É inacreditável a decisão do número de jogos transmitidos ao vivo por uma competição ser tomada pela TV que exibe o torneio e não pelos donos do campeonato. Mas essa é a realidade que permeia o futebol nacional e que ajuda a explicar por que ficamos cada vez mais para trás da concorrência internacional.
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Não serve para o futebol o exemplo dado pelo basquete, que depois que assumiu a gestão do próprio conteúdo passou a ter muito mais força comercial para o NBB. Ou o judô, que levou a um outro patamar a geração de receitas da CBJ ao apostar na produção de diversos desafios internacionais em que a mídia é o organizador do evento.
Isso para ficar em dois exemplos nacionais de fortalecimento do esporte a partir do momento em que ele é quem toma conta da situação. O caso da transmissão do futebol pela Globo é só um dos problemas históricos e histéricos do nosso futebol.
Não adianta “culpar” a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) por fazer o Brasileirão 2020 não parar durante a Copa América. Ou marcar final de campeonato para a semana que o Brasil também joga pelas Eliminatórias da Copa.
A lambança do calendário é o reflexo da transferência de responsabilidade que estamos acostumados a ter no Brasil. Somos o país da culpa. Quando achamos um culpado, acreditamos que o problema que ele teoricamente causou foi resolvido. E é exatamente esse jogo que interfere diretamente no negócio do futebol nacional. O clube transfere para a CBF a responsabilidade de organizar o calendário. E também dá à Globo o poder de escolher quais jogos a emissora transmite, olhando o que é melhor para ela, naturalmente.
E, aí, a culpa pelas mazelas do esporte estão na entidade e na emissora, como se elas fossem as responsáveis por tomar as decisões que competem a quem joga.
A Globo decidir reduzir a quantidade de jogos na TV aberta é algo que beneficia diretamente a emissora. Mas e a competição? E os clubes? Eles teriam o direito de obrigar a emissora a mostrar todas as partidas. Mas só conseguiriam isso se não tivessem dado a ela plenos poderes para decidir o que fazer com o produto que é do clube.
O entendimento da situação é simples. É só ver como a Libertadores de 2019 já se transformou num produto melhor depois que a Conmebol passou a produzir o conteúdo dos jogos e não mais aceitar o que a TV decidia ser melhor para ela.
Enquanto os clubes delegarem aos outros o poder de decidir aquilo que compete só a eles, o futebol brasileiro continuará estagnado no semiprofissionalismo.