A transformação da LaLiga num produto bilionário, que repassa aos clubes um volume cada vez maior de dinheiro, é o melhor exemplo que o futebol brasileiro pode seguir para sair do buraco em que se encontra.
Há cinco anos, os espanhóis tinham pela frente um grande desafio: tentar fazer do seu campeonato um produto interessante para o torcedor do próprio país. Àquela época, Real Madrid e Barcelona tinham nada menos que 75% da verba de TV. Os demais clubes, sem fonte de receita e com pressão por resultados, viviam com problemas financeiros. Assim, atletas, mídia e torcedores faziam a realidade do futebol na Espanha ser muito diferente daquela vivenciada pelos dois colossos da Europa.
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O primeiro passo tomado pela LaLiga para mudar esse cenário foi acabar com a disparidade na venda de direitos de transmissão, que sempre foi e sempre será a maior fonte de receita de qualquer competição.
Em 2015, após enorme pressão dos clubes, finalmente adotou-se a negociação coletiva pelos direitos de mídia. Além disso, a divisão da verba passou a ser muito mais justa: 50% é repartido igualmente entre os clubes, enquanto 25% é distribuído conforme a posição do time no campeonato. O mais legal, porém, é como a LaLiga encontrou um caminho para melhorar a percepção de qualidade do seu produto a partir da divisão dos 25% restantes. A entidade criou uma série de critérios que precisam ser seguidos pelos clubes para receber a verba. Entre eles estão a qualidade do gramado, a presença de torcida no estádio, o preenchimento total do espaço da arquibancada no ângulo captado pela TV, etc. Essa mudança obriga os clubes a trabalharem para melhorar o produto, pois só assim poderão ter acesso aos € 500 milhões que fazem parte dessa fatia do bolo da TV.
Outra decisão importante tomada pela LaLiga foi obrigar os clubes a apresentarem garantias orçamentárias de que poderão investir na contratação de jogadores e na manutenção de elencos. A medida foi tomada para impedir que os times “quebrassem” no meio do campeonato e, assim, o atraso no pagamento de salários passasse a interferir diretamente no andamento dos clubes dentro da competição.
Hoje, a LaLiga disputa o posto de segunda liga de futebol que mais fatura no mundo com a Bundesliga. Em breve, deverá rivalizar com a Premier League como a maior do planeta.
Há cinco anos, a realidade espanhola era muito mais próxima da do Brasil atual. Até quando vamos nos permitir viver na mediocridade?