Segundo estudo da Associação pela Indústria e Comércio Esportivo (Ápice), o segmento esportivo perdeu R$ 9 bilhões no Brasil em 2021 por causa da pirataria. Com esse montante, deixou-se de arrecadar R$ 2 bilhões em impostos. Os números foram apresentados na última reunião do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), órgão ligado ao Ministério da Justiça.
“Essa pirataria de material esportivo acaba também prejudicando a saúde e a segurança dos consumidores quando falamos de artigos para prática de esportes. Então, há a preocupação com a perda financeira que isso representa, mas também envolve a segurança dos consumidores”, afirmou o advogado Marcio Gonçalves, especialista em combate à pirataria, em entrevista à Máquina do Esporte.
De acordo com a Ápice, parte do montante gasto com produtos piratas vai para a compra de camisas de times de futebol, o que é feito por 40 milhões de brasileiros ao longo do ano. Esse público já comprou, ao menos uma vez, produtos oficiais. Já 13,6 milhões de brasileiros adquirem apenas equipamentos originais.
Para Gonçalves, os clubes pouco fazem para atrair o consumidor que procura produtos falsificados por falta de condição financeira. Na Europa, é comum os times de futebol lançarem camisas de torcedor, com menos tecnologia do que o material de jogo, mas com preços mais baixos, atraindo esse público com menor renda. No Brasil, segundo o advogado, quase não há esse tipo de ação.
“Vemos medidas pontuais, adotadas por algumas entidades, de combater a pirataria de camisa criando uma linha de produtos com preços mais populares. Então, você tem a camisa oficial com custo mais alto. E existe outra camisa, que também é oficial, mas não possui os mesmos materiais que os atletas usam em jogos e treinos. Têm preços mais adequados à realidade do consumo do brasileiro”, apontou o advogado, que é presidente do Instituto do Capital Intelectual e diretor da Associação Brasileira de Licenciamento de Marcas e Personagens (ABRAL).
“Acredito que medidas econômicas da criação de produtos com preços mais acessíveis ajudam de fato a deixar o consumidor longe da pirataria”, completou.
Recentemente, o Paysandu realizou uma ação bem-sucedida de combate à pirataria. No mês passado, o clube lançou a campanha “Tira pirata, veste Lobo”, em referência à marca própria do time paraense. Foram comercializadas peças oficiais, da coleção do ano passado, incluindo camisas de jogo, ao preço fixo de R$ 50.
Em 2019, o Fortaleza lançou camisas mais baratas, ao preço de R$ 59,90, para tentar frear a pirataria. Sócios-torcedores do clube tinham 10% de desconto. Quem apresentasse uma camisa pirata na loja do clube também tinha R$ 10 de desconto na aquisição do modelo oficial. Para Gonçalves, essas iniciativas não fazem parte de uma política organizada entre os clubes. Dessa forma, seu sucesso é temporário.
“O que falta, na verdade, é o produto oficial ter um preço mais adequado à realidade brasileira. Acho que essa é uma das grandes carências. Esse trabalho é feito de maneira muito pontual e isolada pelos clubes. Os clubes se reúnem para tratar de assuntos importantes, mas não discutem um trabalho conjunto focado no combate à pirataria”, concluiu o advogado.