A Premier League, principal divisão do futebol profissional masculino da Inglaterra, passará a contar com novas regras financeiras a partir da temporada 2026/2027.
O objetivo inicial da liga era introduzir uma norma rígida de teto salarial, mas a ideia foi rejeitada por pelo menos 12 dos 20 clubes que disputam a competição.
Hoje, a Premier League é reconhecida como o mais rico e badalado campeonato nacional de futebol do mundo.
Abastecida por investimentos de imensos conglomerados financeiros não apenas do Reino Unido, como também de países como Estados Unidos, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, a liga consegue atrair grandes ídolos do futebol mundial, graças também aos salários astronômicos pagos pelos principais clubes ingleses.
Na mais recente lista dos jogadores de futebol mais ricos do mundo, da Forbes, dois atletas da Premier League – Erling Haaland, do Manchester City, e Mohamed Salah, do Liverpool – aparecem no top 10.
Poder oferecer salários elevados representa, portanto, um diferencial para os grandes clubes ingleses, especialmente no cenário continental, em que eles precisam se digladiar com potências estrangeiras na Champions League, como a dupla espanhola Real Madrid e Barcelona ou equipes bem-estruturadas financeiramente como PSG e Bayern de Munique.
Com as mudanças aprovadas pelos clubes da Premier League, o atual modelo de Regras de Lucro e Sustentabilidade (PSR) será substituído pelo sistema de Razão de Custo de Elenco (SCR).
O novo formato financeiro contava com três eixos principais: o Índice de Custos de Elenco, a Proposta de Sustentabilidade e Resiliência Sistemática (SSR) e a regra de Ancoragem de Cima para Baixo (TBA), considerada o mais polêmico dos itens analisados na última sexta-feira (21).
O TBA, que representa a sigla em inglês de Top-to-Bottom Anchoring, procurava limitar a quantia que os clubes ingleses podem gastar com elenco.
Se a ideia tivesse sido aprovada, esse investimento poderia chegar a no máximo cinco vezes o valor que uma equipe “mais pobre” recebe da Premier League pelos direitos de transmissão e prêmios em dinheiro.
Na prática, a regra daria fim a uma fórmula que tem garantido a hegemonia de alguns clubes na competição, caso do Manchester City, turbinado pelos investimentos do City Football Group.
Como ficam as regras salariais na Premier League
Ao todo, o TBA foi rejeitado por 12 clubes, enquanto sete se posicionaram a favor da regra. Um time optou por se abster na votação.
A proposta enfrentava resistência entre os atletas. Antes da votação ocorrer, a entidade sindical Professional Footballers’ Association (PFA) e algumas das maiores agências de jogadores do Reino Unido anunciaram que tomariam medidas judiciais contra a medida, entendida como um teto salarial.
Em 2021, vale lembrar, a Justiça do Reino Unido havia barrado uma tentativa semelhante da English Football League (EFL), de implantar teto salarial nas Leagues One e Two, respectivamente a terceira e quarta divisão da Inglaterra e que têm atraído fortes investimentos estrangeiros, em tempos recentes.
Apesar da rejeição ao TBA, os clubes aprovaram um limite (ainda que flexível) de gastos com elenco, que é o SCR.
A diferença básica do novo modelo é que ele levará em conta os custos dos clubes dentro de campo. O atual sistema, conhecido como PSR, considera as receitas e custos totais da equipe, o que acaba por reduzir a margem para investimentos.
No SCR, os clubes Premier League estarão livres para gastar até 85% de suas receitas com elenco, incluindo salários dos jogadores, transferências amortizadas e taxas de agentes.
Além disso, a norma prevê um limite verde, que é quando o time fica dentro do percentual de 85%, e outro vermelho, que permite à equipe ultrapassar o teto em até 30%.
Quando isso acontecer, o clube não mais receberá punições esportivas no campeonato, mas sim uma multa em dinheiro.
As sanções esportivas (com perda inicial de seis pontos na tabela) só ocorrerão quando o time romper o limite vermelho.
Além disso, a equipe sofrerá redução de um ponto para cada £ 6,5 milhões gastos para além do limite vermelho.
Hoje, não se pode esquecer, os maiores clubes da Inglaterra já estão sujeitos a uma regra salarial mais rígida imposta pela União das Associações Europeias de Futebol (Uefa), em competições como Champions League.
As normas da entidade continental limitam os gastos em elenco a 70% das receitas totais dos clubes.
Na votação ocorrida na semana passada, os clubes da Premier League aprovaram também, por unanimidade, novas regras de Sustentabilidade e Resiliência Sistêmica (SSR), que buscam garantir o monitoramento da saúde financeira dos times da liga.
As normas determinam que as equipes irão passar por por três avaliações específicas: Teste de Capital de Giro (em que o clube deve demonstrar que, para cada mês civil ao longo de uma temporada, a soma de seus saldos de caixa projetados e fundos de capital de giro qualificados é de pelo menos £ 12,5 milhões), o Teste de Liquidez (feito ao longo de duas temporadas) e o Teste de Patrimônio Positivo (que leva em conta os balanços patrimoniais dos clubes, de modo a garantir que tenham alavancagem suficiente para gerenciar fatores macroeconômicos).
