo Ancelotti e Emerson Leão ao fundo - Reprodução/YouTube/FBTF

Oswaldo de Oliveira no 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, com Carlo Ancelotti e Emerson Leão ao fundo - Reprodução / YouTube (@falatreinador)

Não foi antes, durante ou logo após os 7 a 1. Assim como não será agora, de uma hora para outra, que tudo mudará como em um passe de mágica. Mas é inegável que, na última década, iniciamos uma transformação no mercado do futebol brasileiro e que, pós-pandemia, isso tem se acelerado por uma série de motivos.

Por isso mesmo, o falatório protagonizado por Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira em um evento promovido pela Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF) com o apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na tarde desta terça-feira (4), ganhou a repercussão na medida certa.

Soou completamente descabido ambos, Leão e Oswaldo, vociferarem contra a presença de treinadores estrangeiros no Brasil.

Não apenas pelo fato de Carlo Ancelotti, italiano que é técnico da seleção brasileira, estar presente logo atrás deles no palco em que acontecia o evento. Mas por serem, tanto Leão quanto Oswaldo, treinadores consagrados no mercado estrangeiro no passado e que, definitivamente, ficaram para nossa história.

Os dois eram protagonistas como treinadores no futebol do Brasil no início do milênio. Oswaldo campeão do mundo com o Corinthians em 2000, Leão comandando o Santos de Robinho e Diego em 2002. Eram grandes nomes na época em que fomos, pela última vez, campeões mundiais. E, assim como parte do futebol canarinho, aparentemente ficaram parados no “tempo em que se amarrava cachorro com linguiça”.

Abençoado 7 a 1

Foi a partir dos 7 a 1 que começamos a nos incomodar em ver o porquê de estarmos cada vez mais para trás. E, apoiados por estádios mais modernos, aumento de arrecadação, mudanças na legislação e a busca pelo talento estrangeiro, começamos a ter, no Brasil, uma transformação fora e dentro de campo.

Mudança que foi acentuada a partir de Jorge Sampaoli no Santos em 2018/2019, escancarada por Jorge Jesus no Flamengo de 2019 e sacramentada pelo Palmeiras de Abel Ferreira desde 2020. Existe espaço para questionar a presença de treinadores estrangeiros por aqui?

Começamos a remodelar nosso futebol a partir da legião estrangeira que tem tomado conta das áreas técnicas e até mesmo de dentro de campo. Os treinadores brasileiros de mais sucesso hoje, como Filipe Luís, Rogério Ceni e Fernando Diniz, são aqueles influenciados por essa forma de trabalhar baseada não apenas na vivência de campo, mas no estudo tático.

O que mudou

O sarrafo subiu no futebol brasileiro. E isso elevou o patamar da própria indústria. Temos investido melhor na formação de talentos, temos nos preocupado em aumentar fontes de renda e também em discutir o papel de protagonista dos clubes na gestão e nas tomadas de decisões que antes só cabiam à CBF.

O jogo mudou. O mercado evoluiu – e muito – na última década. Tanto que o restante da América do Sul já não consegue acompanhar o futebol brasileiro. Aqui, temos mais dinheiro, mais talento, mais recursos para contar com os melhores. O protagonismo dos clubes de futebol da Europa é baseado exatamente no desejo de se reter os melhores talentos, independentemente de suas nacionalidades.

Aqui, caminhamos para ressignificar o futebol a partir disso. Não só dentro de campo, mas fora dele. O treinador estrangeiro exige estruturas mais profissionais de trabalho. Assim como fizeram os húngaros nas décadas de 1940 e 1950 por aqui, fazem agora portugueses, argentinos e um italiano.

Não adianta culpar a presença do treinador estrangeiro pela falta de espaço para o brasileiro por aqui. Leão, Oswaldo e diversos outros que vociferam contra alguém de fora, podem fazer o favor de sair com o sofá da sala. Levem-no para longe, mas aproveitem e fiquem sentados nele, bem acomodados.

Aliás, aproveitem e tirem uma soneca também.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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