Há quatro anos, o administrador de empresas José Francisco de Souza, criador da Tele-Sena, se encontrou ocasionalmente com um dirigente do Flamengo. Na conversa, o diretor do clube carioca lançou um desafio: seria possível a criação de um título de capitalização que beneficiasse o time?
Desde então, o administrador passou a trabalhar em cima dessa idéia e, no começo de março, será lançado o Lig Gol, um título de capitalização que tem previsão inicial de dividir entre os clubes participantes um montante de R$ 140 milhões.
Além do Flamengo, clube “responsável” pela criação, também farão parte do projeto Corinthians, São Paulo, Santos, Atlético-MG, Internacional-RS, Juventude, Paraná, Coritiba, Atlético-PR, Bahia, Vitória, Sport, Náutico e Santa Cruz. Palmeiras, Fluminense, Guarani e Ponte Preta também negociam para participar do projeto.
Por meio de uma parceria com a Rede Record, o título de capitalização dos clubes será vendido pelo telefone 0900 e distribuirá em prêmios aos torcedores cerca de R$ 1,5 milhão todo mês. Os sorteios acontecerão sempre aos domingos, no programa “Terceiro Tempo”, comandado por Milton Neves.
Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte, o idealizador do projeto, José Francisco de Souza, conta detalhes do projeto pioneiro no futebol, explica os planos de divulgação e arrecadação e afirma: “os clubes que apostarem no projeto poderão ter, no Lig Gol, sua terceira maior fonte de arrecadação”.
Leia a seguir a entrevista completa:
Máquina do Esporte: Qual a previsão inicial de arrecadação do Lig Gol? Ela foi baseada em alguma pesquisa?
José Francisco de Souza: Inicialmente, para traçarmos o quanto poderíamos arrecadar, começamos a trabalhar com o volume das torcidas. Mas verificamos que o nosso funil não era a torcida. Como vamos trabalhar com a telefonia fixa, nos passamos a estudar os números de telefones fixos residenciais instalados no Brasil. Nós apuramos um número de 23 milhões de telefones residenciais no país. E dentro desse número, pretendemos atingir pelo menos 10%, mais ou menos 2 milhões de telefones, sendo que cada um deles possam vir a ser efetuadas três ligações por mês. Com essa equação, chegaríamos R$ 24 milhões mês, ou um montante total de R$ 280 milhões em um ano.
ME: O Lig Gol custará R$ 3,90. Como vocês chegaram a este valor?
JS: O ideal e planejado por nós era um título com o valor de R$ 3. Mas como os custos de telefonia aumentaram, tivemos que ajustar para R$ 3,90. Mas apesar desse reajuste, nós não temos a intenção de aumentar ainda mais o valor ou atrelar a qualquer aumento da telefonia.
ME: Como será feito o rateio dos clubes?
JS: O torcedor compra um título cujo resgate será a metade desse valor, e que ele estará doando ao clube que gosta. Cada clube receberá o valor proporcional ao número de ligações que receber. Além disso, o comprador concorre a prêmios, que representa 18% da verba total. Os outros 32% serão para despesas administrativas.
ME: A Máquina do Esporte apurou que os clubes não receberão exatamente metade do que for arrecadado …
JS: Isso é verdade. O clube recebe metade do que for arrecadado, pois esse é o valor do resgate. Porém, ele também terá que arcar com os valores da mídia. Por isso, os clubes receberão 35% do valor líquido, ficando os outros 15% para a Record, que fará toda a divulgação do projeto.
ME: Os clubes receberão suas partes mensalmente?
JS: Não. Existe uma defasagem de três meses entre a venda do título, o pagamento da conta de telefone, o processamento por parte da Sul América e o pagamento para os clubes.
ME: Algum órgão ficará responsável pela auditoria do Lig Gol?
JS: A Sul América está contratando uma auditoria internacional, mas não podemos citar ainda o nomes pois estamos escolhendo entre duas. As empresas que estão na disputa são a Delloite Touch e a Price Waterhouse. Eu acredito que até o final de fevereiro isso esteja decidido. Além disso, a Superintendência de Seguros Privados (Susep), que é quem aprova o Lig Gol e é ligado ao Ministério da Fazenda, também fará um controle.
ME: Como será feita a divulgação do projeto?
JS: Nós faremos uma divulgação nacional para Corinthians, Flamengo e São Paulo, por conta do tamanho das torcidas. Os outros clubes serão divulgados em campanhas regionais, nos estados de cada um. Porém, ocasionalmente poderemos vazar a divulgação de determinado clube para sentir a força de determinada torcida em outras regiões. Se a venda do Lig Gol corresponder as expectativas, esse clube também poderá ser inserido no grupo dos que possuem uma divulgação nacional.
ME: A divulgação do Lig Gol usará os jogadores como garotos-propaganda?
JS: Isso depende de cada clube que participará. Nós começaremos a divulgação com um filme explicando o projeto. Depois, nós iremos focar em cada time. Daí, caso algum clube queira inserir um jogador para anunciar o seu Lig Gol, ele poderá. Nós damos total liberdade para os clubes criarem em cima dos comerciais. Eles entram com a matéria-prima e nós produzimos o filme e veiculamos. Claro que seria muito mais interessante se todos usassem atletas, pois iria abrilhantar o projeto e criar um apelo muito maior junto ao público, o que aumentaria o faturamento do clube. Mas isso fica a cargo de cada um.
ME: Os clubes estão profissionalmente preparados para o projeto?
JS: Eles não estão preparados. Mas vamos dar oportunidade para que eles se prepararem. Alguns vão querer investir mais no projeto, outros não. Pelo que conheço do São Paulo, por exemplo, ele vai utilizar o máximo possível para alavancar o seu Lig Gol [O diretor de marketing do São Paulo, Julio Casares, é também diretor de novos negócios da Record, parceira do projeto]. Outros clubes como o Flamengo, alguns do Paraná, eu também sei que vão investir muito no Lig Gol.
ME: O que impede de um clube querer investir alto no Lig Gol?
JS: O problema é que o Lig Gol é um projeto pioneiro, não existe nenhum título de capitalização nestes moldes em nenhum lugar do mundo. Por isso, os departamentos de marketing ainda não sabem como lidar com ele. Eles estão mais preocupados em contratos de licenciamento, por exemplo, e não em mídia eletrônica. Porém, essa mídia passará a ser um grande negócio para o futebol. Os clubes que apostarem no projeto poderão ter, no Lig Gol, sua terceira maior fonte de arrecadação.
ME: Quais são os planos para o futuro do Lig Gol?
JS: O nosso maior projeto para o futuro é expandir o Lig Gol também para a telefonia móvel. Um levantamento feito por nós apontou que o Brasil tem hoje cerca de 75 milhões de telefones celulares. Imagine só como poderíamos aumentar o faturamento contando com uma base de quase 100 milhões de telefones.