Quando a Fortaleza Leoz caiu na Conmebol, parecia que a entidade sul-americana conseguiria, finalmente, sair do sarcófago em que ficou enclausurada por quase três décadas. O começo foi, de fato, promissor. O fim de alguns contratos um tanto quanto obscuros, a mudança de dirigentes, novos projetos para a Libertadores, com o objetivo de transformá-la, de fato, num produto.
Mas a sucessão de erros no caso Santos-Sánchez é uma mostra de que ainda há um tremendo abismo para ser superado pela Conmebol para conseguir ser uma entidade minimamente respeitável, especialmente para o mercado investidor.
Sánchez não tinha condições de jogo, mas o sistema da própria entidade não era capaz de mostrar isso. Depois, o julgamento do Santos foi marcado para a véspera da partida decisiva. A demora em se chegar a uma conclusão adiou para o dia da partida o anúncio do veredicto. No final, o clube foi punido, mas o atleta acabou liberado para jogar. Uma confusão legal que tirou o foco do esporte para levá-lo ao tribunal.
Insegurança jurídica é um elemento que afasta investidores de qualquer lugar. No esporte, quando aquilo que acontece em campo fica em segundo plano, geralmente é o instante em que desaparecem anunciantes e cai o interesse do torcedor.
Não se faz, aqui, qualquer alusão à decisão jurídica tomada no caso. De fato, há um aspecto legal que precisa ser respeitado. Falhou o sistema de registro de atletas da Conmebol, falhou o Santos de escalar o jogador irregularmente, faltou ética ao time argentino em recorrer ao tribunal para ter a classificação facilitada.
E são esses os elementos que mais precisam ser melhorados no futebol sul-americano. Não basta só copiar a final em jogo único da Europa, ou repassar a uma agência séria a comercialização dos direitos de mídia e de publicidade da competição. Para ter um produto bom, é preciso investir em qualificação profissional. Não só de quem entra dentro de campo, mas de quem dá a condição para o atleta jogar.
Além de todas as falhas prévias, por que a Conmebol demorou tanto para tomar uma decisão? O quanto essa demora não interferiu no ânimo do torcedor santista? O quanto todas essas sucessões de falhas não fizeram cair a qualidade do produto?
É exatamente contra a depreciação daquilo que tem de melhor que o futebol sul-americano precisa trabalhar. De nada adianta cair o mundo corrupto de Nicolás Leoz se, quem está no comando, não tiver competência para gerir a Conmebol.