É um alento ver o esforço que Corinthians e agência F/Nazca estão fazendo para resgatar o fiel torcedor do clube. Tudo bem que a época de lançamento da campanha e o modelo de condução dela mostram que essa é a típica ação em que a agência de publicidade usa o poder do futebol para ganhar um leão em Cannes, mas se o projeto for bem conduzido pelo clube, pela primeira vez em anos voltaremos a ter uma campanha feita para o torcedor em geral de um clube.
O sucesso comercial do sócio-torcedor levou o futebol a ignorar a força em massa da torcida. Em vez de focar no todo e diversificar as ações, os clubes têm fechado o raio de ação a quem paga para torcer. Isso, aos poucos, faz com que a relação apaixonada torcedor-clube seja mercantilizada. É um complicado caminho para o futuro.
O futebol, hoje, transformou em obrigação o ato de torcer. Não basta gostar do time. É preciso ser sócio. É preciso pagar caro para ajudar o clube a ter jogador. É preciso dar dinheiro para o clube, e não apenas reclamar. É obrigação gastar.
Quando vemos a sucessão de fracassos na gestão do uso do Maracanã por Fluminense e Vasco, em conjunto com a Federação de Futebol do Rio e, logicamente, os órgãos públicos, desnudamos uma triste realidade do nosso futebol. O torcedor deixou de ser a essência do esporte para se transformar num estorvo que insiste em prejudicar o “espetáculo”.
Enquanto houver uma relação mercantil entre torcida e clube, não vamos evoluir. Quando lançou em 2010 o conceito de que corintiano vive de Corinthians, e não de títulos, a diretoria alvinegra foi alvo de chacota. A ação, porém, é daquelas de rara combinação de simplicidade com genialidade. O torcedor não precisa de títulos, de times brilhantes, de jogadores espetaculares. Ele precisa apenas ter acesso à paixão.
O relançamento do conceito de que corintiano é “maloqueiro e sofredor” reforça o elemento básico que une o torcedor ao clube: uma paixão religiosa por ele. O Corinthians não pede ao torcedor para ir ao estádio, para ajudar a pagar a cara Arena, para dar dinheiro e contratar jogador. Ele resgata o essencial. O corintianismo.
O futebol precisa mudar a visão que tem sobre o torcedor. Quando dirigentes reclamam que a torcida exige deles bons times, é sinal de que alguma coisa está errada. E não é só dentro de campo.
Quanto mais o dinheiro deixar o torcedor distante de sua paixão, mais exigente se tornará a relação. O futebol é amor. E amor não precisa de dinheiro para ser feliz. Mas, se o futebol resgatar o amor, o dinheiro fatalmente virá.