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Internacional renova trabalho nas categorias de base para fazer frente ao avanço das SAFs

Em entrevista à Máquina do Esporte, diretor-geral da área no clube também comentou sobre a estratégia por trás da rede de Escolas do Inter

Diretores do Internacional ao lado dos representantes da Time Forte - Lucas Costa

“Celeiro de Ases” é o título de uma canção composta pelo músico carioca Nelson Silva, que se radicou em Porto Alegre (RS) nos anos 1940, época em que o Internacional montou um de seus maiores elencos da história, conhecido como “Rolo Compressor”.

A música foi adotada como hino oficial do clube, ao passo que a expressão passou a ser usada como metáfora para se referir às categorias de base do Colorado, que revelou, ao longo do anos, importantes nomes como Falcão, Carpegiani, Taffarel, Dunga, Mauro Galvão e Alisson.

Já faz décadas que o Brasil se consolidou como importante polo fornecedor de craques do futebol mundial, com as negociações de atletas representando uma expressiva fonte de receitas para os clubes.

Em tempos recentes, porém, as transferências de jogadores têm alcançado valores que antes pareciam inimagináveis, fazendo com que o peso relativo dessas negociações se torne cada vez maior nas finanças das equipes.

Segundo o Relatório Convocados/Outfield 2025, as receitas dos clubes da Série A do Brasileirão com transferências de atletas saltou de R$ 1,348 bilhão, em 2022, para R$ 2,328 bilhões, no ano passado.

No Fluminense, que faturou R$ 268 milhões com a venda de jogadores em 2024, essas negociações responderam por 39% das receitas anuais da equipe. No Palmeiras, as transferências injetaram R$ 504 milhões no caixa do clube, o equivalente a 45% de seu faturamento na temporada.

O Internacional também tem conseguido ampliar a renda proporcionada pelas categorias de base. Entre 2023 e 2024, as receitas do time com transferências de atletas passaram de R$ 62 milhões para R$ 172 milhões, de acordo com o Convocados.

Um dos fatores que ajudaram a turbinar o faturamento do clube na área foi a venda do meia Gabriel Carvalho para o Al-Qadsiah, da Saudi Pro League, em dezembro de 2024, pelo equivalente R$ 99,1 milhões, além de R$ 37 milhões em bônus.

O atleta, que completou 18 anos em agosto deste ano, foi liberado para o time saudita no mesmo mês, concretizando aquela que é considerada a segunda maior negociação da história colorada. Mas o Internacional tem planos de avançar ainda mais na formação de atletas.

Em entrevista concedida à Máquina do Esporte, o diretor-geral de categorias de base do clube, Luiz Caldas Milano Junior, comentou sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo clube na área e explicou a estratégia que existe por detrás do projeto Escolas do Inter.

Luiz Caldas Milano Junior é diretor-geral das categorias de base do Internacional – Lucas Costa

Mudanças no mercado após chegada das SAFs

Milano considera que o trabalho de formação de atletas tem passado por uma grande transformação no Brasil, nos últimos anos.

“O mercado se renovou por completo, com a entrada das SAFs [Sociedades Anônimas do Futebol]. As bases dos clubes estão cada vez mais valorizadas”, avalia.

De acordo com o dirigente, a chegada de grandes grupos de investidores traz desafios para que as equipes tradicionais consigam atrair e reter novos talentos.

Ele citou dois casos emblemáticos, que ilustram a nova realidade do mercado da base no país. Um deles consiste na movimentação do City Football Group para contratar o atacante Kauê Furquim, de 16 anos, que atuava no Corinthians.

O grupo multiclubes investiu R$ 14 milhões no pagamento da multa para contratar a jovem promessa, que agora integra o elenco do Bahia.

A outro negociação do Tricolor de Aço, que deu o que falar, envolve Dieguinho, de apenas 14 anos, que jogava pelo Sfera, de Salto (SP), e acaba de ser contratado pelo City Football Group por cerca de € 1 milhão.

Segundo Milano, o Internacional tem observado atentamente essa movimentação do mercado, procurando se adaptar aos novos tempos.

“Hoje, muito tem sido falado sobre fair play financeiro. É importante que essa discussão alcance também as categorias de base. Além disso, os clubes não podem acelerar processos, colocando o carro na frente dos dois, como costumamos dizer por aqui. Não podemos jamais esquecer de que lidamos com meninos”, afirma.

Escola do Inter

No fim de outubro, o clube lançou o projeto Escola do Inter, cujo objetivo central não é necessariamente formar novos talentos.

De acordo com Milano, os pilares da iniciativa consistem em fortalecer a marca do Internacional ao redor do país, além de atrair novas receitas para o clube.

“Hoje, o Internacional conta com cerca de 500 consulados espalhados pelo Brasil. A ideia é reforçar essa capilaridade com as Escolas, permitindo a criação de uma nova ‘fanbase’ para o clube”, explica.

A meta da diretoria é alcançar um total de 120 escolas e 16 mil alunos, no prazo de cinco anos. “Hoje, já temos entre 40 e 50 interessados em aderir ao projeto”, afirma Milano.

As Escolas do Inter funcionarão a partir de um modelo de licenciamento, em um projeto que conta com a participação da gestora Time Forte.

“A ideia passou um ano sendo discutida internamente. O projeto é um fruto de uma decisão muito madura”, diz Milano.

As unidades irão obter receitas com a cobrança de mensalidade dos alunos. Segundo o dirigente, o acordo de licenciamento prevê que 10% das vagas deverão ser reservadas a crianças e adolescentes de baixa renda.

“Essa regra tem a ver com nossas raízes populares e com aquilo em que o clube acredita”, declara Milano.