Na coluna deste mês, vamos falar um pouco sobre a cultura de inovação do esporte brasileiro. Ou melhor, a falta dela nos clubes e, por que não, nos atletas. Comecei a pensar nesta coluna quando vi o recorde da live do Casimiro comentando sobre o primeiro episódio da série do Neymar. Confesso que não assisti ainda. Mas fiquei tentando traçar um paralelo entre o comportamento dos jogadores brasileiros e o da artista Anitta.
E, antes de atirar pedra, deixe-me explicar: não vou discutir aqui gosto musical, mas, sim, comportamento e questões de personalidade. Anitta não é o que é por mero acaso. Cada passo que a artista dá é calculado por ela, e por quem lhe auxilia, com extrema profundidade. Seja na música, nos clipes ou nas falas em redes sociais.
Comecemos pela série. A cantora lançou sua série em 2020, bem antes de muitos clubes e atletas pensarem em lançar as suas. Além disso, a artista também se destaca nas redes sociais por se posicionar em quase todas as situações.
A menina não tem medo de falar. Se a maioria dos nossos atletas não se posicionam em nada, ou quase nada, Anitta se posiciona em tudo, ou quase tudo. Não à toa, a artista já foi pauta do The New York Times para falar do Bolsonaro, e lançou seu último álbum no The Tonight Show, popular talkshow da rede americana de TV NBC apresentado por Jimmy Fallon.
E os atletas brasileiros?
Nossos atletas preferem evitar polêmicas. São poucos os que se comprometem ou estão dispostos a ser mais críticos em determinadas situações.
Um outro exemplo de preparo que acho interessante é a última música que Anitta acaba de lançar. O clipe “Boys Don‘t Cry” já estreou com números impressionantes. Em 24 horas, foram 3 milhões de views no YouTube. No Spotify, estreou na posição 53 (global) e virou trending topics no Twitter mundial por causa da comparação dos fãs do The Cure, já que “Boys Don‘t Cry” (que não tem nada a ver com a original) é o título de maior sucesso da banda inglesa (ou um dos).
Mas a singularidade dessa música está na fonte que Anitta foi buscar para compor. Ela sabe muito bem aonde quer chegar, diferentemente da maioria dos atletas brasileiros. Para isso, foi beber na fonte que domina o pop mundial há décadas. A escola sueca de criar hits chicletes.
Qual clube ou jogador brasileiro tem um preparo como ela para se abrir para o mundo? Ainda mais em um momento em que tantos clubes dizem querer se tornarem mundiais?
Mais do que uma artista brasileira, Anitta vem se preparando para ser uma artista mundial. Não discuto talento, gosto musical ou qualquer outra coisa. Mas a performance dela e seu faro para estar no lugar certo e na hora certa é algo que merece palmas. Coisa que falta também para a grande maioria dos nossos atletas.
Os atletas brasileiros, em boa parte, gerenciam sua carreira como nossos times são gerenciados. Muito mal. São poucos os que pensam onde querem estar daqui alguns anos, o que querem fazer depois que pendurarem as chuteiras, ou mesmo que exemplo querem dar por serem pessoas que influenciam outras pessoas.
E esse é um ponto que Anitta mais uma vez se destaca.
Talvez se tivéssemos algumas Anittas no esporte brasileiro, poderíamos estar em outro patamar.
Fernando Fleury é fundador da Armatore Market + Science e escreve mensalmente na Máquina do Esporte. Para interagir com o autor: @fleurysportmkt