Toda semana costumo publicar um artigo no LinkedIn a respeito da relação entre o torcedor de um clube e as oportunidades de consumo existentes, muitas vezes não exploradas. E quem trabalha com isso, sabe: não é uma tarefa fácil! Além da oscilação de humor da torcida entre amor e ódio por conta da performance esportiva do time, há também outros fatores externos no meio do caminho, a maioria deles surgindo após a internet e o desenvolvimento tecnológico dos jogos virtuais. Sim, estou falando dos videogames, hobbie potencializado durante a pandemia.
Segundo a pesquisa Generation Report, realizada pela NewZoo, o videogame já é o passatempo favorito entre as gerações Z e Millennials no mundo. No caso do Brasil, 64% dos usuários passam, em média, mais de duas horas jogando durante a quarentena. E não é só isso: muitos começaram também a assistir a conteúdo relacionado ao tema e-Sports. E os esportes tradicionais, como ficam?
Nos Estados Unidos, o novo hábito gerou um insight. Muitas crianças, amantes tanto de modalidades presenciais quanto dos e-Sports, viram-se obrigadas a mergulhar nas telas por conta do distanciamento social. Esse novo movimento, no entanto, pode implicar na maneira como elas se relacionarão com os esportes tradicionais quando o contato físico for liberado totalmente.
Grande parte delas já confessa preferir continuar no mundo virtual. Por quê? Segundo elas mesmas, é mais legal, não exige uma rotina maçante de treinos, não há perigo de se machucar e zero chance de relacionamento com técnicos estressados. Até os pais estão gostando da ideia, pois não gastam horas e dinheiro naquele leva e traz entre um treino/jogo e outro. De fato, parece que a pandemia apenas potencializou o que já estava fadado a acontecer.
De acordo com a Sports & Fitness Industry Association, antes da Covid-19 (2018), apenas 38% dos jovens americanos praticavam esportes regularmente, frente a 45% em 2008.
Outra pesquisa, a Aspen Institute’s Sports and Society Program, apontou que, em junho de 2020, 19% dos pais afirmaram que seus filhos não tinham interesse algum em jogar qualquer modalidade. Em setembro do mesmo ano, o número saltou para 28%. Em média, crianças treinam menos de três anos e desistem de participar de algum time antes dos 11 anos de idade.
Alguns profissionais do esporte estão tentando fazer de tudo para os jovens não perderem o interesse. Em 2018, um técnico de lacrosse em New Jersey baseou suas palestras no Fortnite, um jogo de batalhas no videogame. Mas será o discurso suficiente para manter essas crianças engajadas no futuro, acompanhando partidas e consumindo produtos e serviços relacionados aos seus clubes de coração? Esse é o grande desafio, não só das ligas americanas, como de qualquer campeonato de qualquer esporte no mundo todo.
No caso do Brasil, muitos clubes de futebol iniciaram equipes de e-Sports, creio eu que para começar essa transição do físico para o virtual e, por que não, vice-versa. O importante é manter o fã engajado e identificando-se com parte dessa comunidade de torcedores, seja ele jogador de e-Sports ou membro de uma torcida organizada. Se não pode vencê-los, junte-se a eles!
A pandemia, de forma geral, mudou a forma como enxergamos o mundo. Começamos novos hábitos, abandonamos outros. E as empresas que souberam aproveitar, ou até mesmo antecipar, essa nova onda se darão bem.
Lembre-se: essas crianças um dia irão crescer, arrumar um emprego e tornar-se consumidores. Se vão comprar somente produtos de e-Sports ou de times de futebol também, fica lançado o desafio.
Até a próxima!
Reginaldo Diniz é fundador e co-CEO do Grupo End to End e escreve mensalmente na Máquina do Esporte